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Câmara pede afastamento de médico acusado de violência obstétrica

Comissão de Constituição e Justiça e Redação da câmara de vereadores de Rolim de Moura pediu através de relatório emitido para que..

Por RN Notícias
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Publicado: 08/04/2019 às 12h37min

Comissão de Constituição e Justiça e Redação da câmara de vereadores de Rolim de Moura pediu através de relatório emitido para que a Secretária Municipal de Saúde afaste imediatamente o Médico Dr. Romero de suas funções de Obstétrica no hospital municipal.

Dr. Romero é acusado por Ana Deise Félix Oliveira por crime de Violência obstétrica ocorrido durante o parto realizado no dia 13 de janeiro deste ano no hospital Amélio João da Silva.

Conforme o relatório apresentado pela comissão, o médico Dr. Romero deve ser afastado pela Secretária Municipal de Saúde durante as investigações dos fatos.

O médico já foi convocado a comparecer na comissão para dar esclarecimentos, mas não compareceu, enviando apenas um oficio com a afirmação de que é inocente e as denúncias de Ana Deise não procede e que aguardará as investigações.

 

Confira o relatório da comissão:

Conforme apurado após as declarações e alegações colhidas, ficou claro que ocorreu indícios fortes de violação dos direitos da paciente no cometimento de violência obstétrica, fato que deve ser apurado de forma firme e clara pelos órgãos competentes.

Razoável dizer que não estamos através dessa comissão questionando o procedimento técnico do profissional, mas sim, a maneira de atuação em relação a esse procedimento no trato entre profissional médico e paciente na busca de um atendimento humanizado e com respeito ao direito do paciente

Após a coragem da denunciante outros fatos semelhantes vieram a público, principalmente nas redes sociais, fato esses que também deve ser apurado.

 

Segue abaixo as recomendações da comissão:

Afastamento: que o médico Drº Romero seja afastado do atendimento obstétrico (realização de partos) no período de apurações dos fatos.

Que a secretaria de saúde e Hospital Municipal se adeque urgentemente para atender a legislação em relação a acompanhante de gestantes durante o parto.

Através dessa comissão encaminhar expediente informando os fatos ao Conselho Regional de Medicina do Estado de Rondônia, ministério público, e delegacia de polícia.

Acompanhar os trabalhos da sindicância administrativa na apuração dos fatos, divulgando após a sua conclusão o relatório final.

Em face do exposto e com fulcro no Regimento Interno, encaminho o presente relatório para apreciação da Comissão de Constituição, Justiça e Redação, reafirmando as conclusões e recomendações acima expostas.

 

Resposta da Secretaria Municipal de Saúde

Em contato com a assessoria de imprensa da prefeitura acerca do afastamento do médico, recebemos a seguinte nota:

O município ainda não foi notificado sobre o pedido de afastamento do médico pela comissão. O qual será analisado quando for notificado.

A Administração Municipal já instaurou o processo administrativo para apurar as denúncias. Processo esse que segue em sigilo da comissão que está investigando.

 

Entenda o caso

 

Rolim de Moura: Médico é acusado de violência obstétrica durante parto

O Hospital municipal de Rolim de Moura novamente voltou a ser o centro das polêmicas, desta vez, um médico é acusado pela paciente Ana Deise Félix Oliveira pelo crime de Violência Obstétrica durante o parto de seu bebê. O caso ocorreu no dia 13 de janeiro deste ano.

Em sua rede social, Ana Deise revelou que se preparava para ter um parto de forma normal, até mesmo tinha o acompanhamento de uma Doula, Suelen Leal, mas que seu sonho acabou não se realizando e virou motivos de uma ação judicial.

As 21 horas do dia 12 de janeiro, Ana Deise deu entrada no hospital municipal para aguardar o trabalho de parto, em frações de segundos, o medo, pavor e angustia tomaram conta de Ana.

Uma enfermeira chamou Ana pelo nome, Ana ao entrar na sala do médico, a Doula que o acompanhava também entrou, além de não cumprimentar Ana e a Doula, o médico com tons truncado mandou que Ana tirasse a calcinha e que deitasse para ele a examinar, “então eu disse, Boa Noite Dr. Eu já estou em trabalho de parto”, conta Ana.

Após ignorar o cumprimento de Ana, o médico olhou para a Doula e disse grosseiramente, “Quero que você saia e fique lá fora, pois eu preciso trabalhar”. A Doula ainda a indagou, “Dr. eu sou a doula dela, posso acompanha-la”, o médico, sem se importar em respeitar ou o que a paciente estava sentindo disse: “Não me importa o que você é, só quero que saia”. A paciente mesmo já estando deitada e pronta para ser examinada, pediu ao médico que deixasse a Doula ficar com ela, “Mas Dr. ela é minha doula, deixa ela ficar”, em seguida o médico disse que se a Doula continuasse ali na sala e não a saísse, ela que iria fazer o parto, pois ele não o faria, e começou a pedir para a Doula que assinasse um documento dizendo que a Doula seria a responsável pela paciente e pelo seu parto.

Ana Deise pensou em ir para outro hospital, mas não havia mais tempo para tal transferência. Após aqueles fatos ocorridos, Ana começou a chorar, os tremores percorriam pelas suas pernas, e após 1 hora, ela começou a se controlar, a sua Doula tentava lhe acalmar juntamente com uma amiga que também é enfermeira.

Durante a madrugada, já do dia 13 de janeiro, Ana Deise relata que as enfermeiras que passavam em sua sala, não gostavam da presença de sua Doula, o seu esposo foi proibido de adentrar na sala e teve de permanecer lá fora até o final. O esposo tinha permissão em documento, assinado e protocolado pelo diretor do hospital.

As 07 horas da manhã, já na troca de plantão, uma enfermeira chegou e disse: “Nossa! Ela está muito cansada, coitada, onde está o médico que ainda não examinou?”, em seguida a enfermeira a levou para uma sala de espera que ficava ao lado da que o médico examinava as pacientes. Novamente o médico, expulsou a Doula, “meu Deus que tristeza, que desespero eu sentia naquele momento, eu precisava de alguém comigo, precisava de um apoio,” sentia Ana. De forma humilhadora o Médico dizia para a Doula sair, dizendo: “Vamos, saia daqui! Não te quero aqui! Se não sair eu não vou fazer o meu trabalho, eu não vou fazer o parto dela”. Para não causar mais conflitos, a Doula olhou com muita tristeza para Ana: “Deise, eu vou ter que sair, pois tenho medo do que ele pode fazer com você”, em seguida se retirou da sala.

O momento mais crucial para Ana, foi quando o médico pediu uma pinça para enfermeira e sem informar nada para Ana, ele enfiou a pinça e rompeu a sua bolsa, “bem assim, do nada, invadiu meu corpo como se eu não estivesse ali”. Então me levaram para o quarto ao lado, o médico mandou eu deitar e apoiar os pés na cabeceira da cama, eu pensei: como assim? É aqui que fazem os partos normais? Não há uma sala separada e preparada?

Em seguida, o médico olhou para Ana e disse: “olha, não sei se vai dar certo, mas você pode continuar tentando você fez suas escolhas, preferiu ficar com elas (doula e amiga enfermeira), elas fizeram tudo errado com você e agora você terá que sofrer as consequências, talvez o seu útero tenha rompido e o seu feto não consiga”.

O médico continuou indagando: “Olha já vou te falar, teremos que fazer a episiotomia senão você pode se rasgar toda”, a enfermeira disse a mesma coisa e ainda completou: “O seu bebê é grande será impossível não fazer”. O médico continuou dizendo: “Eu tenho mais estudo que essa menina (ele se referia a doula), tenho livros e livros de estudo e ela o que tem?”, disse.

Ana disse que lembra perfeitamente que na sala havia apenas três pessoas, e que foi o próprio medico que a aplicou a anestesia.

Logo depois me deitaram, eu tremia muito, já na mesa de cirurgia, era uma mistura de sentimentos, lembro de que assim que me abriram ouvir o médico auxiliar dizer: “Estava ou não encaixado Doutor?” Pela minha conclusão ele quis dizer que sim, quis dizer que meu filho já estava nascendo, só precisava de tempo e eu, de apoio, de ajuda. Quando ouvi o choro do meu bebê, eu só queria velo, ver se estava bem, logo à enfermeira o levou e eu não via a hora de tudo terminar para eu sair dali e ver meu filho, ver como ele estava, disse Ana.

E continuou, “Era tão desesperador, quando sai, me senti derrotada, culpada, fracassada. Olhei para o meu esposo e chorei, pedi perdão por não ter conseguido, ele me olhou e disse: “Calma meu amor, você foi guerreira e o nosso filho é lindo”. Eu não queria encarar ninguém e dizia a todo tempo “eu não consegui, me perdoem”. Tinha que lidar com tanta coisa, um momento era para ser de total felicidade, na minha cabeça era de total fracasso. Estava feliz e aliviada de ver meu filho bem, mas como mulher e mãe, me sentia um fracasso.

Segundo Ana, a enfermeira que estava com o médico no hospital te visitou no dia seguinte, e relatou que sabia que o médico não faria a cesárea só de pirraça, pois não gostava de “acompanhantes” e que ele a deixaria sofrer até o último momento e depois faria à cesárea, disse também que isso já havia acontecido outras vezes e que já até tiveram que empurrar a cabeça de bebés que estavam coroando, disse Ana.

Ana disse que nos primeiros dias chegava a chorar as escondidas, pois olhava para a sua cirurgia “horrorosa” e se sentia um grande fracasso, ela demorou a entender que a culpa não era dela, e que na verdade ela era uma grande vítima.

“Peço a Deis todos os dias para vencer cada novo dia, fico pensando até quando vamos ser desrespeitadas e maltratadas dessa forma? Infelizmente esse não foi o relato que sonhei escrever, mas foi o que me obrigaram”, finalizou, Ana Deise.

De com Ana, os vereadores já marcaram para esta terça-feira (19) para ouvir a Secretária de Saúde, o Diretor do Hospital e o Diretor de Obstetrícia, na comissão no plenário da câmara municipal.

A denúncia também foi encaminhada a justiça e Ana Deise conta com o apoio de um advogado que irá lhe defender judicialmente.

 



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