Porto Velho/RO, 20 Março 2024 20:32:32
PLANTÃO DE POLÍCIA

Sumiço de agricultores completa um mês

Dois suspeitos do desaparecimento tiveram prisão preventiva decretada, mas estão foragidos.

Por Natália Figueiredo Diário da Amazônia
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Publicado: 14/01/2018 às 07h00min

A Polícia investiga se o desaparecimento dos trabalhadores tem ligações com uma disputa de terras da União (Foto: Arquivo Pessoal de Roseane Souza)

O desaparecimento dos agricultores Flávio de Lima de Souza, Marinalva Silva de Souza e Jairo Feitosa completou um mês neste sábado e, por enquanto, a polícia não fez avanços no caso. Os suspeitos pelo caso ainda não foram presos. Os agricultores desapareceram no dia 14 de dezembro do ano passado quando tiravam fotos de uma área de assentamento na região de Canutama, na divisa de Porto Velho (RO) com o Amazonas. Familiares querem que o caso seja investigado pela Polícia Federal (PF). Segundo Jucicleia Lima de Souza, irmã de Flávio de Lima, a região foi reconhecida pela Justiça Federal como área da União, o que, segundo ela deve caracterizar como federal os crimes praticados na localidade.

O caso está sendo investigado pela Polícia Civil do Amazonas como homicídio, mas nenhum indício concreto foi encontrado ainda.

A Polícia Civil do Amazonas também informou que enviou policiais à região para ajudar nas buscas dos três desaparecidos.

Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Amazonas, as buscas foram feitas no assentamento “Arara”, que pertence ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). A Polícia Civil de Porto Velho e o Exército prestaram apoio nas buscas e apuração do caso. Depois de quatro dias de buscas, no dia 24 de dezembro, o Exército suspendeu os trabalhos na área.

De acordo com o coronel Alexandre Fonseca, do 54º Batalhão de Infantaria de Selva, responsável pelas buscas, toda a área foi vasculhada, mas os agricultores não foram encontrados.

Por meio de nota, a Polícia Civil do Amazonas disse que as buscas aos três trabalhadores rurais foram suspensas e explicou a decisão: “as buscas foram esgotadas, eles não foram encontrados. Assim que houver novas pistas ou até mesmo a prisão dos foragidos, as buscas pelos desaparecidos serão retomadas, com base no que for apurado”, disse nota da assessoria de imprensa.

Antônio e Rinaldo são considerados foragidos pela justiça (Fotos PC do Amazonas)

Suspeitos

A Justiça do Amazonas determinou a prisão preventiva de Antônio Mijoler Garcia Filho e Rinaldo da Silva Mota, funcionários da fazenda Shalom, o decreto foi feito no último dia 28 de dezembro pela juíza Joselida Pereira Bilio, titular da Comarca de Canutama. Ela atendeu um pedido da Delegacia da Polícia Civil de Humaitá e determinou a realização de busca e apreensão nas residências dos suspeitos e na fazenda. Antônio e Rinaldo foram considerados como foragidos pela juíza. “Além disso, os representados empreenderam fuga do distrito da culpa, encontrando-se atualmente foragidos. Dessa forma, a medida constritiva faz-se também necessária para garantir futura aplicação da lei penal”, diz a decisão.

A Polícia Civil investiga se o desaparecimento dos trabalhadores tem ligações com uma disputa das terras da ocupação Comunidade do Igarapé Araras, que tem uma área de 9 mil hectares e 200 pessoas cadastradas. É nesta mesma área que está a fazenda Shalom, onde trabalham os dois suspeitos Antônio Mijoler Garcia Filho e Rinaldo da Silva Mota.

No último dia (03), o Departamento de Polícia do Interior (DPI) divulgou fotografias deles para que a população identifique-os e ajude os policiais na captura dos dois foragidos. Também conta com o apoio da Polícia Civil de Rondônia para capturar os suspeitos.

Em Canutama policiais fizeram buscas aos desaparecidos

Ameaças de morte

A coordenadora da Comissão Pastoral da Terra (CPT) em Rondônia, Maria Petronila Neto, disse que, no dia 1º de dezembro passado, Flávio Lima de Souza relatou à CPT que recebia ameaças dos funcionários da fazenda Shalom e que elas se intensificaram após a Justiça Federal cancelar as matrículas das empresas.

Segundo familiares dos desaparecidos, a Justiça Federal deu ganho de causa aos assentados. “Acredito que esse seja o motivo do crime, diz Jucicleia Lima.

“As ameaças eram constantes por parte dos funcionários da fazenda. Aumentaram depois da decisão judicial. O Flávio temia pela vida dele. Disse que várias pessoas fizeram boletins de ocorrências na delegacia de Humaitá (município vizinho de Canutama). Eles (os acusados pelos desaparecimentos) intimidavam e ameaçavam. Diziam que a fazenda era de pessoas influentes junto a autoridades, que os trabalhadores rurais não iam ficar com a terra, que se não saíssem por bem, sairiam por mal”, afirmou Maria Petronila.

Na última segunda-feira (8), uma comissão formada por parentes das vítimas manteve contado com o Ministério Público e com a Polícia Civil do Amazonas, mas não obteve nenhuma novidade sobre o caso.

“Ainda temos esperança, mas, se o pior tiver acontecido, queremos ter ao menos o direito de realizar o enterro”, declarou Jucicleia.



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