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PLANTÃO DE POLÍCIA

Capital é 7ª na violência contra mulher

Porto Velho está em sétimo lugar no ranking, com 9,5 homicídios a cada 100 mil habitantes.

Por Redação Diário da Amazônia
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Publicado: 10/11/2015 às 07h05min

A capital de Rondônia entra novamente para o cenário nacional da violência com a classificação de 7ª cidade que mais perigo oferece para as mulheres em todo o País. Porto Velho registrou taxa de 9,5 homicídios para grupo de 100 mil habitantes, número considerado quatro vezes maior que a realidade mundial, que é de 2/100 mil. Os dados são do Mapa da Violência, divulgado ontem em mídia nacional e apresenta referenciais do ano de 2013. A capital brasileira que ocupa a primeira colocação no ranking é Vitória, Espírito Santo. A capital capixaba registrou uma taxa de 11,8 homicídios de mulheres para cada 100 mil habitantes. A taxa é quase seis vezes maior que a média mundial, que é de 2/100 mil habitantes.

O ranking das capitais brasileiras mais violentas também traz a capital do Acre, Rio Branco, como a 9ª colocada. De acordo com as informações, a cidade acriana ocupa a nona posição no ranking das capitais mais violentas do Brasil para mulheres em 2013. O estudo mostra também que a cidade registrou uma taxa de 8,8 homicídios de mulheres para cada 100 mil habitantes. A taxa é mais de quatro vezes maior que a média mundial, que é de 2/100 mil.

A taxa de homicídios contra mulheres no País aumentou 8,8% entre 2003 e 2013, segundo o estudo Mapa da Violência 2015 – Homicídios de Mulheres, produzido pela Flacso (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais) e divulgado ontem, segunda-feira (9). De acordo com o relatório, o Brasil é o quinto país mais violento para mulheres em um ranking de 83 nações que usa dados da OMS (Organização Mundial de Saúde). No período, em média, 11 mulheres foram assassinadas no Brasil todos os dias. Mais da metade delas, 55%, eram negras.

A pesquisa indica que, em 2003, a taxa de homicídios de mulheres era de 4,4 para cada 100 mil habitantes. Em 2013, ano com os dados mais recentes disponíveis, esse índice chegou a 4,8/100 mil habitantes, mesmo patamar de 2012 e o mais elevado da série histórica registrada. Entre 2003 e 2013, a taxa chegou a registrar queda entre 2006 e 2007, quando o índice passou de 4,2/100 mil habitantes para 3,9/100 mil habitantes.

A queda aconteceu no período após a entrada em em vigor da Lei Maria da Penha, que prevê punições mais rigorosas a agressores de mulheres. Depois da implementação da lei, porém, a taxa voltou a subir no ano seguinte, saindo de 3,9/100 mil habitantes em 2007 para 4,2/100 mil habitantes no ano seguinte.

Aumento acompanha escalada de crimes gerais

Para o coordenador do estudo, Julio Jacobo Waiselfisz, o aumento nas taxas de homicídios contra mulheres acompanha a tendência de aumento da violência no Brasil já revelada por outros relatórios, mas o machismo ainda é responsável pela maioria dos assassinatos cometidos contra mulheres no País.

“A influência do machismo nessas mortes é muito grande porque no Brasil, até pouco tempo, havia uma justificativa legal para o homem matar uma mulher que o traísse, por exemplo. É uma questão cultural que você não muda como quem muda de roupa. O Brasil é uma sociedade extremamente patriarcal.

Julio diz que a responsabilidade do machismo pelos assassinatos de mulheres no Brasil fica evidente a partir da análise do perfil dos assassinos delas. De acordo com o estudo, em 2013, 50,3% das mulheres assassinadas no Brasil foram mortas por um familiar. Em 33,2% dos casos, essas mortes foram praticadas pelo próprio parceiro ou ex-parceiro.

“Infelizmente, a gente continua a ver esse tipo de história todos os dias na televisão. A mulher termina o relacionamento, o homem não concorda e mata a parceira. Ou então, no meio de uma discussão, o homem pratica essa violência. Isso mostra como os homens ainda acham que têm poder sobre as mulheres”, afirmou.

Julio Jacobo afirma que a quinta posição do Brasil no ranking internacional da violência contra a mulher mostra como, ao contrário do que se costuma dizer, o brasileiro não é um povo tão cordial assim e de como o machismo ainda está arraigado à sociedade. Na comparação com outros 83 países, o Brasil só está atrás de Rússia (4º), Guatemala (3º), Colômbia (2º) e El Salvador (1º).

Homicídios de negras aumentaram quase 20%

Entre 2003 e 2013, a taxa de homicídios de mulheres negras no Brasil aumentou 19,5%, enquanto a taxa de homicídios contra mulheres brancas caiu 11,9%. Em 2013 (dados mais recentes disponíveis), 7,8 mulheres negras foram assassinadas todos os dias. Em geral, a taxa de homicídios cometidos contra mulheres no Brasil cresceu 8,8% no mesmo período.

De acordo com o estudo, em 2003, a taxa de homicídios de mulheres negras no Brasil era de 4,5 para cada 100 mil habitantes. Onze anos depois, em 2013, a taxa subiu para 5,4/100 mil habitantes. Em contrapartida, as taxas de homicídios de mulheres brancas caíram de 3,6/100 mil habitantes em 2003 para 3,2/100 mil habitantes.

Para o coordenador do estudo, Julio Jacobo Waiselfisz, a discrepância entre as mortes de mulheres negras e brancas é resultado de pelo menos três fatores: terceirização da Segurança Pública, politização da temática da segurança e o racismo. O pesquisador diz ainda que a segurança pública virou um tema muito caro aos políticos e que isso influencia a tomada de decisões dos gestores.

“Quando uma empresária branca morre em um bairro nobre, a consequência imediata é que mais policiais são deslocados para aquela área como uma forma de atender ao clamor da opinião pública. O mesmo não acontece quando uma mulher negra é morta em uma favela. Essa politização da segurança gera distorções”, afirmou.

Para Jacobo, o racismo é o terceiro elemento que ajuda a explicar a diferença entre os índices de homicídios contra mulheres negras e brancas. No Brasil, nem há tanta cordialidade e nem há a tal democracia racial que se prega. Há um coquetel onde o negro e a negra são mais visados no quesito violência. Isso se observa não apenas com relação às mulheres. Em geral, a população negra é mais afetada pela violência e isso, claro, vai atingir as mulheres.

Em relação aos dados totais da pesquisa, o estudo revela que entre os anos de 2003 e 2013 foram mortas 46.186 mulheres. Desse total, 25.637 eram negras, ou 55%. As mulheres brancas assassinadas no período foram 17,5 mil, ou 37% do total.
De acordo com o estudo da Flacso, o Estado com a maior taxa de homicídios contra mulheres negras em 2013 foi o Espírito Santo, onde o índice chegou a 11,1/100 mil habitantes. O Estado com a menor taxa é São Paulo, com 2,7/100 mil habitantes.
Em relação às mulheres brancas, o Estado mais violento para elas em 2013 foi Rondônia, onde a taxa chegou a 6,4/100 mil habitantes. O Estado mais seguro para mulheres brancas, segundo a pesquisa, foi Roraima, onde a taxa foi zero. O estudo critica a impunidade nos casos de homicídios contra mulheres e diz que ela incentiva a violência contra a mulher.



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