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Diário da Amazônia

A arte poética da artesã Arlete Cortez

“Avida da gente é uma história, tive uma vida boa e aprendi a crescer e me valorizar”.

Por João Zoghbi Diário da Amazônia
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Publicado: 12/11/2017 às 06h05min

Arlete com uma das filhas Taiane e a paixão pelos bonecos e pela arte Foto Montagem: João Zoghbi/Diário da Amazônia

O receptivo som de bolero “Coisa de nós” na voz de um dos maiores compositores e músico de nossa terra, Francisco Lázaro dos Santos Silva, o Laio, empresário da música com seu irmão Sergio dos Santos do estúdio “Som da Terra” o Serginho. Foi dessa maneira que Arlete Cortez e a filha Taiane nos recepcionou em sua ‘casa ateliê’, fez questão de servir um café nas xícaras de porcelana clássica, coisa fina. Esse talento abençoado pelas florestas do alto Guaporé precisamente no seringal “Três Marias” banhado pelo rio Pacaás onde nasceu. Como a natureza permite no meio do rio numa canoa sua mãe Tamar Duarte Silva, lhe deu à luz.

Pais seringueiros, aprendeu a arte com a vida nos ensinamentos do dia a dia como a poesia: “A poesia veio naturalmente, tenho enúmeras poesias desde criança, ela vem”, ressaltou Arlete.

Laio com a primeira filha Tatiane Silva Divulgação/Arlete Cortez

Sua primeira saída do seringal para Guajará-Mirim por volta de 1964, foi quando sua mãe adoeceu e veio se tratar na cidade. Em coma demorou muito para voltar e seu pai por lá ficou e, seguiu em frente com a mãe e seus irmãos, Amélia Duarte Cortez e mais dois falecidos João e Auricélia: “No segundo casamento de mamãe com Antônio Paraíba, meu padrasto que tocava muito bem violão, gerente do seringal, ela nos deu mais três irmãos, Edilson, Edmilson e Ednilce. No terceiro casamento de minha mãe com José Antônio, sapateiro, fomos morar no pé da serra de Tracoá no rio São Francisco com Cabixi, aí é outra história. Daí, aprendi a costurar com minha avó Maria Alice Nascimento, acho que minha arte começou aí”.

Quando esposa do Laio teve três filhos, Tatiane, Taiane e o Sanauá. Lembra como se fosse hoje, estava na casa de sua mãe, nesse tempo morava no Km. 7 na BR-364 sentido Guajará Mirim: ‘ele foi me buscar e eu emburrada porque gente estava brigado, coisa de casal, com aquele jeito dele: “Bichinha, tu vai ficar aí, é?” Ele trabalhava nessa época como cobrador do ‘Expresso Real’ e foi me buscar na Kombi da empresa, depois de muita insistência, fui com ele e chegando na casa, me apresentou ao seu pai, Carlos Santos Castro e Silva e para minha surpresa o qual me fez uma pergunta: ‘Você quer ser minha filha?’ Fiquei pensando e, aceitei. Sou o que sou graças a ele, aprendi uma coisa, a crescer e me valorizar, antes dele falecer me pediu para cuidar de sua mãe, Valdestina de Vasconcelos Marques, a Vó Bebé”. Lembra com emoção a artista.

Arlete e as bonecas da ‘Justa Trama’ Divulgação Arlete Cortez

Depois dos conselhos, foi atrás de seus sonhos: “Fui vendedora de porta a porta e aprendi a trabalhar em salão de beleza, fazia perucas que aprendi em Guajará- Mirim com uma boliviana, dona Dalva. Aprendi também manicure e corte de cabelo nos cursos profissionalizantes da LBA, o Dr. Noel foi minha ‘cobaia’ meu primeiro cliente e, já profissionalmente atendia em domicílio e nos hotéis, com isso fui convidada primeiro pelo Assis do ‘Stilos’ Cabeleireiro e depois fui trabalhar nas minerações.

Entrou no mundo das artes visuais depois de se aposentar por complicações de uma doença degenerativa nas mãos, pediu ajuda aos amigos e indicaram na época o Seteni/Sebrae (RO) daí fez vários cursos dentre eles o de biojoias como terapia: “ Comecei fazendo biojoias e ourivesaria, marchetaria, esculturas em argila, bonecas de pano, design e decoração, todas as possibilidades artísticas”.

O poema fiz para lembrar das viagens de trem quando na infância com minha avó Maria Alice na E.F.M.M. para Guajará-Mirim”, saudosamente finalizou a artista e artesã Arlete Cortez.



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