Porto Velho/RO, 29 Março 2024 02:05:08
PLANTÃO DE POLÍCIA

Crimes contra a mulher avançam

O município de Porto Velho figura no ranking em homicídio contra a mulher.

Por Da Silva Diário da Amazônia
A- A+

Publicado: 12/11/2015 às 07h25min

A sétima capital mais violenta do País, de acordo com ranking elaborado pelo pesquisador Julio Jacobo Waiselfisz (Mapa da Violência), com referência aos crimes praticados contra as mulheres, tem uma especificidade. A diversidade cultural pode ser um diferencial para este retrato do potencial negativo de Porto Velho. A opinião de especialistas na temática, bem como profissionais da área criminal, peritos, advogados, dentre outros, converge no quesito heterogeneidade. A maioria dos depoimentos sobre os motivos que têm levado a capital de Rondônia a ocupar uma posição neste ranking concorda com a ideia de que “culturas diferentes vêm provocando desajustes de diversas naturezas”. Dentre estas, a violência contra a mulher em escala desconfortável.

A estatística apresentada pelo Mapa da Violência, referente ao período de 1980 a 2013, não pode ser encarado como um revelador da realidade totalizadora. Pelo menos, no que diz respeito ao ponto de vista apresentado por delegados locais, há muito mais fatores permeando o quesito “violência contra a mulher”, do que os números podem suportar e revelar. De acordo com a estatística, o crescimento na taxa de homicídios desse período sobe de 2,3 (por 100 mil habitantes), para 4,8 (por 100 mil habitantes) em 2013. Para a delegada Janaína Xander Wessef, da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher, há casos complexos de agressões entre casais que obrigam os serviços de investigações a análises aprofundadas. “Adotamos alguns procedimentos específicos quando recebemos uma denúncia de agressão à mulher. São meios adotados para a sistematização de análises que nos ajudam a entender melhor os tipos de casos. Isso é importante para que possamos ver com clareza o que os envolvidos estão dizendo e em que contextos permeiam”, explica a delegada.

Mapa foi montado sobre bases científicas

Entrevistada pelo jornal Diário da Amazônia, a delegada Janaína Wessef explicou também que os dados do Mapa da Violência foram montados sobre bases científicas. Porém, não podem, como também não devem ter a pretensão, de revelar toda a realidade ao que se referem. Segundo ela, nos últimos anos houve um crescimento no número de registros policiais, nessa categoria de crimes, e a população também cresceu. “Não podemos simplesmente afirmar que a violência contra mulher cresceu se não fizermos uma análise mais aprofundada no assunto. Também é preciso considerar as movimentações urbanas, como deslocamentos, para constatarmos que fatores culturais também estão interferindo nas mudanças”.

De acordo com a delegada, o que mais nos revela o Mapa da Violência é que a mulher tem procurado mais os mecanismos que lhes asseguram os direitos. Ela explica que os direitos femininos, com as mudanças até mesmo da legislação, estão mais evidenciados. “A própria Delegacia da Mulher tem uma atuação de prevenção contra os abusos contra o público feminino. Realizamos palestras em escolas, entidades e grupos organizados com o pensamento de que esclarecer sobre a violência é importante para inibir e conseguir mais adesões contra esses crimes”, explica Janaína Wessef.

Um motivador a mais para novas agressões

Ao finalizar a entrevista a delegada Janaína Wessef também destacou um fator preponderante na luta contra a violência. Segundo ela, há muitos casos de agressões físicas em que os agressores em potencial estão em um cenário propício e ainda encontram um motivador a mais. “Há casos muito complexos. Já acompanhei alguns em que tivemos que aconselhar a vítima a não provocar o companheiro. A esposa estava com separação em andamento e, ocupando o mesmo espaço físico do ex-companheiro. Mesmo assim, ela postava fotos onde participava de festas e outras situações ainda mais instigantes. Claro que ela tinha todo o direito de fazer o que bem entendesse, com relação à sua rotina diária. Mas, seria mais prudente evitar esse comportamento, pelo menos naquele momento de recente separação”, argumenta.

Especialistas apostam em “alta do machismo”

A violência contra a mulher, principalmente quando se trata de casos de tentativas de homicídios e assassinatos, é visto por alguns especialistas como a marca unânime de que o machismo ainda pulsa muito puramente em nossa sociedade. Entrevistada pelo jornal Diário da Amazônia, a advogada Luzileide Alves Silva, que atua mais especificamente na área civilista, diz que o aspecto cultural e social ainda é fator comprometedor desse mal. “É difícil conceituar o homem machista. Difícil dizer qual o perfil dessa figura ou, até mesmo, quais os fatores que podem influenciar e motivar suas ações. Mas, o que sabemos é que ato de violência contra a mulher ainda é uma mostra de que o machismo existe”, comenta.

A advogada também opina que uma das possibilidades para o ranking atingido pela capital de Rondônia no Mapa da Violência contra a Mulher está relacionada à diversidade cultural. Segundo Luzileide Alves, na cidade existem pessoas de várias nacionalidades. Porém, esse perfil também é do próprio Brasil. “Se me perguntassem sobre o fato da sociedade brasileira ainda ser muito machista, diria que ainda existem algumas marcas disso. E, a violência física, principalmente, contra a mulher, é uma demonstração de nosso perfil cultural”, comenta.

Para exemplificar o fator violência na capital porto-velhense, a advogada Luzileide Alves também destacou sobre o perfil feminino que atualmente mostra-se mais conscientizado de seus direitos. E ela explica que a procura por ajuda junto aos organismos de segurança pública, tais como delegacias, atualmente é mais frequente. “Claro que ainda temos muitos exemplos de pessoas que, por medo do agressor”, ainda se escondem ou, escondem as agressões sofridas. Mas, isso tem sido cada vez menor. Há muita gente denunciando crimes dessa natureza por estarem mais conscientizadas de que é preciso lutar contra isso”, finaliza, pontuando também que as marcas de machismo em nossa sociedade atual ainda são muito claras.



Deixe o seu comentário