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BRASIVIANOS: Da vida nos seringais ao recomeço identitário

Os seringueiros foram expulsos do lugar de vivência e buscam adequar nova fase.

Publicado: 17/06/2019 às 10h10

A cultura e identidade de brasileiros que viveram em seringais nativos da Bolívia estão ameaçadas por conta dos conflitos com campesinos bolivianos, a partir da política de reforma agrária do governo de Evo Morales. O problema gerou a tese de doutorado em Geografia do professor Francisco Marquelino Santana, que reside e trabalha no distrito de Extrema. No projeto “Os Brasivianos do rio Mamu: Modos de vida e a poética fenomenológica do viver”, o pesquisador aborda a fragmentação e o esfacelamento da identidade cultural desse povo.
A defesa da tese será no próximo dia 21 de junho, às 9h, na Escola Estadual Jayme Peixoto Alencar, onde o pesquisador atua como professor, no distrito de Extrema. O momento marcará também a inauguração do auditório da escola e a noite será realizado o ‘Forró do seringal’, uma festa tradicional da cultura de seringueiros nativos do Acre.

O caso
Os brasileiros chegaram à região da província de Pando na era áurea da borracha para explorar os seringais e por lá fincaram raízes, criando culturas próprias e identidade peculiar e são chamado de Brasivianos (brasileiros/bolvianos). O local tem como acesso o rio Mamu, afluente do rio Abunã. Devido aos conflitos com campesinos bolivianos e milícias, os Brasivianos perderam o território em que viviam e foram reassentados no lado brasileiro (Rondônia e Acre) em terras doadas pelo Incra. Por conta dessa mudança, o povo vem perdendo a identidade cultural que está fragmentada.

A tese
Para compor a pesquisa da tese o professor Marquelino buscou compreender os fatores que contribuíram para a gênese e construção da identidade; as causas e consequências dessa fragmentação identitária em decorrência da eclosão do conflito entre bolivianos e brasivianos; e os organismos que participaram do imbróglio diplomático.
Orientada pelo professor doutor Josué da Costa Silva, da Unir, a tese segue correntes teóricas da Geografia cultural com análise fenomenológica da poética e mítica do lugar. O pesquisador destaca a relação dos brasivianos com o rio Mamu que se tornou um símbolo mítico para os moradores. A vivência no tapiri, o pertencimento ao lugar, e a vida cotidiana na fronteira entre Brasil e Bolívia são elementos que os seringueiros ainda guardam na lembrança com forte emoção.

Sobre a origem da identidade dos brasivianos, o pesquisador constatou a existência de traços de raízes do sertão nordestino brasileiro, porém com a adequação dos modos de vidas amazônida da vivência de trabalho de seringueiro, castanheiro e ribeirinho. A mistura identitária tem traços também de seringueiros bolivianos e suas relações com a floresta Amazônica.
O pesquisador Marquelino conclui que, a mudança brusca originada pelo conflito, a nova forma de vida em outro lugar, mexe com o imaginário dos brasivianos afetando os sonhos, o abrigo, o pertencimento e até a dialética, causando desapontamento que pode causar ameaça ao bem viver desse povo.

Por Redação

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