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Diário da Amazônia

A penitenciária que virou hospital

Retratos da História

Por Sílvio Santos Diário da Amazônia
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Publicado: 22/12/2016 às 05h35min

Coronel Jorge Teixeira: Aceitou o desafio de Claudionor de transformar a penitenciária no Hospital Regional de Ji-Paraná

Em sua primeira visita oficial a Ji-Paraná, o governador do ainda Território Federal de Rondônia, Jorge Teixeira, foi recebido por autoridades e políticos locais e acompanhado de todo o seu recém-formado secretariado, foi participar de uma reunião no palácio Urupá, sede da prefeitura e tomar conhecimento da situação do Município.

A população compareceu em grande número para conhecer o tão propalado ‘Coronel Teixeirão’, que iria transformar Rondônia em um futuro e promissor Estado, ver e ouvir o que de bom estava trazendo para a região.

Na ocasião falaram lideranças locais e políticos, entre eles Assis Canuto, Waldemar Camata, Jotão Alcides Paio e de repente apareceu um sujeito grandão, meio desengonçado, cara redonda, cabeludo e barbudo e tomou a palavra.

Dr. Claudionor roriz Desafiou Teixeirão: se o senhor transformar a penitenciária em hospital assino a ficha de filiação do PDS

“Senhor governador bom dia; meu nome é Claudionor Roriz, cearense e médico, estou aqui porque sou médico clínico geral e atendo todos os pacientes que me procuram e se a pessoa não tiver como pagar em dinheiro, tudo bem, aceito o pagamento em galinhas, porco, ovos e etc. E continuou; Vivemos em uma região que está sendo desbravada, colonizada sem ajuda nenhuma de nenhum órgão federal e muita gente veio prá cá atendendo o apelo do Governo Federal para colonizar a Amazônia, especialmente Rondônia e devido ao desconhecimento das pessoas que estão vindo de muitos Estados brasileiros, sobre o clima insalubre daqui, o índice de pessoas doentes é muito alto. A malária, diarreia e doenças tropicais estão dizimando os colonos recém-chegados.

Os senhores acabam de construir um enorme presídio com capacidade para 600 presos! Para que?
Nós não precisamos de penitenciária e sim de hospitais, médicos, remédios e enfermeiros para cuidar de nossos inúmeros doentes”.

Foi aplaudido por todos os presentes no pequeno e improvisado auditório.

Teixeirão, surpreso com a figura à sua frente, acendeu um cigarro e disse que não tinha ainda conhecimento de muitas coisas e que iria visitar o tal presídio e ver o que poderia fazer.

Assim que acabou a reunião ele procurou saber quem era aquele ‘comunista’. Foi informado que era um médico muito querido, respeitado e com uma forte liderança na região e tinha um agravante, ele era ligado ao pessoal das ‘esquerdas’.

Logo depois do almoço, Teixeirão juntamente com uma comitiva foi até o local onde foi construído o presídio. Um moderno prédio pintado de branco, com acabamento, selas individuais, enormes salas, banheiros e uma grande cozinha. Ficou impressionado com a estrutura e chamou o Villar – secretário de Obras. José Renato da Frota Uchoa, Zizomar Ferreira, Assis Canuto, Jotão e Fouad Darwich Zacarias para uma reunião e após muitas discussões ficou uma sugestão feita ao Teixeirão; de transformar a penitenciária em um moderno hospital regional.

MINISTRO Ibrahin ABI-AKEL Teixeirão convenceu o ministro da Justiça, Ibrahin Abi-Akel, a ceder o prédio da penitenciária ao Ministério da Saúde e ele aceitou

Foi aí que aconteceu a grande jogada do Teixeirão. Ele mandou chamar o ‘comunista’ Dr. Claudionor Roriz e fez a seguinte proposta/aposta:

“Se eu conseguir transformar o presídio em hospital regional, você passa a fazer parte da minha equipe e assina a ficha do PDS?”
Claudionor arregalou os olhos, passou a mão pela barba e cabeleira e falou meio gago:
“Se o Sr. conseguir fazer isto, eu assino a ficha e vou lhe ajudar no que for possível”.

Na segunda-feira seguinte, Teixeirão foi a Brasília, juntamente com o Dr. Rochilmer Rocha e Fouad Darwich Zacarias, levando um álbum com fotografias da penitenciária, feitas pelo fotógrafo Rosinaldo Machado, e foi para uma audiência com seu particular amigo Ibrahim Abi Akhel, ministro da Justiça e conselheiro do presidente Figueiredo.

Após longa conversa e explicações, Abi Akhel se convenceu da necessidade de transformação do presídio para hospital e, juntamente com Teixeirão e Arcoverde – ministro da Saúde – foram ao presidente Figueiredo e mostraram a situação e disseram que era viável a proposta.

Ministro arcovede, da saúde
O presidente Figueiredo concordou e disponibilizou a verba para a construção

Figueiredo olhou para o Teixeirão e falou: “Meu SARGENTÃO, é isto que queres”? Teixeirão disse: Presidente, é uma urgente necessidade, tem muita gente chegando a Rondônia e não temos uma mínima estrutura hospitalar para atender os migrantes.

O presidente Figueiredo mandou que fosse redigido em caráter de urgência um documento que transferisse o imóvel, do Ministério da Justiça para o da Saúde e com o financeiro suficiente para modificar o enorme prédio em hospital.

Na sexta-feira seguinte, no hotel do Amiguinho, Teixeirão mandou um emissário buscar Claudionor Roriz e com aquele velho sorriso de vencedor lhe disse:

“Aqui estão os documentos do futuro hospital Regional de Ji Paraná, e você será o responsável por ele”.

Dr. Claudionor Roriz assinou a ficha do PDS e se tornou um de seus mais fiéis e competentes colaboradores.



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