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Diário da Amazônia

Tucanos avaliam que governo Temer acabou

Tucanos articulam para impedir prolongamento do processo de cassação.

Por O Globo
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Publicado: 21/05/2017 às 05h01min | Atualizado 22/05/2017 às 14h14min

Temer é acusado de receber vantagens indevidas para a campanha à Vice-Presidência

Diante da resistência do presidente Michel Temer em renunciar ao mandato após a crise que se instalou em seu governo com a divulgação de delação da JBS, o PSDB passou a mirar o processo de cassação da chapa presidencial no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como saída mais viável para uma transição rápida e que deixe menos sequelas no País. O julgamento da chapa está previsto para o dia 06 de junho e, para evitar eventuais pedidos de vista que atrasem o processo, a cúpula tucana já se articula junto a ministros da Corte para evitar esse prolongamento.

Há, no PSDB, um sentimento generalizado de que o governo Temer chegou ao fim. A análise entre as principais lideranças do partido é de que o melhor seria que o presidente renunciasse para que seja promovida uma transição rápida e com algum grau de tranquilidade. A cúpula tucana não descarta conversar com o presidente nos próximos dias para informá-lo de que sua situação se tornou insustentável e que é preciso articular sua saída.

“A coisa está traçada. Não é descartado dizermos ao presidente que não é possível mais, precisamos encontrar uma saída para não parar o Brasil e refletir com ele sobre a conjuntura para ele ajudar no processo de transição. Ele perdeu as condições e precisamos de um novo governo. Se ele achar que tem condição de continuar, ele não contará conosco no governo dele”, afirma um senador do PSDB.

As lideranças tucanas avaliam, no entanto, que Temer deu demonstrações, nas horas que seguiram as revelações, de que não pretende abrir mão do cargo e que irá se “entrincheirar” no Palácio do Planalto, junto a auxiliares que têm interesses pessoais em permanecer no poder para manterem o foro privilegiado, como os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria Geral), ambos envolvidos na Lava-Jato. Daí a ideia de sensibilizar os ministros do TSE para que promovam um julgamento rápido que proporcione um desfecho menos “doloroso” para a crise.

“O governo acabou. O que estamos fazendo é tentar encontrar saída negociada para abreviar o sofrimento. Fazer agora uma debandada é acabar literalmente com governo e ameaçar de morte as reformas, porque o PSDB é a principal base de sustentação. Como próximos passos vemos ou a renúncia ou o julgamento no TSE. Alguns no partido entendem que o julgamento é menos traumático, seria a saída honrosa por se tratar de uma decisão judicial. O partido está vendo quem poderia articular junto aos ministros a possibilidade de não ter pedido de vista”, explicou um tucano.

SITUAÇÃO do presidente ficou “INSUSTENTÁVEL”

Para outro parlamentar tucano, que participa das articulações do partido neste momento, o ideal seria Temer renunciar até a semana que vem. Isto evitaria o aumento da pressão popular e da instabilidade política. Caso isto não aconteça, destaca este tucano, o presidente tem o encontro marcado com o TSE daqui a duas semanas:

O ideal seria até semana que vem ele sair. Mas não sei se isso será viabilizado, ele talvez se agarre ao osso como alternativa derradeira. O entorno dele, com Padilha e Moreira, vai orientá-lo a resistir. Preocupa porque teremos um presidente fragilizado com movimento de rua crescente, o Congresso em frangalhos e vai para o campo das ameaças institucionais. O pior cenário que pode acontecer é o entrincheiramento do Temer no Palácio. Mas Temer vai ter um encontro dia 06 no TSE. Se ele resiste à renúncia, pode ser afastado dia 06 de junho – pontuou esta liderança do partido.

Caso o TSE determine o afastamento do presidente, a Constituição diz, em seu artigo 81, que, “ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita trinta dias depois da última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei”.

Na quinta-feira, após movimentação de ministros tucanos para deixarem seus cargos, pressionados pela base, o presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), divulgou nota afirmando que pediu aos ministros que permanecessem no governo até a análise do conteúdo das gravações envolvendo o presidente Michel Temer e o dono da JBS, Joesley Batista. Mas, já existe um consenso na cúpula tucana de que a situação do governo se tornou “insustentável” e que é preciso promover a transição para uma nova gestão.

Aliados articulam saída negociada

Partidos aliados de primeira hora do presidente Michel Temer buscam uma saída negociada com o Planalto que seja uma continuidade do que, para eles, vem dando certo no atual governo. Diante da perspectiva de agravamento da crise deflagrada pelas delações da JBS, líderes de siglas como PSDB, PMDB e DEM pretendem bloquear qualquer iniciativa de realizar eleições diretas por meio de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) e articulam um nome de consenso para uma eventual disputa indireta no Congresso.

Nas últimas horas, ganhou força o nome de Henrique Meirelles, ministro da Fazenda de Temer, como uma alternativa viável para manter a base unida e a bandeira das reformas hasteada. Se Temer renunciar, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), terá 30 dias para convocar o pleito, que contará apenas com senadores e deputados no colégio eleitoral.
Principal aliado do governo, o PSDB ensaiou uma debandada após a divulgação do áudio da conversa entre o Joesley Batista, da JBS, e Michel Temer, mas recuou após um pedido de tempo para a construção de um consenso que evitasse a implosão da base e comprometesse as reformas.

Meirelles é filiado ao PSD, partido liderado por Gilberto Kassab, ministro da Ciência, Tecnologia e Comunicação. Ele tem sido assediado por políticos para aceitar a missão. Os outros nomes ventilados nos bastidores do Congresso são o próprio Rodrigo Maia e o senador tucano Tasso Jereissati (CE).

Meirelles tem a seu favor a condução da política econômica, que começa a apresentar os primeiros resultados, e também um bom trânsito com setores da oposição.



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