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Coluna-Campo e Lavoura

a palavra de um político respeitado vale muito.

Publicado: 30/04/2018 às 22h39

A palavra de um político

O ano de 1992 foi marcado pelo impacto do primeiro impeachment no Brasil, afastando pela via legal e congressual o ex-presidente Fernando Collor de Mello, acusado pelos crimes de improbidade administrativa. Na época frequentava como aluno assistente um curso de Marketing na UCDB, em Brasília e, desempenhava minhas atividades profissionais como repórter da Rádio Guaíba e jornal Correio do Povo de Porto Alegre, cobrindo o Congresso Nacional e Ministério da Agricultura.

Antes de entrar no comentário a que me proponho, quero lembrar que cobrir o processo de impeachment de um presidente da República é uma experiência profissional que enriquece o currículo de qualquer repórter. Aprende-se a respeitar o valor real de uma informação, com humildade e sem arrogância. Assim, construí amizades com grandes jornalistas e políticos que até hoje ainda são preservadas.

Em meados de outubro daquele ano, o Congresso Nacional fervilhava com jornalistas, políticos e visitantes. Numa manhã de sexta-feira encontrei nos corredores do Congresso Nacional, um grupo de 8 produtores rurais de Mato Grosso do Sul que tentavam encontrar algum político daquele Estado, para solicitar apoio no sentido de que fosse agilizada a liberação junto à agência do Banco do Estado do Rio Grande do Sul, dos recursos para o financiamento do plantio da soja.

Desolados, pois não conseguiram falar com nenhum representante da bancada federal do Estado deles, solicitaram se eu não podia interceder para que eles tivessem um encontro mesmo que rápido com o senador Pedro Simon (MDB-RS). A minha amizade com o senador gaúcho vem desde a década de 1970, quando iniciei no jornalismo lá no sul do País.

Naquele momento havia uma sessão conjunta no Plenário do Senado. Como jornalista credenciado tinha acesso à ala reservada aos profissionais de imprensa que podiam falar com os políticos. Em rápidas pinceladas relatei o drama dos ruralistas, todos eles oriundos do Rio Grande do Sul, que necessitavam de uma interferência política junto à direção do Banco lá em Porto Alegre para a liberação de seus financiamentos. Afirmando que conhecia pessoalmente todos eles e que se tratava de grandes produtores rurais.

Por orientação dele seguimos até o seu gabinete onde aguardamos por uns 20 minutos. O senador chegou, cumprimentou a todos e pediu desculpa pelo pouco tempo que lhe restava, uma vez que teria que embarcar dali uma hora para Porto Alegre para cumprir agenda. Ouviu do presidente da “Cootrisa” que falou em nome do grupo.

Respondeu: “não posso prometer que vá conseguir a liberação dos recursos para os senhores, no domingo vou ao GRENAL, com o Flávio Obino, presidente do Banco do Rio Grande, somos amigos desde a juventude, ele torcedor do Grêmio eu do Internacional. Vou pedir para ele analisar com muito carinho e se possível atender o pleito dos senhores”.

Naquele final de semana era minha folga de três dias, quando me desloquei para Campo Grande onde residia para descansar com a família. Na segunda-feira na agência do Banco do Estado do Rio Grande do Sul, por volta de umas 11 horas, conversava com o Nery, gerente regional da instituição quando uma secretária afobada interrompeu avisando que o presidente Flávio Obino estava na linha.

Depois dos cumprimentos de praxe o presidente quis saber como andavam os processos de financiamentos do grupo de produtores rurais ligados à COTRISA (Cooperativa de trigo, soja e arroz?) Nery, são 16 grandes produtores que não apresentam a menor restrição, cadastros estão aprovados, tudo em ordem só aguardamos a liberação.

   Pelo que entendi, Flávio Obino, teria dito mais ou menos o seguinte: “Podes liberar os recursos, vamos atender a um pedido do senador Pedro Simon”. Não sei em quantos milhões de cruzeiros se tratavam as operações, porém tenho consciência que a palavra de um político respeitado vale muito.

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