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Diário da Amazônia

5 livros clássicos brasileiros para comprar na Black Friday

De Machado de Assis a Clarice Lispector, obras ajudaram a contar ao próprio Brasil como ele realmente é

Por Assessoria
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Publicado: 08/11/2017 às 06h30min | Atualizado 08/11/2017 às 16h45min

Na penúltima semana de novembro, acontecerá a oitava edição da Black Friday brasileira, a data em que o comércio oferece descontos em diversos produtos, como eletrodomésticos, eletroeletrônicos, celulares e livros. Estes últimos, aliás, esperam repetir o sucesso do ano passando, quando os descontos chegaram a 22% e o faturamento das livrarias cresceu 65%, segundo dados da consultoria de mercado Nielsen.

Em 2016, os principais sucessos entre os livros da Black Friday foram as edições de Harry Potter, da escritora britânica J. K Rowling, e Depois de Você, da também britânica Jojo Moyes. Ainda de acordo com os números da Nielsen, 39% de tudo o que foi vendido na data no ano passado era do gênero de ficção.

Neste ano, a expectativa é que os descontos sejam ainda maiores e que, da mesma forma, as vendas aumentem ainda mais. O Google divulgou recentemente um estudo em que prevê a expansão de 20% no consumo. Por isso, o Diário da Amazônia preparou uma lista com cinco livros clássicos de autores brasileiros que você pode aproveitar os descontos para comprar – e ler.

Dom Casmurro – Machado de Assis

Um dos principais clássicos da literatura brasileira, se não o maior, Dom Casmurro foi publicado em 1900 pela extinta editora Garnier, do Rio de Janeiro. Faz parte da chamada “trilogia realista” de Machado de Assis, que inclui também Memórias Póstumas de Brás Cubas, de 1881, e Quincas Borba, de 1891. É nele que estão dois personagens icônicos da literatura nacional e que já foram representados em peças de teatro, filmes e telenovelas: Bentinho e Capitu, por quem ele é apaixonado e descreve durante todo o livro, enquanto vão passando personagens e, claro, a própria vida.

Recentemente, o site Homo Literatus, especializado em livros, publicou um artigo mostrando como, em um momento de crise como o brasileiro, o livro de Machado pode ajudar a entender algumas coisas, como a nossa idealização cega ao passado e a mania de criticar os outros sem olhar os próprios erros.

Para além disso, há diversos trabalhos acadêmicos sobre o livro, como o do professor de Sociologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em São Paulo, Richard Miskolci, que vê na obra um exemplo de como se davam as relações de gênero e sexualidade no Rio de Janeiro do começo do século XX. Ou então o do professor de Literatura Brasileira da Universidade de São Paulo (USP), Hélio de Seixas Guimarães, que tenta traçar, a partir da obra, um estudo do público leitor brasileiro daquele período.

De qualquer forma, seu lugar na literatura brasileira exige a leitura de todos os que querem entender um pouco mais do próprio Brasil. “Ali, estão dados vários elementos que hoje fazem parte da nossa identidade, mas que naquela época estavam em formação”, explica Miskolci.

Capitães de Areia – Jorge Amado

Quando o baiano Jorge Amado publicou Capitães de Areia, em 1937, já era conhecido internacionalmente por sua amizade com Luiz Carlos Prestes, de quem escreveria a biografia em 1942 em Cavaleiro da Esperança e, claro, por sua militância política dentro do Partido Comunista brasileiro, que seria colocado na clandestinidade pelo Estado Novo, de Getúlio Vargas.

“Naqueles anos 1930, surgiu uma leva de romancistas cujas obras absorveram por inteiro aquele ambiente de cisões ideológicas e debates sobre os problemas nacionais. Entra em cena uma literatura de feições realistas e de vocação quase sociológica, atenta a cenários e personagens até então pouco contemplados por nossos escritores: o migrante nordestino, a temática da seca, a decadência das oligarquias rurais e também o proletariado nascente, a luta de classes e a miséria urbano-industrial”, explica o escritor Luiz Gustavo Rossi, autor de A militância política na obra de Jorge Amado.

O livro conta, em uma linguagem extremamente simples, a vida de vários meninos de rua em Salvador, convivendo com preconceitos, humilhações, a perseguição constante das autoridades e dos religiosos da Bahia dos anos 1930. A interpretação mais aceita da obra é que, nela, Jorge Amado quis denunciar não apenas a desigualdade social, mas também a racial e o absurdo que é uma sociedade deixar crianças viverem nas ruas.

A Rosa do Povo – Carlos Drummond de Andrade

Na esteira da crítica social de Jorge Amado, o poeta mineiro radicado no Rio Carlos Drummond de Andrade publicou, em 1945, seu livro mais extenso até então: A Rosa do Povo, com 55 poemas. Entre eles, alguns clássicos conhecidos por qualquer estudante de ensino médio, como A Flor e a Náusea (Preso à minha classe e a algumas roupas, vou de branco pela rua cinzenta/ Melancolias, mercadorias, espreitam-me/ Devo seguir até o enjôo?/ Posso, sem armas, revoltar-me?) e O Medo (O medo, com sua capa/ Nos dissimula e nos berça/ Fiquei com medo de ti/ Meu companheiro moreno/ De nós, de vós, e de tudo).

Assim como Capitães de Areia, o livro de Drummond já fez parte das obras obrigatórias para o vestibular da Fuvest, que dá acesso à Universidade de São Paulo (USP), assim como de diversos outros exames para universidades.

Drummond coleciona outros clássicos, mas a importância de A Rosa do Povo está na crítica social não apenas ao capitalismo, em que o Brasil estava se inserindo nos anos 1940, após a Segunda Guerra Mundial, mas também por ser o primeiro poeta brasileiro a fazê-la.

Romanceio da Inconfidência – Cecília Meireles

Já nos anos 1950, foi a vez de uma escritora publicar um livro que se tornaria imediatamente um clássico da literatura brasileira: a carioca Cecília Meireles e seu Romanceio da Inconfidência, lançado em 1953 após uma viagem dela às cidades históricas de Minas Gerais – principalmente, Ouro Preto.

Ao contrário dos outros autores, o formato do livro de Meireles é o “romanceio”, ou seja, uma coleção de poemas ou canções populares de inspiração na tradição ibérica. Geralmente, um romanceio possui uma narrativa com um tema central, que, no caso do livro da autora carioca, é a luta pela liberdade do Brasil no século XVII.

“Há um retrato da sociedade de Minas Gerais daquele tempo, principalmente dos personagens envolvidos na Inconfidência Mineira, abortada pela traição de Joaquim Silvério dos Reis, o que culminou na execução de Tiradentes”, diz um estudo sobre o livro publicado no Guia do Estudante.

A Hora da Estrela – Clarice Lispector

Um dos grandes clássicos da literatura brasileira do século XX, A Hora da Estrela foi lançado em 1977 pela escritora ucraniana Clarice Lispector, que veio para o Brasil ainda criança com a família que fugia da Guerra Civil russa. Nele, um escritor fictício chamado Rodrigo S. M. conta a rotina da datilógrafa alagoana Macabéa, recém-chegada ao Rio de Janeiro e, por isso, ainda impressionada com as diferenças culturais entre Maceió e a capital fluminense.

Macabéa, segundo a própria Clarice, faz referências à sua infância no Nordeste e à sua chegada ao bairro de São Cristóvão, no Rio. No entanto, muitos críticos apontam que existem elementos filosóficos na obra a partir dos limites do conhecimento do mundo pela palavra e pela consciência. Essas percepções foram muito estudadas nas décadas seguintes, exaltando A Hora da Estrela como o clássico que é atualmente.



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