Porto Velho/RO, 22 Março 2024 04:42:16

Água tratada só no próximo ano

A  chegada do chamado Verão Amazônico que corresponde aos meses de junho a setembro sugere uma série de mudanças na rotina dos..

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Publicado: 21/08/2014 às 20h12min | Atualizado 27/04/2015 às 23h45min

Moradores do bairro JK, zona Leste, são obrigados à busca água na Secretaria Municipal de Obras na Capital

Moradores do bairro JK, zona Leste, são obrigados à busca água na Secretaria Municipal de Obras na Capital

A  chegada do chamado Verão Amazônico que corresponde aos meses de junho a setembro sugere uma série de mudanças na rotina dos moradores de Porto Velho. Uma delas é que no período de estiagem, quando os poços de abastecimento de água (amazonas), construídos geralmente nos quintais das casas, costumam secar e deixar os moradores em situação de vulnerabilidade, tendo em vista que na Capital, a oferta de água tratada não contempla toda a população.
Moradores de parte das zonas Sul e Leste aparentemente são os que mais sofrem com a falta de água. Muitos precisam fazer manobras e usar a criatividade para vencer o período de seca, como fazer parcerias com os vizinhos e elaborar esquemas para utilização do recurso hídrico.
Sinandéia Ortiz, 38, dona de casa, é moradora do bairro Caladinho, zona Sul, há mais de 25 anos. Mora numa vila de três apartamentos, os quais são divididos com pessoas da mesma família. Conta que todos os anos o poço que abastece a vila com água, seca e de agosto a outubro os familiares experimentam o mesmo sofrimento: ter que pedir água para os vizinhos. “Todo ano é este mesmo sacrifício, quando para de chover já sabemos que vamos ficar sem água”, lamenta.
Intrigante é que a vizinha que cede água para a família Ortiz também sofre a falta de água. Maria Francisca Neres, 58, dona de casa, explica que elabora uma espécie de agenda para desenvolver no período em que falta água.
“Tem que ter dia certo para lavar roupa e juntar louça, por exemplo, para lavar de uma só vez. Muda toda a rotina em função da falta de água, mas ainda assim conseguimos compartilhar. É só saber economizar”, ensina. Dona Maria mora no bairro Caladinho, desde 1985 e diz que ela e várias outras pessoas do setor aguardam pela distribuição de água tratada na região. “Muitas pessoas que moram por aqui já tem poço artesiano, mas não é todo mundo que tem condições”, salienta.
No bairro Caladinho, a rede de instalação de hidrômetros foi instalada e as ligações domiciliares (as caixinhas) também foram construídas e fazem parte de um contrato oriundo do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que está em andamento desde 2008, mas que ainda não foi concluído.

Água tratada para 100% da população até março de 2015

População sofre com poços artesianos secos na época do Verão Amazônico

População sofre com poços artesianos secos na época do Verão Amazônico

Cerca de 60% da população de Porto Velho recebe água tratada (encanada), de acordo com Iacira Azamor, presidente da Companhia de Água e Esgoto de Rondônia (Caerd), e a previsão dela é de que até o mês de março de 2015, todos os bairros da Capital estejam contemplados com a oferta de água tratada. Segundo a presidente, cerca de 20 bairros ainda não fazem parte da rede de distribuição.
O problema, segundo Iacira Azamor, é que as obras: construção de rede de instalação de hidrômetros, ligações domiciliares, de adutora e uma estação de tratamento fazem parte de um pacote de obras que utilizam recurso do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal e contrapartida do Estado, mas que enfrentaram alguns obstáculos ao longo de seu desenvolvimento, como solicitação de paralisação pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e falta de envolvimento da empresa contratada para uma das obras. “Temos três contratos que objetivam viabilizar a expansão da rede de distribuição, um deles, firmado em 2008, possibilitou a instalação dos hidrômetros nos bairros, mas precisamos concluir todo o processo”, detalha.
Os contratos para este fim são respectivamente de R$ 120, 22 e 24 milhões. O contrato de R$ 22 milhões deve ser usado na expansão da rede na zona Leste, principalmente no bairro Mariana. Já o contrato de R$ 24 milhões contemplará novos condomínios que foram construídos em Porto Velho. Ainda segundo a presidente da Caerd, as instalações da rede foram feitas, falta concluir a construção da adutora e da Estação de Tratamento. A retomada destas obras será no mês de setembro, com previsão de mais seis meses para conclusão. “Até o mês de março nossa expectativa é de atender 100% da cidade com água tratada. Temos que trabalhar rapidamente com esses contratos para atender à população”, conclui Iacira Azamor.

lacira-azamor-140x80Até o mês de março nossa expectativa é de atender 100% da cidade com água tratada.
Iacira Azamor, pres. caerd

 

Problema também na zona Leste

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Água é artigo de luxo para parte de moradores que não possuem serviços da Caerd

Em decorrência disso, o problema da escassez de água se repete do outro lado da cidade: na zona Leste de Porto Velho, no bairro São Francisco, os moradores precisam percorrer um longo caminho para encher garrafões com água proveniente de um poço artesiano. Primeiramente porque não confiam na água que brota nos poços e atualmente porque os reservatórios também estão secando. Douglas Oliveira, 25, mecânico, mora no bairro São Francisco e afirma que nasceu na zona Leste. Diz que sempre presenciou o problema de abastecimento de água na região em que mora. “Os moradores do bairro precisam buscar água na escola Mariana, que possui quatro torneiras ou na sede da Semob, no bairro JK”, conta. “Aqui em casa fiz um acordo com meu vizinho: “Puxei encanamento e instalei uma torneira em casa, em troca faço limpeza na caixa d’água dele sempre que é preciso”, diz Douglas.
Nos dois locais citados por Douglas, a água é proveniente de poços artesianos e as pessoas enchem seus garrafões com água para o consumo e preparo de alimentos. “Se a água que consumimos aqui é de qualidade ninguém sabe, se fará mal à saúde também não sabemos. Vivemos a grosso modo, pode-se dizer assim”, complementa o morador do bairro São Francisco. Douglas declarou-se satisfeito com a oportunidade de falar em nome dos moradores de sua comunidade e resolveu fazer um pedido. “Peço que as autoridades olhem com bons olhos para este bairro, que é a população central da zona Leste, porque infelizmente não atentam e deixam chegar a este estágio. Esquecem que água é um princípio básico de qualquer  ser humano”, desabafa.
Ainda no bairro São Francisco, dona Maria da Conceição Campos ensina como os moradores adotam o sistema de “revezamento” para economizar água no período de estiagem. “Você liga a bomba por uns 10 minutos e desliga. Deixa subir o nível da água do poço um pouquinho e liga novamente. Assim conseguimos água, pelo menos para a higiene pessoal”, afirma.
Questionada sobre a possibilidade da distribuição de água tratada em sua casa, dona Maria da Conceição diz que não acredita. “Nós queremos porque representa mais saúde, além disso a sequidão neste período é horrível, mas quando vi a instalação do encanamento não acreditei que viria”, afirmou.

Moradores do bairro JK, zona Leste, são obrigados à busca água na Secretaria Municipal de Obras na Capital(Foto: Jota Gomes/Diário da Amazônia)

Moradores do bairro JK, zona Leste, são obrigados à busca água na Secretaria Municipal de Obras na Capital(Foto: Jota Gomes/Diário da Amazônia)

A chegada do chamado Verão Amazônico que corresponde aos meses de junho a setembro sugere uma série de mudanças na rotina dos moradores de Porto Velho. Uma delas é que no período de estiagem, quando os poços de abastecimento de água (amazonas), construídos geralmente nos quintais das casas, costumam secar e deixar os moradores em situação de vulnerabilidade, tendo em vista que na Capital, a oferta de água tratada não contempla toda a população.

Moradores de parte das zonas Sul e Leste aparentemente são os que mais sofrem com a falta de água. Muitos precisam fazer manobras e usar a criatividade para vencer o período de seca, como fazer parcerias com os vizinhos e elaborar esquemas para utilização do recurso hídrico.
Sinandéia Ortiz, 38, dona de casa, é moradora do bairro Caladinho, zona Sul, há mais de 25 anos. Mora numa vila de três apartamentos, os quais são divididos com pessoas da mesma família. Conta que todos os anos o poço que abastece a vila com água, seca e de agosto a outubro os familiares experimentam o mesmo sofrimento: ter que pedir água para os vizinhos. “Todo ano é este mesmo sacrifício, quando para de chover já sabemos que vamos ficar sem água”, lamenta.

Intrigante é que a vizinha que cede água para a família Ortiz também sofre a falta de água. Maria Francisca Neres, 58, dona de casa, explica que elabora uma espécie de agenda para desenvolver no período em que falta água.

“Tem que ter dia certo para lavar roupa e juntar louça, por exemplo, para lavar de uma só vez. Muda toda a rotina em função da falta de água, mas ainda assim conseguimos compartilhar. É só saber economizar”, ensina. Dona Maria mora no bairro Caladinho, desde 1985 e diz que ela e várias outras pessoas do setor aguardam pela distribuição de água tratada na região. “Muitas pessoas que moram por aqui já tem poço artesiano, mas não é todo mundo que tem condições”, salienta.

No bairro Caladinho, a rede de instalação de hidrômetros foi instalada e as ligações domiciliares (as caixinhas) também foram construídas e fazem parte de um contrato oriundo do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que está em andamento desde 2008, mas que ainda não foi concluído.

Água é artigo de luxo para parte de moradores que não possuem serviços da Caerd(Foto: Jota Gomes/Diário da Amazônia)

Água é artigo de luxo para parte de moradores que não possuem serviços da Caerd(Foto: Jota Gomes/Diário da Amazônia)

Água tratada para 100% da população até março de 2015

Cerca de 60% da população de Porto Velho recebe água tratada (encanada), de acordo com Iacira Azamor, presidente da Companhia de Água e Esgoto de Rondônia (Caerd), e a previsão dela é de que até o mês de março de 2015, todos os bairros da Capital estejam contemplados com a oferta de água tratada. Segundo a presidente, cerca de 20 bairros ainda não fazem parte da rede de distribuição.

O problema, segundo Iacira Azamor, é que as obras: construção de rede de instalação de hidrômetros, ligações domiciliares, de adutora e uma estação de tratamento fazem parte de um pacote de obras que utilizam recurso do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal e contrapartida do Estado, mas que enfrentaram alguns obstáculos ao longo de seu desenvolvimento, como solicitação de paralisação pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e falta de envolvimento da empresa contratada para uma das obras. “Temos três contratos que objetivam viabilizar a expansão da rede de distribuição, um deles, firmado em 2008, possibilitou a instalação dos hidrômetros nos bairros, mas precisamos concluir todo o processo”, detalha.

Os contratos para este fim são respectivamente de R$ 120, 22 e 24 milhões. O contrato de R$ 22 milhões deve ser usado na expansão da rede na zona Leste, principalmente no bairro Mariana. Já o contrato de R$ 24 milhões contemplará novos condomínios que foram construídos em Porto Velho. Ainda segundo a presidente da Caerd, as instalações da rede foram feitas, falta concluir a construção da adutora e da Estação de Tratamento. A retomada destas obras será no mês de setembro, com previsão de mais seis meses para conclusão. “Até o mês de março nossa expectativa é de atender 100% da cidade com água tratada. Temos que trabalhar rapidamente com esses contratos para atender à população”, conclui Iacira Azamor.

Problema também na zona Leste

Em decorrência disso, o problema da escassez de água se repete do outro lado da cidade: na zona Leste de Porto Velho, no bairro São Francisco, os moradores precisam percorrer um longo caminho para encher garrafões com água proveniente de um poço artesiano. Primeiramente porque não confiam na água que brota nos poços e atualmente porque os reservatórios também estão secando. Douglas Oliveira, 25, mecânico, mora no bairro São Francisco e afirma que nasceu na zona Leste. Diz que sempre presenciou o problema de abastecimento de água na região em que mora. “Os moradores do bairro precisam buscar água na escola Mariana, que possui quatro torneiras ou na sede da Semob, no bairro JK”, conta. “Aqui em casa fiz um acordo com meu vizinho: “Puxei encanamento e instalei uma torneira em casa, em troca faço limpeza na caixa d’água dele sempre que é preciso”, diz Douglas.

Nos dois locais citados por Douglas, a água é proveniente de poços artesianos e as pessoas enchem seus garrafões com água para o consumo e preparo de alimentos. “Se a água que consumimos aqui é de qualidade ninguém sabe, se fará mal à saúde também não sabemos. Vivemos a grosso modo, pode-se dizer assim”, complementa o morador do bairro São Francisco. Douglas declarou-se satisfeito com a oportunidade de falar em nome dos moradores de sua comunidade e resolveu fazer um pedido. “Peço que as autoridades olhem com bons olhos para este bairro, que é a população central da zona Leste, porque infelizmente não atentam e deixam chegar a este estágio. Esquecem que água é um princípio básico de qualquer ser humano”, desabafa.

Ainda no bairro São Francisco, dona Maria da Conceição Campos ensina como os moradores adotam o sistema de “revezamento” para economizar água no período de estiagem. “Você liga a bomba por uns 10 minutos e desliga. Deixa subir o nível da água do poço um pouquinho e liga novamente. Assim conseguimos água, pelo menos para a higiene pessoal”, afirma.

Questionada sobre a possibilidade da distribuição de água tratada em sua casa, dona Maria da Conceição diz que não acredita. “Nós queremos porque representa mais saúde, além disso a sequidão neste período é horrível, mas quando vi a instalação do encanamento não acreditei que viria”, afirmou.

Por Mineia Capistrano

 



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