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Diário da Amazônia

A história dos 40 anos da quadrilha junina Rosa Divina

Roberto da Rocha Matias A história dos 40 anos da quadrilha junina Rosa Divina Ela é o único grupo de quadrilha junina, em atividade em..

Por Sílvio Santos
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Publicado: 18/05/2019 às 12h49min | Atualizado 18/05/2019 às 13h08min

Roberto da Rocha Matias

A história dos 40 anos da quadrilha junina Rosa Divina

Ela é o único grupo de quadrilha junina, em atividade em Porto Velho, que participou da 1ª Mostra de Quadrilhas e Bois Bumbás realizada pelo governo do estado de Rondônia no ano de 1982, que aconteceu na quadra do colégio Rio Branco. Estamos nos referindo à quadrilha junina ROSA DIVINA.

Para contar a história desses 40 anos, festejada no dia 13 de maio passado, conversamos com um de seus fundadores o folclorista compositor Roberto Matias.

Vamos conhecer a história da mais antiga quadrilha junina em atividade em Porto Velho: Rosa Divina.

ENTREVISTA

ZK – Vamos falar sobre os 40 anos da quadrilha Rosa Divina. Como foi que ela surgiu?

Roberto Matias – Surgiu no bairro Mato Grosso perto do bairro do Rasgado na igreja do Divino Espirito Santo. Naquele tempo, os jovens participavam das reuniões do Grupo de Jovem da Igreja – JUES onde tinha eu, Adão, Carlos Sérgio, José Martins, Ana, Jatobeu que é o Ademar Batista, Edmilson entre outros. Essa turma sempre estava junta nas reuniões do JUES. Quando chegava o mês de junho, eram realizadas as quermesses da igreja onde acontecia o arraial e as danças de quadrilha e boi bumbá e os jovens se vestiam de caipira e dançavam aquela quadrilha tradicional, com os cavalheiros vestindo com camisa quadriculada, calça remendada e chapéu de palha e as damas com vestidos de Chitão.

Zk – Naquele tempo os festivais de dança de quadrilha aconteciam nas quadras dos colégios, vocês participavam?

Roberto Matias – A maioria dos colégios realizavam arraiais no mês de junho e as quadrilhas dos bairros e dos colégios se apresentavam e tinham os arraiais dos bairros entre eles o Arraial do Divino Espírito Santo onde surgiu a Rosa Divina.

Zk – Quem foi que surgiu a idéia da criação da quadrilha?

Roberto Matias – Na realidade a gente já dançava nas quermesses da Igreja. Numa das reuniões foi sugerido que criássemos um nome para a quadrilha. Várias denominações foram sugeridas: Flor da Roseira, Flor da Rosa, Grande Rosa até que um de nós que não recordo o nome sugeriu: Minha idéia é juntar os nomes Rosa e Divino. Então ficou “Quadrilha Rosa Divina”, isso aconteceu no dia 13 de maio de 1979.

Zk – Vocês se apresentaram na 1ª Mostra de Quadrilhas e Bois Bumbás realizada pela recém-criada Secretaria de Cultura – Secet em 1982. Como surgiu o convite?

Roberto Matias – Certo dia recebemos a visita de uma turma da Secet dizendo que estavam pesquisando a existência de grupos de quadrilhas juninas, que era para o governo ajudar e convidar para dançar numa Mostra de dança de quadrilha e boi bumbá que a Secet iria realizar. Solicitaram uma relação com a quantidade de brincantes para era para comprar o material.

Zk – Que material foi esse?

Roberto Matias – Em especial o tecido Chitão para a confecção das indumentárias das Damas e Xadrez para a confecção das camisas dos Cavalheiros. Esses tecidos chegavam em forma de peças inteiras e a gente é que dividia, um pedaço pra cada brincante e cada um se virava pra confeccionar sua roupa. Assim fomos nos apresentar na 1ª Mostra de Quadrilha e Bois Bumbás realizada pelo governo do estado de Rondônia via Secet que aconteceu na quadra de esportes do colégio Rio Branco no ano de 1982, ano da instalação do estado.

Zk – Você lembra quais grupos se apresentaram na 1ª Mostra?

Roberto Matias – A primeira Mostra de Quadrilhas e Bois Bumbás aconteceu entre os dias 24 e 28 de junho do ano de 1982, como já dissemos na quadra do colégio Rio Branco. Quinze Grupos se apresentaram, sendo 10 Quadrilhas: Arrasta Pé da Tupi, Beija Flor do Norte, Pote Sem Fundo, Flor Vermelha, Rosa Divina, Lampião e Seu Cangaço, Uma Noite no Sertão, ABC da Saudade, Rosa Esquisita, Matutos da Jamary e Flor do Amor e 5 grupos de Bois Bumbás: Rei do Campo, Caprichoso, Brilhamante, Malhadinho e o boi mirim Tira Cisma.

Zk – Nessa 1ª Mostra a Rosa Divina ficou em qual classificação?

Roberto Matias – Ficamos com o 3º lugar. Em primeiro lugar deu empate entre as quadrilhas Beija Flor do Norte e Matutos do Jamari. Na categoria boi bumbá também deu empate entre o bois Caprichoso e Malhadinho, porém, o desempate entre os bois foi através do júri popular que escolheu o Boi Malhadinho do Lourenço.

Zk – Como foi a apresentação da Rosa Divina?

Roberto Matias – Já entramos inovando, colocamos uma alegoria. Naquele tempo tinham aparecidos esses carrinhos de supermercado e então utilizamos um desses carrinhos colocando uma FOGUEIRINHA com BANDEIRINHAS e apresentamos como alegoria. Quer dizer, somos pioneiros nesse negócio de colocar alegoria no Flor do Maracujá.

Zk – Você lembra o nome do 1º casal de noivos. Quantos títulos tem a Rosa Divina no Flor do Maracujá?

Roberto Matias – São cinco (5) títulos como campeã do Flor do Maracujá. Até a chegada da Rádio Farol, inclusive temos dois títulos empatados com eles. O primeiro casal de noivos foi o Quiquinha e Zeneide o 1º marcador foi o Benigno, depois vieram pela ordem o Adão seguido do Carlos Sérgio. Hoje ainda não definimos entre o Allan e o Alisson. O Alisson dançou na quadrilha mirim como noivo, já na quadrilha adulta o Carlos Sérgio passou o bastão de marcador pra ele, Por um tempo ele esteve fora e agora está de volta.

Zk – Segundo consta, foi você o responsável pela introdução do Casal de Velho como quesito de julgamento. Como essa história pra gente?

Roberto Matias – Não existia o Casal de Velho existia o Pai e a Mãe da noiva porque naquele tempo toda apresentação começava com o Casamento na Roça. O pai e a mãe da noiva se caracterizavam de pessoas bem maduras já de idade. Foi então que tivemos a idéia de nos caracterizarmos de Velho e Velha, quer dizer, introduzimos esses personagens na dança de quadrilha em Porto Velho.  Veja bem, minha parceira até hoje se apresenta como Velha no Flor do Maracujá e olha que parei faz tempo. É a Edilene conhecida como Dila.

Zk – O casal de velho tem que se apresentar a parte, quero dizer, sem ser no meio dos demais pares?

Roberto Matias – Aí existe um mal entendido. Eu e minha Velha dançávamos junto com os demais pares. O que acontecia era que como éramos um casal de idosos, a gente demorava um pouco pra chegar até onde estavam os demais integrantes dançando, porém o marcador dava um tempo até que a gente chegava para integrar o grupo. Os casais de Velhos de hoje não se integram aos demais brincantes, ficam rodando pela quadra sem fazer nada a não ser se apresentar quando são anunciados.

Zk – Uma história pitoresca que aconteceu na Rosa Divina?

Roberto Matias – Todo mundo ou a maioria, quer ser destaque na apresentação. Então se caracterizavam como Mazaropi, Jeca Tatu e outros. Certa vez a gente ia se apresentar num arraial no Tucumanzal e um brincante foi enchendo o saco do Adão dizendo que queria ser personagem e o Adão questionava, que personagem, já está tudo completo, foi então que na ida para esse arraial, Adão viu um saco jogado a beira da rua, pegou e disse, coloca isso aí, você vai ser o “Chico Lixeiro”. Como nosso casal de Velho passou a ser esperado pelos frequentadores do Flor, a Coordenação da Mostra o colocou como quesito em julgamento. Hoje o casal de velho é obrigado a se apresentar nos grupos de quadrilhas.

Zk – Outra inovação da Rosa Divina foi se apresentar com Banda e Música própria. Como surgiu essa idéia?

Roberto Matias – Antes o governo contratava uma Banda para tocar para todos os grupos. Primeiro foi o Evandro, depois os Cobras do Forró e por fim a Banda do Cobra Choca. Na época era proibido usar CD. Acontece que no nosso grupo alguns brincantes começaram a se destacar como músicos, inclusive o rapaz que toca Sax é professor de música na escola Som na Leste e foi ele quem organizou a moçada que tocava algum instrumento e pertencia a Rosa Divina e então formou a nossa Banda Própria. Vale salientar que a Rosa Divina tem um repertório considerável de músicas autorais, feitas por integrantes do grupo. Ele pegou essas músicas e passou a executa-las em nossas apresentações. Existem composição minha, do Carlos Sérgio, sua, do Emanuel já adaptamos músicas do Ernesto Melo. Já nos apresentamos no Flor do Maracujá tocando só músicas dos nossos compositores, fato que nenhum grupo até hoje fez. Quer dizer é mais um item que somos pioneiros. Uma música que até hoje é destaque “A Dança do Remo” é de autoria do Silvio Santos – Zekatraca. Fomos também a primeira quadrilha a tocar o hino de Rondônia no ritmo da quadrilha no Flor do Maracujá.

Zk – Vamos encerrar falando sobre o tema da Rosa Divina para este ano?

Roberto Matias – Pois é, agora todo mundo tem um tema, parece escola de samba, tem “Enredo” e utilizam até alegorias. Antes a gente colocava apenas cenários, de uns tempos pra cá a maioria dos grupos passaram a se apresentar com grandes alegorias. Tá mais pra escola de samba. Nosso tema é “Rosa Divina – 40 Anos de Tradição e Evolução”. Vamos pra cima em busca de mais um título.



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