Porto Velho/RO, 27 Março 2024 11:36:29
Diário da Amazônia

Conheça a bactéria que matou neto de Lula

Comum, mas potencialmente fatal

Por Extra
A- A+

Publicado: 03/04/2019 às 14h18min

Foto: K. Y. Cheng

Uma das bactéria mais comuns na prática clínica, uma vez que costuma colonizar a pele humana, o Staphylococcus aureus (ou estafilococos, em português) é também potencialmente mortal quando infecta o corpo, como aconteceu com Arthur Araújo Lula da Silva, de sete anos, neto do ex-presidente Lula.

Dos 33 tipos de Staphylococcus existentes, o aureus é considerado o mais virulento (apresenta maior capacidade de se multiplicar no organismo). Estudos indicam que entre 20% e 30% da população humana carrega a bactéria de forma perene, na pele, nas narinas ou, no caso das mulheres, na parte inferior do sistema reprodutor.

A presença da bactéria na pele não é, por si só, causadora de doenças. Os riscos surgem quando há lesões, que podem servir de porta de entrada para o organismo — por esse motivo, é importante manter a área das feridas sempre limpas.

O S. aureus também pode invadir o organismo através da ingestão de alimentos contaminados. Além de atacar diretamente o corpo, a bactéria também produz uma série de toxinas que podem provocar intensa infecção intestinal, com vômitos e diarreia.

Algumas infecções por S. aureus são agudas e podem se disseminar para diferentes tecidos, causando episódios mais graves, como bacteremia, pneumonia, osteomielite, endocardite, miocardite, pericardite e meningite.

— Algumas cepas desta bactéria produzem superantígenos, substâncias capazes de ativar uma grande parcela das células de defesa do nosso organismo e isto provoca um choque séptico. Nestes casos, o paciente morre por causa da resposta imunológica do corpo às enzimas tóxicas liberadas pela bactéria e não pela ação dela no organismo — explica Jorge Sampaio, primeiro secretário da Sociedade Brasileira de Microbiologia e professor de microbiologia clínica da Universidade de São Paulo (USP).

Arthur Lula da Silva morreu no dia 1º de março, após dar entrada no hospital Bartira, em Santo André (SP), por volta das 7h14 com febre, náuseas e dores abdominais. O quadro evoluiu para confusão mental e o menino morreu por volta das 12 horas.

Inicialmente, o hospital afirmou que a causa da morte havia sido meningite meningocócica. Ontem, a Prefeitura de Santo André descartou essa doença como causa. A assessoria do Instituto Lula confirmou que o garoto morreu em decorrência de uma infecção generalizada provocada por S. aureus.

Resistência a antibióticos

Algumas cepas de S. aureus desenvolveram resistência a antibióticos, o que limita as opções de tratamento. É o caso do subtipo conhecido como MRSA, resistente à meticilina (antibiótico da família das penicilinas).

Dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças, do governo dos Estados Unidos, mostram que, desde 1999, a proporção de Staphylococcus aureus resistentes à meticilina ultrapassa 50% entre os pacientes em UTI.

No Brasil, segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), os índices de cepas MRSA são também bastante elevados (40% a 80%), principalmente em UTIs. Inicialmente, o MRSA foi observado somente em hospitais, mas atualmente está claro que ele pode ser adquirido também na comunidade.

Como se prevenir

Por ser uma bactéria comum entre a população, a prevenção se dá por meio de hábitos de higiene, como lavar as mãos ou usar álcool em gel para desinfectar a região.

— O Staphylococcus aureus tem grande capacidade de sobreviver em superfícies. Então, se você usa um teclado de computador, passa a mão no nariz e volta a digitar, este ambiente pode ficar infectado — diz Sampaio.

É praxe em hospitais fazer uma “descolonização” em pacientes que serão submetidos a cirurgias. A avaliação é realizada antes do procedimento ocorrer. Em caso positivo, o paciente é tratado e colocado em um ambiente isolado para evitar a recontaminação. Esta medida diminui a chance de ocorrer infecções durante o pós-operatório.



Deixe o seu comentário