Porto Velho/RO, 19 Março 2024 22:58:42
Diário da Amazônia

Saudade: A cultura perde seu Calixto do Bar do Calixto

Na manhã de ontem (20), a comunidade do samba de Porto Velho recebeu a notícia do falecimento de Francisco Joaquim Calixto, o..

Por Sílvio Santos Diário da Amazônia
A- A+

Publicado: 21/03/2017 às 05h35min

Na manhã de ontem (20), a comunidade do samba de Porto Velho recebeu a notícia do falecimento de Francisco Joaquim Calixto, o proprietário do famoso ‘Bar do Calixto’ onde todos os finais de semana os sambistas se reúnem para cantar samba ou participar dos ensaios da bateria Pura Raça da escola de samba Asfaltão.

O corpo está sendo velado na funerária Monte Sião a rua Jaci-Paraná em frente ao Bar do Calixto, de onde sairá às 14h de hoje, para o Cemitério Jardim da Saudade.

No mês de fevereiro de 2016 publicamos entrevista com seu Calixto na qual ele lembra de passagens de sua vida. Em homenagem a sua memória, republicamos trechos daquela entrevista

ZEKATRACA entrevista: Francisco Joaquim Calixto

Zk – Qual seu nome completo e quando nasceu?
Calixto – Francisco Joaquim Calixto, sou do dia 5 de agosto de 1934. Nasci no estado do Pará, porém, fui criado no Rio Grande do Norte. Cheguei a Rondônia no dia 1º de maio de 1954.

Zk – Veio como soldado da borracha?
Calixto – Não! Desembarquei em Porto Velho e aqui fiz um bocado de coisa, inclusive fui ajudante de cozinha, trabalhei na abertura da avenida Sete de Setembro no trecho entre a praça Jonathas Pedrosa e a Gonçalves Dias. Aquilo ali foi feito em 1954 e nunca afundou. Ali onde fica o Bradesco da Sete era um igarapé e construímos uma galeria com três metros de ‘fundura’ por dois metros de largura cortando a Sete para despejar no Igarapé Guapindaia, que atravessava a Prudente de Moraes feita com pedra ciclópica.

Zk – Na realidade, qual o motivo que fez o senhor vir para Porto Velho?
Calixto – Estava no Rio Grande do Norte e deu uma seca muito grande e resolvi vir pra Amazônia, eu estava com 19 anos de idade, naquele tempo, só existia fazendo viagem pra cá, o navio Sapucaia e a Chata Cuiabá e um navio particular chamado Lobão, que era do Zeno Ferreira irmão de Aluízio Ferreira.

Zk – Quando desembarcou em Porto Velho qual o primeiro emprego?
Calixto – Fui trabalhar de ajudante de pedreiro na construção da Usina de Energia Elétrica que ficava na Sete de Setembro em frente desse prédio do Relógio, o chefe da obra era o Austerclínio um Mestre de Obra feito ‘nas coxas’.

Zk – Já veio casado?
Calixto – Não! Casei aqui em 1961. Antes andei trabalhando pelos seringais. Cortei seringa durante 4 anos nos seringais do rio Jamari, em especial, o Cajazeira que ficava acima de Ariquemes 23 quilômetros. Quando sai trouxe um saldo de 27 Mil Cruzeiros. Com esse dinheiro comprei um ponto na Feira Livre que ficava onde hoje é o Mercado Central. Vou lembrar algumas coisas do tempo que aqui desembarquei. O Banco do Brasil era numa casa de madeira de dois andares que ficava na rua Farquar, pro outro lado, já na José do Patrocínio ficava a casa do governador e a casa do diretor da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré e descendo pela Major Guapindaia hoje Rogério Weber tinha o Hotel Brasil. Quase ninguém tinha carro em Porto Velho naquele tempo, era todo mundo a pé ou naquelas bicicletas inglesas Halley e Hercules que vinham da Bolívia.

Zk – Uma história pitoresca do tempo de seringueiro! Tem?
Calixto – Conheci uma mulher na colocação onde eu cortava seringa e ela me contou que veio do Ceará pra cá fugida com um primo, ela com 14 anos, chegou aqui e foram trabalhar num seringal. No fim do primeiro mês o Noteiro do Barracão foi conferir a produção e só tinha Um Quilo de Borracha, passaram o tempo só fazendo amor. Então o Noteiro falou pro marido dela: tenho pena, mas, o senhor vai ficar sem a mulher e deu a mulher prum seringueiro que era mais feio virado no diabo. Apesar do cabra ser bom marido, ela não gostava dele de jeito nenhum e com a artimanha de mulher, no final da safra disse que gostaria de visitar uns parentes em Manaus e ele bancou a passagem. No meio da viagem conheceu outro seringueiro e foi com a cara dele e então pegaram outro barco e foi parar no seringal onde eu trabalhava. O pobre do bom seringueiro ficou sem o dinheiro e sem a mulher. Por isso que digo, não adianta interferência numa relação, quem manda é o coração, é o amor..

Zk – E como foi que de repente seu nome virou bloco de carnaval?
Calixto – O Antônio Carlos Tavernard e outros amigos vieram comigo falar pra criar um bloco com o meu nome e eu aceitei. Graças ao bloco, o Bar do Calixto se transformou no reduto dos sambistas, principalmente da turma do Asfaltão.

 



Deixe o seu comentário