A crise da Venezuela trouxe para o país milhares de imigrantes em busca de uma nova vida. Em Porto Velho as casas de abrigo municipais abrigam famílias com diversas crianças. Nas ruas da Capital não é difícil encontrar crianças pedindo esmolas com os seus pais.
De acordo com Ana Cássia Lima Conselheira do 1° Conselho Tutelar, no órgão são recebidas denúncias todos os dias. Segundo a conselheira existe uma equipe de abordagem que funciona no Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) responsável para cadastrar todas as famílias.
“Já fizemos várias reuniões com o Ministério Público e Creas, o nosso questionamento é em relação ao acolhimento dessas crianças. Porém a gente sabe que se a gente fosse recolher todos esses meninos nos abrigos daqui não seria bom. As secretarias do município estão trabalhando para resolver essa problemática’’, disse a conselheira.
Segundo o Secretário da Secretaria Municipal de Assistência Social e Família (Semasf) Claudi Rocha, as crianças venezuelanas que estão nas ruas de Porto Velho são indígenas da tribo Warão, que é a segunda maior população indígena da Venezuela.
O secretário destaca que com os índios Warão é necessário criar vínculos, trabalho que segundo ele à equipe de abordagem está realizando. “Está sendo tomadas providências e já houve uma diminuição após o trabalho de conscientização. Não adianta encher os nossos abrigos com essas crianças, eles e os pais irão sofrer’’, destacou.
Socorro Leite é educadora do serviço social de abordagem conta que o trabalho da equipe é identificar pessoas que estão em situação de rua e que fazem da rua moradia, por sobrevivência ou questões de trabalho. De acordo com a equipe de abordagem já foram descobertas onde as famílias moram e quais benefícios estão recebendo.
“Fizemos a identificação desse público e vimos que se tratava de indígenas venezuelanos com costumes e cultura diferenciada da nossa. Temos cuidado de garantir o direito de permanecer com seus costumes, porém ao mesmo tempo conscientizá-los a não levar as crianças para os sinais. Sempre explicando que a nossa legislação não permite e no Brasil é considerado exploração do trabalho infantil. Mas na cultura deles é uma forma de aprendizado. Estar na rua para nós é situação de mendicância, porém para eles é trabalho’’, disse Socorro.
O Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH) emitiu uma nota para todos os municípios recomendando que aqueles que receberam os estrangeiros Warão não devem afastar as crianças dos pais.
A educadora destaca que outros municípios que também passaram pela mesma situação foi realizado estudos antropológicos que afirmam que para os indígenas levar as crianças para as ruas é como ensinar a trabalhar. “Por estar no Brasil temos que explicar os riscos e os perigos. Realizamos parceria com a Semusa uma vez por semana uma doutora vai até o local consultar as crianças. A Semed realizou a matrícula de todas essas crianças, que é um do mecanismo para a criança não estar na rua pois está na escola’’, disse.
O Secretário verificou a possibilidade de incluir essas famílias no auxílio moradia, 15 já recebem o benefício que auxilia no pagamento do aluguel.
“Quando encontramos os locais onde eles estavam morando eles já tinham se organizado coletivamente. Todos têm um grau de parentesco e moram no mesmo local. Eles fazem da mesma forma que viviam na Venezuela”, contou a educadora social.
A psicóloga da equipe Ana Carla disse que uma das orientações é não incentivar a situação de mendicância. “Se você oferece dinheiro você favorece a mendicância. O ideal seria orientar aquela família para que procurasse a assistência social. Nós vamos iniciar uma campanha contra o trabalho infantil nos sinais para que a população não fortaleça esse tipo de comportamento que você condiciona’’, pontuou a psicóloga.
“Estamos intensificando as ações de conscientização. Porém todos os dias chegam novos indígenas venezuelanos. Todo dia esse trabalho começa com uma nova família’’, esclareceu a educadora social.