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RONDÔNIA

A saga ribeirinha e a falta de condições de escoamento

Os moradores da região do Vale do Rio Madeira, chamados de Ribeirinhos ou Beiradeiros, estão na região há mais de dois séculos.

Por Redação Diário da Amazônia
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Publicado: 23/05/2020 às 06h00min | Atualizado 24/05/2020 às 14h15min

(Foto: J. Machadp)

A vida simples e a cultura tradicional faz com que o morador permaneça no lugar, enfrentando as dificuldades e na espera de tempos melhores


Os moradores da região do Vale do Rio Madeira, chamados de Ribeirinhos ou Beiradeiros, estão na região há mais de dois séculos. São gerações criadas no estilo de vida de plena dependência com o rio e os frutos da terra. Esses povos tem uma formação étnica própria, sendo uma miscelânea de índios, negros e nordestinos estes vindo de diversos estados do Nordeste brasileiro para trabalharem na extração do látex (borracha) retirado da abundante floresta de seringueiras nativas, ainda existente na região.

(Foto J. Machado)

 O banho de rio e a convivência com a natureza está incluso na rotina beradeira


Por aqui ficaram criando novas famílias e gerando raízes. Tempos atrás, o governo mandava os chamados batelões (embarcações de fundo chato) que levava subsídios alimentares com um composto de carne seca, arroz, feijão, sal, açúcar e café. Os beradeiros viviam do extrativismo, além da borracha, o açaí e a castanha, além de outros frutos amazônicos.

Com o passar do tempo a ajuda de alimentos foi diminuindo até acabar o benefício. O extrativismo deixou de ser rentável diante do custo de transporte. Em lugares onde rios são estradas e a distância da capital causa isolamento social constante, a ausência do poder público faz com que a vida beradeira seja ainda mais difícil.

O que essa população produz serve para a subsistência e o excedente é vendido. Mas os valores apurados com as vendas não custeiam a vida produtiva nos distritos e localidades ao longo do rio Madeira e seus afluentes. Para um beiradeiro vir de barco até Porto Velho, paga em média R$ 140,00 (ida e volta). Se embarcar junto a produção, paga além cerca de R$ 2,50 por cada cacho de banana. O frete da farinha, custa em média R$ 20.00 a saca.


(Foto: J. Machado)

Como esses produtores tradicionais não tem meios de transportes próprios, ao chegarem ao porto, precisam vender a produção aos atravessadores que pagam irrisórios valores. Todo o esforço acaba ficando sem lucro. É como uma troca de moedas, sem renda pelo trabalho de produzir. Isolados e sem apoio, esses moradores são explorados de várias maneiras.

A produção de farinha de madioca é importante fonte de alimentação para os moradores ao longo do rio Madeira e seus afluentes. O excedente da produção é comercializado, mas o frete consome os ganhos dos produtores.

A região ribeirinha é de solo fértil e o povo é disposto ao trabalho, mas não compensa a produção por falta de condições de transportes. Sem subsidio, o beradeiro permanece na vida simples, sem poder ousar.

A inexistência de políticas públicas impede o progresso dessas famílias, que estão desacreditadas do futuro. Esses moradores carecem de apoio fundamentais para que possam plantar, colher, produzir e ter logística que possa garantir o escoamento da produção. Como vivem de forma tradicional, seus produtos são orgânicos de excelente qualidade, porém, não geram valores que possam garantir ciclos maiores.

(J. Machado)

A Castanha-do-Brasil tem excelente procura e comercialização, mas os beradeiros tem dificuldade de transporte. O produto colhido na floresta também é vendido para os atravessadores nos portos

 



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