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Diário da Amazônia

Cineasta negra e homossexual lança livro sobre superação

Crescida na periferia de Japeri, no Estado do Rio de Janeiro, uma jovem, de família bem humilde, aos 15 anos de idade, perderia, de um dia..

Por Assessoria
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Publicado: 09/01/2019 às 10h06min

Foto: divulgação

Crescida na periferia de Japeri, no Estado do Rio de Janeiro, uma jovem, de família bem humilde, aos 15 anos de idade, perderia, de um dia para o outro, sua mãe e absolutamente tudo que tinha. Todos os seus pertences, sua casa, seu irmão, sua vida, tudo, como em um passe de mágica, se desmaterializou. A partir deste dia, nasceria o medo de admitir a solidão, o que a levou a se esconder de si e de todos, alimentando diariamente um silêncio que se perpetuou por 28 anos.

A menina negra, que conseguiu acolhimento em nova família, se descobriu homossexual a partir de um amor da juventude e, frente ao preconceito e à homofobia tão viris e caras a nossa sociedade, fez da introspecção e do silêncio seus maiores conjugues, como também combustível para a criação literária. Assim nasceu “Filho de Prostituta”, coletânea de 28 poemas escritos pela autora e cineasta carioca Sil Azevedo, um texto por ano, que ganha, após esse longo período de autocamuflagem, o formato de livro.

Escritos em um pequeno caderno dos seus 15 aos 42 anos de vida, os poemas foram a maneira que a autora encontrou ao longo da vida de registrar fatos e sentimentos, pois faltava-lhe a coragem de compartilhar com qualquer outra pessoa. E mais: o receio de que seus escritos fossem descobertos a levou se utilizar de metáforas, escondendo-se ainda mais dentro do próprio esconderijo. Para contextualizar, em cada poema, a autora inseriu narrativas sobre os episódios, facilitando o entendimento do leitor e da obra como um todo. Já adulta e cineasta premiada, reencontrou a menina por quem foi apaixonada durante toda a vida – e que lhe ofereceu a chance de retornar para o mundo que havia perdido – o que marcou sua decisão de resgatar os escritos e torná-los públicos, encerrando de vez o hábito de se esconder em linhas daquele caderno.

“Vinte e oito anos depois eu finalmente me convenci a confrontar meu medo, me libertar da fantasia, me despedir das vidas que não me pertenciam e assumir definitivamente quem eu realmente era, afinal de contas, a vida não deixou de acontecer só porque eu não queria participar dela e os anos visíveis nas marcas em meu rosto, me mostram todos os dias que se eu insistisse em continuar me escondendo, em breve, não haveria mais tempo para que eu pudesse ser absolutamente mais ninguém”, revela Sil Azevedo.

Como um instrumento de sobrevivência, a literatura foi um escape para Sil, assim como para uma geração de pessoas que viviam em situação de pobreza. “Nós não tínhamos acesso a nenhuma forma de lazer que não fosse as viagens imaginativas que os livros nos proporcionavam”, comenta a autora, que descobriu a magia das letras em sua primeira visita à Biblioteca Nacional, no centro do Rio, ao se deparar com a poesia de Camões.

Ao se aceitar enquanto uma mulher homossexual, negra e de origem humilde, Sil Azevedo traz à tona a discussão elementar dos direitos sociais e individuais, e propõe, através da publicação de suas revelações mais íntimas, questionar os padrões que incitam o preconceito e a negação das diferenças.



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