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Clima de tensão em escola incendiada

O clima é de desolação e medo. Funcionários da Escola Estadual Manaus, em Porto Velho, lamentam mais um ataque ocorrido no meio da..

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Publicado: 07/01/2014 às 21h23min | Atualizado 28/04/2015 às 15h14min

Clima de tensão em escola incendiadaO clima é de desolação e medo. Funcionários da Escola Estadual Manaus, em Porto Velho, lamentam mais um ataque ocorrido no meio da tarde de primeiro de janeiro. Desta vez os bandidos incendiaram uma sala onde estavam duas mesas de pingpong, duas televisões, um conjunto de cadeiras, duas mesas de desenho e dois computadores. Este é o décimo ataque registrado desde que o governo do Estado dispensou o serviço de mais de dois mil vigilantes da rede escolar. Com medo de represálias, funcionários falam sem se identificar e temem o pior: um ataque à sala de direção da escola, onde ficam os registros de comprovação de escolaridade dos alunos durante os 37 anos de existência do estabelecimento. “É o coração da escola”, define uma funcionária. Na semana que antecedeu o final do ano, todos os dias a escola foi invadida, com exceção dos dias 21 e 22, quando a escola sediou um encontro promovido por uma igreja.

Localizada no final da rua Salgado Filho, nas proximidades da Vila Tupi, a Escola Manaus está construída no meio de um terreno tomado pelo mato. O muro é baixo e as ruas não têm iluminação. “É diferente de outras escolas, como a Estudo e Trabalho que fica numa rua movimentada do Areal e os muros dos vizinhos ficam encostados”, diz um funcionário.

O último ataque efetuado à Escola Manaus aconteceu na última quarta-feira (primeiro de janeiro) e o estrago só não foi maior porque vizinhos acionaram o Corpo de Bombeiros e o incêndio foi apagado. As paredes foram pichadas com as siglas PCC e CV, numa referência ao Primeiro Comando da Capital e Comando Vermelho, organizações formadas dentro do sistema penitenciário. Funcionários da escola acreditam que o ataque tenha sido uma represália à prisão de sete pessoas detidas pela polícia dentro da escola no dia 24 de dezembro. Três deles, com menos de 18 anos, foram liberados. Também há suspeitas sobre represálias feitas por ex-alunos da escola.

Total de prejuízos ainda não foram contabilizados

Os prejuízos totais dos ataques à Escola Estadual Manaus ainda não foram contabilizados, mas um primeiro balanço indica a perda de pelo menos seis câmeras de vigilância (R$ 400 a unidade), o equipamento que armazena as imagens (R$ 2 mil) e uma TV (R$ 1.300), mais o que foi roubado no dia primeiro de janeiro e a sala incendiada, que deve ser reconstruída. Mas, o maior prejuízo ainda é o medo. “Hoje, seria perigoso até mesmo para o trabalho de um vigilante”, diz uma funcionária que não quer ser indentificada.
A Secretaria de Estado da Educação de Rondônia (Seduc) informa que está tomando providências para recuperar as perdas provocadas pelos ataques. A secretária adjunta de Educação, Marionete Sana Assunção, esteve na escola na manhã de ontem para verificar a situação e conversar com a comunidade escolar. A secretária afirma que está em andamento o processo de contratação de policiais militares da reserva, em parceria com a Secretaria de Segurança e Defesa da Cidadania (Sesdec), para reforçar a segurança das escolas.

Vigilantes ainda aguardam indenizações

Segundo o diretor de Finanças do Sindicato dos Vigilantes de Rondônia, Marinor Gomes de Souza Filho, diretores de escolas procuraram vigilantes para guardar os estabelecimentos, mas a proposta era de trabalho sem contrato assinado e sem seguro de vida, condição imprescindível para quem faz um trabalho perigoso. Em outubro, quando o governo deixou de renovar os contratos de três empresas de segurança contratadas para fazer o serviço de vigilâncias das escolas, mais de 2 mil vigilantes ficaram desempregados.
O Sindicato está aguardando o pagamento de um realinhamento dos contratos para pagar as indenizações de parte dos desempregados. Sessenta por cento deles foram indenizados depois que a Justiça determinou que recursos repassados pela Secretaria Estadual de Educação para as empresas fossem depositados em uma conta judicial. O restante das indenizações está calculado em R$ 5 milhões.

Escolas atacadas e roubadas

A Escola Manaus não foi a única a ser atacada depois da troca dos vigilantes por câmeras eletrônicas estabelecida pelo governo do Estado. Diretor financeiro do Sindicato dos Vigilantes de Rondônia, Marinor Gomes de Souza Filho, calcula que 30 estabelecimentos em todo o Estado sofreram ataques depois da troca do sistema de vigilância. No dia 11 de novembro, a Escola Jânio Quadros, no bairro Mariana, também foi invadida na Capital. O ataque foi feito no início da madrugada e a polícia foi acionada, mas chegou tarde, às 3h30. Os bandidos arrombaram as salas onde estavam armazenados objetos de valor, dando a entender que eles conheciam o estabelecimento. Foram roubados computadores, impressoras, uma escada de alumínio e aproximadamente 50 quilos de charque da merenda. A escola tem 16 câmeras de vigilância e os ladrões tiveram o cuidado de queimar o equipamento que guardava as imagens. Na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Professor Daniel Néri da Silva, foi roubada uma moto do estacionamento.

No dia 29 de novembro, a Escola Jesus Burlamarqui Hosannah foi arrombada e os ladrões levaram uma televisão de 42 polegadas, três notebooks e um data show. Mais uma vez, o equipamento que armazenava as imagens do circuito interno de vigilância foi queimado e os ladrões tiveram o cuidado de cobrir as câmeras com sacolas de plástico pretas. As escolas Jorge Teixeira, Paulo Nunes Leal, São Francisco de Assis e Capitão Cláudio também foram roubadas na Capital.

POLÍCIA

A Escola Estadual Manaus está em período de matrículas e o ano letivo deverá iniciar no dia 10 de fevereiro, mas há um temor muito grande pela falta de segurança. “A Polícia Militar passa na frente da escola, mas não entra. Então, não adianta muita coisa”, alega um professor. Para minimizar a situação, funcionários da direção se revezam de manhã e à tarde, mas à noite não fica ninguém no local. O número de pedidos de transferência está crescendo com a onda de violência, informa uma das funcionárias. A Escola Manaus tem 700 alunos. Nos turnos da manhã e tarde é ministrado o ensino fundamental e à noite, o Ensino de Jovens e Adultos (EJA), com turmas de 5º ao 9º ano do ensino fundamental e ensino médio.



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