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Diário da Amazônia

71% das queimadas em áreas rurais na Amazônia foram para manejo agropecuário

Dados são referentes ao primeiro semestre de 2020. Incêndios florestais (24%) e desmatamento recente (5%) são as outras causas do fogo neste

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Publicado: 04/08/2020 às 09h18min

Em novo relatório com base na plataforma Modis, da agência especial americana (Nasa), o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) informa que 71% das queimadas em imóveis rurais entre janeiro e junho de 2020 ocorreram para manejo agropecuário. Outros 24% foram incêndios florestais e 5% decorrentes de desmatamento recente.

Tipos de fogo na Amazônia

  • Para manejo agropecuário – tipo mais comum na região, ele serve para fazer a limpeza do pasto e reaproveitar o terreno para agricultura e/ou pecuária;
  • Incêndios florestais – fogo que atinge a floresta em pé ou vegetação nativa não-florestal; normalmente, escapa de áreas próximas já atingidas pelas queimadas, como desmatamento e manejo agropecuário;
  • Desmatamento recente – queima de árvores derrubadas após desmatamento, uma técnica barata e rápida para limpeza do terreno.

Além disso, metade dos focos de calor detectados no primeiro semestre deste ano ocorreram em imóveis rurais de médio e grande porte – nesta categoria, o fogo para manejo agropecuário também foi o tipo mais comum.

“Esses números demonstram como o fogo é ainda amplamente utilizado no manejo de pastos e áreas agrícolas, independentemente do tamanho do imóvel, do lote e do negócio, e a despeito da existência de técnicas mais modernas que o substituem”, apresenta o relatório.

Dados entre 2016 e 2019

Considerando os dados entre 2016 e 2019, 64% dos focos de calor foram detectados em áreas recém-desmatadas (22%) ou convertidas para uso da agropecuária (42%). Outros 36% estavam relacionados aos incêndios florestais.

“Em 2019, o fogo na Amazônia se distribuiu de forma relativamente equilibrada entre os três tipos mais comuns. As queimadas associadas ao manejo agropecuário e o fogo ligado ao desmatamento recente responderam por 36% e 34%, respectivamente, enquanto os incêndios florestais responderam por 30% dos registros”, explicou o Ipam, com um recorte mais específico para o ano passado.

Os focos de calor detectados pela Nasa são do satélite Aqua – o mesmo usado como referência pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) – e capturam registros de fogo de no mínimo 30 metros de extensão ocorrendo em uma área de 1 km². Por isso, independente de serem pequenos focos de fogo ou um grande incêndio florestal, será contabilizado como apenas uma queimada neste espaço delimitado.

O Ipam ressalta que 90% do fogo da Amazônia é contabilizado historicamente entre julho e outubro, com o pico em setembro. A região passa pelo início da temporada de queimadas. O Pantanal, no entanto, teve o mês de julho com mais focos de incêndio desde início das medições feitas pelo Inpe, em 1998. Foram 1.684 pontos no bioma.

Dados do Inpe de julho

Polícia flagra desmatamento e queimada em áreas com cerca de 16 hectares no interior do AC — Foto: Arquivo/PM-AC

O Inpe detectou um aumento de 27,9% nas queimadas em julho deste ano em relação ao mesmo mês de 2019 na Amazônia. Além disso, na última quinta-feira (30), 1.007 pontos de calor foram incluídos no sistema de monitoramento – segundo dia que mais queimou em julho nos últimos 15 anos. Agora, o recorde é de 1º de agosto deste ano, com 1.275 focos.

Total de focos de queimadas na Amazônia:

  • Julho de 2019 – 5.318
  • Julho de 2020 – 6.803

Queimadas e desmatamento

As queimadas são apenas uma das etapas do ciclo de uso da terra na Amazônia. Depois do desmate, se nada de novo acontecer, a floresta pode se regenerar. Uma floresta secundária, no entanto, nunca será como uma original, mesmo que uma parte da biodiversidade consiga se restabelecer. Na prática, o que acontece é que a mata não tem tempo de crescer de novo.

Uso da terra no Brasil — Foto: Roberta Jaworski/G1

De acordo com ambientalistas ouvidos pelo G1, há muito mais a ser queimado ainda na Amazônia, já que novos recordes de desmate foram batidos neste ano.

“O fogo é uma das principais ferramentas utilizadas para o desmatamento, especialmente por grileiros e agricultores, que o usam para limpar áreas para uso agropecuária ou especulação. Isso é mais uma prova que esse governo não tem uma política de proteção ambiental e tenta, de maneira desorganizada, passar a imagem que está tentando resolver o problema”, disse Rômulo Batista, porta-voz do Greenpeace.

O bioma registrou 1.034,4 km² de área sob alerta de desmatamento em junho, recorde para o mês em toda a série história, que começou em 2015. No acumulado do semestre, os alertas indicam devastação em 3.069,57 km² da Amazônia, aumento de 25% em comparação ao primeiro semestre de 2019.

Os alertas até junho de 2020 apontam:

  • sinais de devastação em 3.069,57 km² da Amazônia neste ano
  • aumento de 25% de janeiro a junho, comparado ao mesmo período do ano anterior
  • aumento de 64% no acumulado dos últimos 11 meses, comparado ao período anterior (a um mês do fechamento oficial de desmatamento, alertas apontam tendência de aumento na devastação)
  • O número de junho é 10,6% maior do que o registrado no mesmo mês em 2019
  • Na comparação com maio, houve aumento de 24,31% em relação ao mesmo mês de 2019, que também havia sido recorde para o período.
  • Os dados servem de indicação às equipes de fiscalização sobre onde pode estar havendo crime ambiental. Os números não representam a taxa oficial de desmatamento, que é medida por outro sistema, divulgado uma vez ao ano.

Aumento das queimadas no Pantanal

Queimadas no Pantanal de Mato Grosso — Foto: ICV/Assessoria

O Pantanal mato-grossense teve um aumento de 530% nos registros de queimadas no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. Os focos de calor em alta durante o período chuvoso no bioma alertam para um cenário crítico com a chegada da seca em todo o estado, época mais suscetível às queimadas.

Em entrevista ao Jornal Nacional, pesquisadores relacionam o aumento das queimadas no Pantanal também ao desmatamento na Amazônia – é da floresta que vem a maior parte da umidade que alimenta o Pantanal, explicam.

“Essa baixa quantidade de chuvas fez com que nós tivéssemos, este ano, a menor cheia dos últimos 47 anos. E, segundo as nossas estimativas, é bem provável que nós teremos também a maior seca desse mesmo período”, avaliou Carlos Padovani, da Embrapa.

A floresta lança no ar a umidade que é levada pelas correntes até esbarrar na Cordilheira do Andes. Volta, então, distribuindo chuva para toda uma região que vai até o Sul do Brasil. Quando esse maciço verde começa a ser fragmentado, não lança tanta umidade assim e falta chuva no Centro-Oeste.

“Nestas condições, não ocorre a recarga dos aquíferos que viabilizam o retorno dessa umidade estocada na bacia para a formação de nuvens. Então, se a chuva de 600 milímetros acontecesse somente em outubro e novembro, os demais meses ficam secos e a estiagem será maior”, explicou Ivan Bergier, da Embrapa. (G1)



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