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Diário da Amazônia

Recolha a sua toalha molhada!

A toalha molhada ainda está largada lá e ninguém conseguiu tirar ainda, você sabia?

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Publicado: 24/08/2015 às 09h15min

Dizem que para construir algo novo é preciso desfazer o que já existe. É necessário deixar toda a vaidade de lado e perder para ganhar.

Frases bonitas! Mas seja sincero, quem gosta de perder ou desfazer algo que demorou a construir? Eu não! E tenho certeza que você também.

Dizem que antes de tudo, é primordial se amar. Mas, caramba, quem não gosta de ter uma outra pessoa que o ama de verdade? Até porque nunca vi ninguém dormir de conchinha sozinho, ou ir a um restaurante romântico de mãos dadas com a imaginação.

Dizem que o novo amor vem quando menos esperamos. Dizem que ele pode estar em qualquer esquina. Dizem que ele pode surgir por alguém que está ao seu lado. Dizem, assim como dizem que amanhã fará sol e, surpreendentemente, chove.

Tudo parece irreal, pois nada adianta dizer. E eu nem sei se quero que digam.

Só sei, que ainda resta aqui em casa aquela rolha do nosso vinho do natal que só eu assinei, ainda lateja a curiosidade de saber como você está, e ainda tenho medo de te encontrar em qualquer momento – já que nunca estarei preparado.

Ainda me preocupo se você fez aquele exame importante, se tem dormido o suficiente e se outro cara conquistou seu coração. Sim, eu me preocupo.

Me preocupo em não ter dito todas as palavras certas, ou em não ter lhe dado todos os beijos que queria. Me preocupo em saber se você se lembra de mim, se quando usa o relógio que te dei lê a frase que mandei gravar e se pensa que poderíamos tentar mais uma vez.

Além de me preocupar, me irrito. É, me irrito. Podem dizer que sou neurótico e que fui precipitado. Me irrito por saber que eu tentei, que te fiz desacelerar, que te fiz bem e hoje não te tenho comigo. Me irrito por ter tido aquela conversa na quinta noite, em que insisti para terminarmos o ciclo e você, tranquilamente, decidiu aceitar.

Quando você decidiu ir embora, deixou para trás uma bagunça. A cama desarrumada, os sapatos espalhados e a toalha molhada. Eu ainda não consegui arrumar, e sinceramente, ainda não sei quando o farei.

Não que seja ruim ter aquela bagunça por lá, mas a verdade é que ela está aqui. A cama está desarrumada pois você já não está em seu espaço me empurrando para fora, mesmo me puxando para perto. Os sapatos estão espalhados pois se eu nem sei para onde vou, que caminhos escolher ou se corro, para que vou organizar? A toalha ainda está molhada e ficará. Aquela é a sua toalha, você deverá pendurar. Ela é branca e poderia, claramente, significar que estamos em paz.

Confesso que quis tudo isso, e você teve razão em aceitar. Afinal, eu já tinha te proposto tantas vezes que seguíssemos o nosso caminho. De forma isolada, mas que seguíssemos. Mas taí, você tinha razão em outra coisa: eu ainda não havia escrito o meu caminho. Seguia simplesmente o seu caminhar e a sua corrida.

Segui, pois, admirava a sua vontade e disposição, e sendo honesto, eu não gostava de dormir de madrugada aos domingos, e nem de comida mexicana como jantar.

É, e tem mais: eu não gostava de rock, não gostava de PUB’s e nem de tomar café pela manhã. Não gostava quando você me deixava plantado na portaria, enquanto atendia a mais um chamado do trabalho. E sabe, você esqueceu de mim, de nós e de você.

Você esquecia que precisava dormir, que precisava acordar e precisa abrir os olhos. Que a vida não era só sua, e sim nossa. Que nenhum médico do mundo poderia curar o maior medo que você tinha, que era de amar. Esqueceu, que eu não sou de ferro, que eu em alguns momentos sou um moleque e que tenho meus anseios e preguiças.

Você esqueceu de me dar espaço para deitar no seu colo, de pegar na minha mão durante aquele filme chato que eu escolhi para tentar fazer você me notar, e de falar que me amava quando eu te dizia que estava confuso.
Você esqueceu tudo. Mas eu lembro.

Lembro o quanto doeu quando você não me atendeu, quando me disse que o cachorro morreu, e quando tocou “don’t stop believen”. Lembro do caminho que aprendi a fazer para chegar mais rápido em sua casa, e de como corri no dia do seu aniversário, e de como esperei aquele cartão de natal que não veio.

Não me chame assim! E nunca mais quero ouvir, meu nome é Fábio. E se voltarei a ouvir todos os meus apelidos que você me deu, eu não sei. Mas sei que pronto não estou. Nem para cruzar o viaduto Pacaembu ou para comer uma pizza de atum com geleia de pimenta. Não estou e me respeite por isso.

Assim como me respeito, te respeito a ponto de dizer que você não tinha o direito de fazer aquela bagunça. A toalha molhada ainda está largada lá e ninguém conseguiu tirar ainda, você sabia? Então, por favor, volte para recolher o que é seu e levar para bem longe. Tão longe que eu não lembre se você ainda usa aqueles sapatos e para que outra pessoa traga lençóis novos perfumados e embale perfeitamente a minha cama.

Ou volte, para usar o seu espaço, organizar o que deixou, fazer uma nova arrumação do jeito que precisamos e pendurar a sua toalha.
Principalmente, pendurar a sua tolha, que ainda é branca. E me dizer que estamos em paz.



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