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Diário da Amazônia

Opinião: A lista de Janot e a esperança do povo

O presidente Michel Temer disse que ministro que se tornar réu tem de deixar o governo.

Por Dirceu Cardoso Gonçalves
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Publicado: 14/03/2017 às 06h00min

O tema dominante da política nacional, esta semana, não é desenvolvimento, reformas ou as futuras eleições. Brasília está apreensiva com a lista de 80 denúncias que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deve apresentar ao Supremo Tribunal Federal como decorrência das delações dos executivos da Odebrecht na Operação Lava Jato. Estima-se que 200 políticos, entre os quais quadros importantes dos partidos no Congresso Nacional e pelo menos dois ministros, estejam entre os denunciados. A corte política está inquieta e deverá assim continuar até que o relator, ministro Edson Fachin, decida se mantém ou retira o sigilo dos feitos e, principalmente, se aceita os argumentos do Ministério Público para processar os envolvidos. O presidente Michel Temer disse que ministro que se tornar réu tem de deixar o governo.

Tanto Temer quanto os seus aliados e articuladores parecem não saber que mensagem utilizar para conter a possível debandada dos denunciados, cujos votos são necessários para aprovar os projetos de interesse do governo. Acossados pela justiça, os parlamentares poderão pensar mais na própria proteção do que nos interesses do Palácio do Planalto. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (PMDB-RJ) já desistiu de colocar em pauta o polêmico projeto da terceirização no trabalho, que seria votado esta semana. Também pode ocorrer atraso na tramitação da reforma da previdência. É preciso compreender que quem tem contas a ajustar com a justiça deve fazê-lo e que isso não pode nem deve interferir no governo e nas suas relações com o parlamento.

O quadro de instabilidade é apenas o efeito dos maus hábitos da classe política nacional. As delações referem-se basicamente à destinação de recursos obtidos através do superfaturamento de obras governamentais, cujos adicionais são destinados ao custeio das campanhas eleitorais. Demonstram que praticamente toda a classe tem sua legitimidade sob suspeição pela forma fraudulenta com que eram pagas as despesas de campanha. Eleitos com doações de grandes corporações que trabalham para o governo, todos ficam sem a necessária independência para legislar e, principalmente, para contrariar os interesses desses capitalistas que, obviamente, não são os mesmos do povo brasileiro.

Nesse quadro, o melhor a fazer é começar as reformas pela política, para extirpar o mal que compromete a representatividade da classe. Paralelamente, a conveniência maior é que o governo adote medidas para aquecer o mercado e trazer de volta pelo menos parte dos milhares de empregos perdidos nos últimos anos de política econômica desastrosa. Se conseguir avançar nessas duas frentes, o Brasil estará salvo e as demais reformas virão como imperativo do momento e da sociedade.



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