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Os bastidores da escola de samba Os Diplomatas

Amanhã dia 10, o “Magnífico Mestre Sala Cabeleira” completa 79 anos de idade. Batizado como Antônio Chagas Campo, Cabeleira alcunha..

Publicado: 09/09/2018 às 08h13

Batizado como Antônio Chagas Campo, Cabeleira alcunha pela qual é conhecido, vive pelo carnaval de escola de samba (Foto: Ana Célia Santos)

Amanhã dia 10, o “Magnífico Mestre Sala Cabeleira” completa 79 anos de idade. Batizado como Antônio Chagas Campo, Cabeleira alcunha pela qual é conhecido, vive pelo carnaval de escola de samba, é um dos fundadores da escola Os Diplomatas da qual foi o Mestre Sala por muitos carnavais, foi presidente da Associação das Escolas de Samba – AESB e criou a Federação das Escolas de Samba e Entidades Carnavalescas de Rondônia – FESEC e brevemente, voltará a ser presidente da Escola de Samba Acadêmicos do Armário Grande.

Seu sonho atual, é colocar em funcionamento a Liga das Escolas de Samba. “Atualizei toda a documentação da Liga, não sei por que a turma não concorda com sua reativação. Com ela em funcionamento estaremos aptos a firmar convênio com órgãos governamentais”.

Neste domingo 09, Cabeleira e sua companheira Sílvia recebem amigos e familiares para festejar os 79 anos de idade. “Vencemos alguns problemas de saúde e por isso, é preciso festejar cada minuto da vida”. Na entrevista que segue, Cabeleira fala principalmente, dos bastidores da escola Os Diplomatas do Samba que no dia 4 de novembro, completará 60 anos de fundação. Vamos à conversa com o Magnífico Mestre Sala Cabeleira:

ENTREVISTA

(Foto: Ana Célia Santos)

Zk – Quantos anos de vida?

Cabeleira – Nasci no dia 10 de setembro de 1939, portanto estou completando 79 anos de vida.

Zk – Sabemos que você é um dos fundadores da escola de samba Os Diplomatas, antes disso, você brincava carnaval em qual agremiação?

Cabeleira – Quando vim do Rio de Janeiro – eu já dava umas pernadas lá – isso em 1956/57 o Bainha me chamou pra gente fundar uma escola de samba porque só tinha o Bloco do Valério da Dona Jóia aí nos juntamos com Valério, Ricardo, Dona Jóia, Alex, Leônidas e criamos o que chamamos de escola de samba.

Zk – Por que você diz: “Chamamos de escola de samba”?

Cabeleira – Porque realmente não era uma escola de samba, era uma bateria com 31 integrantes tudo homem, até eu estava la fazendo zuada balançando um Ganzá. Nesse mesmo estilo existia a escola de samba Deixa Falar do Bola Sete que também era só uma bateria e a escola de samba “O Triângulo Não Morreu” que tinha o Gia, Cardoso, Miguel e Paulo Machado. O Triângulo tinha mulher e até instrumento de sopro. Todos desfilavam dentro do Cordão de Isolamento. Cardoso e Gia puxavam Cuíca, o Guarda Miguel era o responsável por esticar ou montar os couros dos instrumentos. Naquele tempo os tambores eram de couro de cobra, veado, e outros bichos do mato como porquinho, tudo comprado na “Casa José Oceano Alves” que ficava no Mercado Municipal (hoje Mercado Cultural). O Bainha era pra ser um dos melhores cuiqueiros do Brasil na época, pois o Zé Ferino da Mangueira assim profetizou: “Esse menino vai longe”. Você perguntou onde eu brincava, era nas escolinhas de samba do Rio de Janeiro depois conheci o Mestre Sala Delegado fui pra Mangueira beber por lá, naquele tempo a cachaça da moda era Parati, depois fomos conhecer o Salgueiro quando a Beija Flor era do Grupo de Acesso os desfiles eram na avenida Getulio Vargas.

Zk – Sobre a rivalidade Diplomatas X Caiari?

Cabeleira – A Caiari surge em 1964 e só vem vencer da Diplomatas no carnaval de 1970, quando o desfile foi na Pinheiro Machado. Naquele ano desfilei com uma fantasia preparada pela dona Juraci Mateus que era o luxo dos luxos. Era dona Florípedes na Caiari e dona Juraci na Diplomatas. Nosso enredo era sobre a Assinatura da Lei Áurea e a moça que desfilou representando a Princesa Izabel que vinha num carro alegórico, em frente ao Palanque dos jurados, fez a representação da assisnuta da Lei que abolia a escravidão no Brasil, só que deram pra ela uma CANETA BIC coisa que na época da assinatura da Lei não existia, isso tirou um bocado de pontos da escola. Ainda por cima o Samba era plágio do samba do Salgueiro e os jurados por isso também tiraram pontos da Diplomatas e a Caiari com um samba de sua autoria e enredo da Dona Marize Castiel “Sinhá Moça e a Abolição” ganhou ‘molim’ da gente.

Zk – E o bloco protagonizado pelo teu pai Inácio Campos?

Cabeleira – Meu pai era um folião que preparava umas alegorias da chegada do homem a lua, isso antes do homem pisar na lua, era premonição dele. Desfilava concorrendo ao título de bloco de originalidade com o bloco Rei da Selva do Valdemar Cachorro. Certa vez meu pai saiu desfilando com o Chico Bolão (filho de família tradicional de Porto Velho) amarrado pela cintura e o papai Inácio Campos dando-lhe uma surra. A polícia vendo aquilo foi perguntar o que representava e ele disse “É o Pele Curta batendo no Cutuba” então foi retirado da avenida e chegaram correndo onde a Diplomatas estava concentrada pra desfilar, na Prudente de Moraes dizendo que iam sair pela a escola.

Zk – É verdade que a Diplomatas não nasceu com esse nome?

Cabeleira – A Diplomatas nasceu na casa do Valério que era na Joaquim Nabuco sub esquina com a Almirante Barroso bem em frente, naquele tampo, ao açougue do Casemiro depois foi que virou bar, com o nome de “Prova de Fogo” a pedido do Tário de Almeida Café nosso primeiro presidente, que queria homenagear um bloco que ele tinha em Fortaleza Ceara. Desfilou com esse nome apena no carnaval de 1959 em 1960 adotou o nome “Universidade dos Diplomatas do Samba”, sugerido pelo Bizigudo. Em meados dos anos de 1960, passou a ser apenas Os Diplomatas por sugestão do Bainha. A primeira costureira da Diplomatas foi dona Marieta mãe do Bainha. Depois o Abel Marques passou a nos fornecer camisetas da Martine e a gente vestia os batuqueiros com aquele camisa.

Zk – Os desfiles eram aonde?

Cabeleira – A gente subia a José de Alencar dobrava na Carlos Gomes e descia pela Presidente Dutra até o Porto Velho Hotel, onde ficávamos esperando a ordem para iniciar o desfile oficial que terminava na praça Rondon.

Zk – Como é que o Leônidas entra para a história da Diplomatas?

Cabeleira – É uma história delicada! Acontece que o Leônidas era uma espécie de Office Boy na casa da Valério, mas, já andava com a gente na boemia e na minha concepção, ele estava presente na reunião que criamos a Diplomatas sim, quem contesta, não sei por que, a presença dele, é o Bainha, mas, pra gente ele é considerado fundador da escola também.

Zk – A rivalidade entre você e o Vitor Sadeck. Ele diz que você nunca ganhou dele como Mestre Sala é verdade?

Cabeleira – Era engraçado! Naquele época quem tinha influencia política como a Dona Marize, pesava, ninguém derrubava ela. Então o Vitor Sadeck que era vestido pela Dona Florípedes uma das melhores modistas da época. Era puro luxo as fantasias dele, porém ele nunca teve um mestre como professor como eu tive o Delgado e o Canelinha os melhores do Brasil. Não é que o Vitinho dançasse melhor, ele tinha a dona Marize por trás. Outro que morreu com raiva de mim foi o Babá que surgiu na Diplomatas com passistas e depois foi pra Caiari como Mestre Sala. Ficou com raiva de mim porque disse que ele não dançava. Mestre Sala não segura à cintura da Porta Bandeira ele apenas reverencia o pavilhão. Não sei não, até hoje não vejo nenhum Mestre Sala nas escolas de Porto Velho que saiba dançar.

Zk – Você participou da embaixada que foi trocar a bandeira nacional em Brasília?

Cabeleira – Aquilo foi o maior espetáculo que já participei como Mestre Sala. Foi em 1975 e naquela viagem, nasceu à escola de samba Mocidade Independente do KM-1 fundada entre outros, por você e o Bainha. Em Brasília ainda se apresentou como Pobres do Caiari porque desfilou de azul e branco. Quando nossa apresentação terminou, os diretores da escola de Samba do Cruzeiro lá de Brasília vieram conversar comigo e me convidaram para ficar la desfilando pela escola deles, me ofereceram algumas vantagens, o Bainha que estava perto, ouvindo a conversa, se meteu no meio da gente e foi dizendo “Ele não pode ficar aqui não e nem vai ficar ele é nosso”. Os caras ficaram chateados com a maneira que o Bainha os tratou e mesmo assim, ficaram insistindo e eu não fiquei, porque além de ser funcionário do Território de Rondônia era casado e tinha um bocado de filho pra criar.

Zk – Pra encerrar! Como é que está o Armário Grande Para 2019?

Cabeleira – Eu assumo a presidência da escola no próximo dia 22. Não queria mais me envolver com direção de escola de samba, o Júnior meu filho ponderou, não Pai, o senhor já coloca a escola na avenida, agora tem que assumir como presidente e então aceitei, Já distribuímos a sinopse do enredo para os compositores e a disputa será em novembro.

Zk – Nome do enredo?

Cabeleira – “Quero e Não Quero – O Brasil que eu tenho e o Brasil que eu sonho em ter”. É do professor Marco Antônio Domingues Teixeira.

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