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BRASIL

Às crianças da Amazônia

Que futuro imaginamos para os nossos filhos? E para as crianças de São Gabriel da Cachoeira? Esse futuro carrega as mesmas oportunidades?

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Publicado: 10/10/2020 às 12h01min

Em São Gabriel da Cachoeira, na região conhecida como Cabeça do Cachorro, no Amazonas, existe uma pequena instituição de ensino chamada Escola Municipal Indígena Kumuno Wuu. A pequena instalação acolhe as crianças da comunidade Caruru Cachoeira, no alto do Alto Rio Waupes. A escola não tem rede de esgoto nem energia elétrica. Como esta pequena escola indígena, há centenas de outras no estado do Amazonas e em toda a região Amazônica nas quais os professores se desdobram para educar crianças em salas multisseriadas, aquelas que vemos em filmes estrangeiros que retratam o século XIX: meninas e meninos de idades variadas dividem a mesma sala de aula. Bem-vindos à Amazônia, outubro de 2020.

Nossa região tem sido tema de calorosos debates em todo o mundo. Celebridades, pesquisadores, empresários, muita gente se preocupa com a mais rica biodiversidade do planeta. Mas quem já visitou as crianças do Alto Waupes? Que educação estamos oferecendo a essas crianças de São Gabriel e às 9 milhões de meninas e meninos que vivem na imensidão dos nove estados da Amazônia Legal? Elas têm acesso a uma formação que lhes garantirá uma educação transformadora, um olhar atento para o século XXI, para as infinitas possibilidades da bioeconomia, para o potencial da energia limpa, para o empreendedorismo social a partir da realidade da floresta? Têm direito a uma escola que garanta a elas algo tão simples para nós, como o acesso à internet?

Que futuro imaginamos para os nossos filhos? E para as crianças de São Gabriel da Cachoeira? Esse futuro carrega as mesmas oportunidades?

Essas são perguntas que têm surgido nos debates do Fórum Mundial Amazônia+21, uma iniciativa para mapear perspectivas e buscar soluções para o desenvolvimento da região e melhoria da qualidade de vida de sua população. Somos mais de 23 milhões de cidadãos, 40% têm menos de 18 anos.

De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), cerca de 43% das crianças que vivem na Amazônia Legal estão submetidas a condições de precárias de subsistência. Na nossa região, é maior o risco de a criança morrer antes de 1 ano de idade e de não completar o ensino fundamental. Tudo isso, somado a problemas como ausência de saneamento básico e dificuldade de acesso à informação, colocam a Amazônia Legal como o território brasileiro no qual crianças e adolescentes têm mais direitos violados.

De fato, o desafio é proporcional à imensidão amazônica. Divulgado recentemente pelo Ministério da Educação (MEC), o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) mostra que nenhum estado amazônico obteve desempenho superior à média nacional. Alguns carregam os mais baixos índices de todo o país.

O Fórum Amazônia tem criado um espaço de troca de ideias, de encontros dos contraditórios para buscarmos soluções juntos. Trata-se de uma realização da Federação das Indústrias do Estado de Rondônia (Fiero), Agência de Desenvolvimento de Porto Velho e Prefeitura de Porto Velho, com apoio da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e do Governo do Estado de Rondônia.

Estamos reunindo o setor produtivo, a pesquisa e a ciência, os saberes da população amazônica para encontramos os melhores caminhos para a Amazônia e para o Brasil, sem perder de vista nossos filhos, netos e as crianças da escola de Caruru Cachoeira. Até novembro, quatro encontros virtuais serão realizados como parte dos preparativos para o Fórum, que ocorrerá nos dias 4, 5 e 6 de novembro deste ano.

Os debates estão organizados em quatro eixos temáticos: negócios sustentáveis, cultura, financiamento dos programas e ciência, tecnologia e inovação. E todos esses eixos começam pela educação. Se quisermos uma escola melhor para nossas crianças, mais oportunidades para os nossos jovens, mais empregos, mais empreendedorismo, é mais do que hora superar a falsa dicotomia entre desenvolvimento e conservação ambiental. Temos que gerar riqueza a partir da riqueza de nosso bioma único e isso só será possível se cuidarmos bem dele e de quem vive aqui.

Para as meninas e meninos da Amazônia – para seus avós, seus pais, para seus filhos e netos – não há alternativa de vida digna fora da visão de desenvolvimento sustentável. Essa é nossa trilha.

* Marcelo Thomé da Silva de Almeida, 46 anos, é coordenador do Fórum Mundial Amazônia + 21, uma iniciativa com apoio da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e de federações das indústrias da Amazônia Legal. Arquiteto, é presidente da Federação das Indústrias do Estado de Rondônia e da Agência de Desenvolvimento de Porto Velho.

 



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