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ESPORTE

‘A natação no Brasil está muito chata’, afirma Cesar Cielo

Principal nadador do País, com 19 medalhas em Mundiais, ele diz que o sistema de clubes está ultrapassado

Por Estadão conteúdo
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Publicado: 11/03/2019 às 10h29min

Aos 32 anos, Cesar Cielo quer mudar a natação no Brasil. Tem ideias para isso. Ele admite cansaço da rotina de treinos, mas quer seguir em forma. Não sabe qual será sua próxima disputa. “Mas não posso abandonar a piscina porque hoje muito da minha vida depende da minha forma física. Vai que daqui a seis meses dá vontade de voltar a treinar mais forte”, disse o campeão olímpico ao Estado.

Cielo é o brasileiro com o maior número de medalhas em Mundiais, 19. Ele não renovou contrato com o Pinheiros e agora faz treinos mais leves por conta própria na piscina do Centro Olímpico de São Paulo. Já descartou disputar o Troféu Maria Lenk, o que, por consequência, acaba com suas chances de competir nos Jogos Pan-Americanos de Lima e no Mundial, na Coreia do Sul – a principal competição brasileira é seletiva para estes torneios internacionais. A Olimpíada de Tóquio, ano que vem, contudo, ainda é uma chance de despedida. Enquanto cogita a possibilidade, preenche sua agenda com clínicas, eventos de exibição, torneios menores e sua atuação na Fiore, sua empresa de produtos aquáticos.

O nadador César Cielo

Para ele, o treino de alto rendimento no sistema dos clubes tem prazo para acabar e os atletas logo precisarão pensar em alternativas. Tenta alterar esse cenário ao prever nova parceria com uma instituição (não necessariamente clube), que deve ser anunciada logo.

O Mundial de piscina curta, no fim do ano, te deu motivação para continuar em atividade?

O Mundial foi legal, bati o recorde de medalhas em mundiais (19). Saí de lá satisfeito, mas, sinceramente, isso não teve influência. Neste ano, agendei alguns eventos, como essa competição no México. Aí acelerei um pouco o treino. Agora em março vamos para o Peru, tenho uma demonstração lá. Nesses eventos, não posso dar vexame, né? Continuei treinando para os eventos e para promover a minha clínica.

Ainda não é hora de parar?

Queria dar uma descansada da rotina. São anos fazendo isso. Mas não posso abandonar a piscina porque hoje muito da minha vida depende da minha forma física. Vai que daqui a seis meses dá uma vontade de voltar a treinar mais forte? Para deixar essa chance em aberto, não vou decidir nada agora, até porque não preciso. Não ter responsabilidade com nenhum clube me dá essa liberdade. Estou treinando de forma mais tranquila.

Competir nos Jogos de Tóquio, em 2020, é um objetivo real?

Não está descartado. Mas não vou falar que é um objetivo real. Não sei te responder isso agora. Não descartei, mas não é uma coisa para a qual me comprometi 100%. O que não quero é me colocar numa situação em que esteja completamente fora de forma lá para outubro porque aí a retomada dos treinos levaria tempo. Então, para não tirar essa possibilidade da minha vida, estou fazendo esses treinos leves. Mas, se for continuar nadando, de 2020 não passa. 2021 está fora de cogitação.

Tentou renovar com o Pinheiros ou foi opção sua não assinar?

Foi uma situação que acabou não acontecendo. Meu contrato ia até dezembro. Quando assinei no início de 2017, não queria contrato mais longo porque não sabia o que iria acontecer. Não queria prometer nada. E o contrato acabou.

Está à procura de um clube?

Estou procurando uma instituição, não necessariamente um clube. Acho, sinceramente, que o sistema clubístico é o que mantém o que temos vivo hoje, mas não é bom para a natação nem para o esporte nacional. Não é culpa dos clubes, o problema é o sistema. É complicado porque o clube é feito para o associado. Jogar um CT no meio de um clube sempre vai gerar conflito. Hoje é o cenário que temos e o que mantém a natação. Mas precisamos buscar formatos diferentes para ter flexibilidade e liberdade maior para horários de treinos. Com o clube sempre vai ter de respeitar o horário da escolinha, do associado… Faz parte do processo.

Tem alguma negociação?

Converso com várias pessoas. Quero algo novo, se possível que tenha relação com o meu projeto social. Pode ser, quem sabe, o primeiro passo para fora desse sistema clubístico.

Como seria o novo vínculo?

Não quero mais ser simplesmente um atleta de clube. Estou tentando me colocar numa posição em que tenha várias funções na equipe: desde nadador a mentor, gestor.

O que te incomodava?

Ser mais um ali é o que me fez cansar do sistema. Não quero ser mais um cara que marca ponto no Maria Lenk. Olha, temos três campeonatos por ano, que duram cinco dias e são chatos. Ninguém acompanha a natação no Brasil porque não dá. Quem assiste à natação na terça-feira à tarde na TV? Ninguém. Quarta-feira à tarde? Ninguém! Vai assistir talvez no sábado e mesmo assim não assiste porque a etapa tem três horas de duração e é chata. Estava com a sensação de que fazia parte de um negócio que estava morrendo.

Você tem conseguido manter os seus patrocínios?

Sim, alguns. Mas hoje o cenário mudou, não existe mais patrocínio. Com a internet, o cenário de investimento de marketing e exposição de marca mudou. A minha geração foi a última que teve patrocínio fixo. De 2016 para cá, não existe mais. O que existe é uma pessoa que vai fazer uma troca com você de imagem, de exposição, usando rede social, usando a sua roupa. Acho que este é o caminho para a natação e para todos os esportes. Temos de começar a buscar meios diferentes de investimento. Ninguém mais quer fazer um investimento de três anos num atleta. O mercado mudou, ficar reclamando não adianta.



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