Porto Velho/RO, 24 Março 2024 15:30:04
RONDÔNIA

Os 103 anos de instalação do município

Historiador destaca fatores que foram decisivos para a criação do Município.

Por Ana Kézia Gomes Diário da Amazônia
A- A+

Publicado: 24/01/2018 às 06h00min

Porto Velho, polo importante de desenvolvimento regional, comemora, nesta quarta-feira, seus 103 anos de instalação (Foto: Jota Gomes/Diário da Amazônia)

Nesta quarta-feira, 24 de janeiro, Porto Velho acorda para comemorar os seus 103 anos de instalação. Em 1915, o Major Guapindaia assumia a administração, encontrando uma cidade controlada pelas empreiteiras da Ferrovia Madeira-Mamoré.

Tendo como mito fundador a Estrada de Ferro, responsável pela criação do núcleo urbano, mas também vista pela história local como uma grande obra intervencionista de capital estrangeiro que não levou em conta a pre-existência de populações locais.

De acordo com o professor e historiador Marco Teixeira, a EFMM é muito exaltada, mas é o rio Madeira a artéria por onde flui a vida nesta cidade e nesta parte do Estado. “Citarmos a Ferrovia e transformarmos ela em algo extremamente bom é complicado, é a mesma coisa que, a essa altura, falarmos que as usinas trouxeram só progresso e prosperidade. Cem anos depois da primeira intervenção no rio Madeira, que foi a construção da Ferrovia para superar o trecho encachoeirado numa área de difícil acesso, nós fizemos outra grande intervenção no rio, que são as usinas, ou seja, Porto Velho continua sobrevivendo daquilo que o rio Madeira pode lhe proporcionar, e dos investimentos que cabem a ele”, explica Marco Teixeira.

Outra referência à mitologia é a comparação com o Eldorado, assim como canta-se no Hino da capital: “No Eldorado uma estrela brilha em meio à natureza, imortal: Porto Velho, cidade e município, orgulho da Amazônia ocidental”. O pensamento volta-se para as belezas naturais, porém o professor Marco Teixeira destaca que também é necessário se concentrar na realidade preocupante. “Quando se falava do Eldorado se esquecia que a região também era considerada o inferno da América, onde a Ferrovia do Diabo era o lugar onde mais morriam pessoas por doenças infectocontagiosas. Vamos lembrar que no povoado de Santo Antônio em 1910 teve 100% de óbitos infantis, nenhuma criança que nasceu naquele ano sobreviveu”, lembra, com tristeza, o historiador, salientando que se deve parar de pensar dessa forma mítica, ufanista e encarar a realidade.

Construções históricas depredadas

Em meio à natureza, repleta de pontos históricos e arquitetônicos importantes e com um legado arqueológico que, segundo o historiador Marco Teixeira, faria toda a diferença na História da América, Porto Velho ainda conta com construções que, mesmo depredadas, ainda são encantadoras, como os sobrados da avenida Sete de Setembro, a Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus, o antigo Hospital São José, o atual prédio da Unir Centro, onde funcionou o Porto Velho Hotel, o Palácio Presidente Vargas e as praças espalhadas pela cidade. Porto Velho conta ainda com manifestações maravilhosas da cultura, como o carnaval e as festas juninas, além do potencial no turismo de natureza.

Recursos naturais abundantes

Com grande potencial de desenvolvimento, Porto Velho tem uma localização estratégica, possui recursos naturais abundantes, possibilidade de um manejo sustentável da floresta, de mineração sustentável e capacidade enorme de organização da população urbana para que possa se tornar sustentável, inclusive exportar a sua produção para outras áreas. “A realidade é preocupante, mas sempre há perspectivas de um futuro mais belo. O belo pode ser visto nos olhos do porto-velhense, que sempre recebe com calor aqueles que chegam aqui. Uma terra formada, em sua maioria, por migrantes, tendo os nordestinos como base do povoamento, mas também sírios, libaneses, turcos, portugueses, gregos, norte-americanos e mais de 53 nacionalidades que se deslocaram para a região durante a construção da ferrovia, e mais recente a migração dos haitianos, que transformam a população local em uma síntese de todo o mundo”, observa Marco Teixeira.



Deixe o seu comentário