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Diário da Amazônia

De portas fechadas, comércio espera ajuda para não demitir

Sindicatos não registraram desligamentos em massa, mas há quem inicie a quarentena sem trabalho

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Publicado: 26/03/2020 às 10h53min

Enquanto a ajuda não vem, os cortes vão começando. Antes mesmo de a quarentena obrigatória contra a pandemia do coronavírus começar em São Paulo, comerciantes e prestadores de serviços já sentiam os efeitos da crise econômica que, dia a dia, fica mais evidente —se não o tamanho da queda, mas a inevitabilidade dela.

No grupo Eme, da chef Renata Vanzetto, a decisão por demissões veio no início da semana passada, quando ficava claro que a chegada da pandemia ao Brasil deixaria dificuldades. Dos 125 funcionários do grupo, 25 que ainda estavam em fase de experiência foram dispensados.

Dos 100 que continuam no grupo, 80 estão em casa e os demais estão trabalhando com delivery. A chef diz que, sem algum tipo de ajuda do governo, não haverá condições de continuar.

O grupo tem cinco casas (Me Gusta, Ema, Matilda, Muquifo e Mé) e, em média, já está com faturamento 80% menor. Como os ganhos com delivery não cobrem todos os custos, em algumas, como no restaurante Ema, ela optou por suspender também as entregas.

“Não tenho como manter pagamento sem faturamento nenhum. Para continuar, estou dependendo totalmente de alguma medida do governo, como aconteceu em outros países. Eu não quero demitir mais ninguém da minha equipe, mas se continuar assim não tem solução. Uma hora a gente vai falir”, diz.

Outros setores também já demitem.

Marcela Colombo, 36 anos, trabalhou por quatro anos em uma agência de trade marketing, na qual atuava no treinamento de promotores e demonstradores. Além dela, outros seis colegas do RH e do treinamento foram cortados na semana passada.

“Com o coronavírus, esse trabalho de degustação praticamente morreu. As empresas deixaram de demandar, os projetos de Páscoa acabaram e eles acharam melhor cortas”, diz.

Também na semana passada, Daniela Tesolin, 40, recebeu a informação de que seu contrato com uma rede de restaurantes seria suspenso. Nos últimos dois anos, ela prestava serviço montando a programação musical desses espaços.

Antes, conta Daniela, os músicos, também eles autônomos, foram dispensados. “Primeiro, o movimento diminuiu muito, depois veio a obrigação de fechar. Quem sabe depois que normalizar eu volto.”

À ESPERA DE AJUDA

O Sindicato dos Comerciários da capital fechou acordos com os grupos patronais para que se privilegie a concessão de férias coletivas ou individuais e uso de banco de horas antes da opção pela demissão.

No comércio, a esperança é de alguma medida tomada pela equipe econômica chefiada por Paulo Guedes.

O assessor econômico da Fecomércio, Jaime Vasconcellos, diz que as empresas ainda não estão demitindo, mas essa situação deve mudar se não houver alguma medida que permita aliviar o impacto de pagamentos de salários e prazo maior para pagar ICMS e impostos federais.

A combinação de lojas fechadas, serviços parados e pessoas em casa deve ter um efeito em cascata para o setor.

“No momento, as empresas ainda não estão demitindo. Mas sem receita, não tem jeito”, diz Vasconcellos. O economista afirma que o impacto mais forte deverá recair sobre o varejo de bens duráveis como materiais de construção e automóveis.

Ele diz que, apesar de serem esses os setores mais afetados, outros segmentos, como o varejo de eletroeletrônicos, também vão sentir. Mesmo que tenham maior aderência no comércio online, principalmente as grandes redes, a queda na renda média deve ter efeitos em toda a cadeia de comércio e serviços.

“Em momentos como esses, as famílias vão direcionar a renda para bens essenciais”, diz.

Para Vasconcellos, as medidas efetivadas pelo governo até agora, com a flexibilização nas regras de concessão de férias e banco de horas, são muito positivas, mas não serão suficientes para segurar o setor por muito tempo.

MONITORAMENTO

O Sindicato dos Comerciários de São Paulo diz não ter registrado demissões em massa, mas segue monitorando a situação. O presidente do sindicato, Ricardo Patah, que também comanda a UGT (União Geral dos Trabalhadores), diz que pelo menos 100 mil empresas estão aguardando o governo.

As centrais sindicais vêm defendendo que o governo use o momento para cortar salários de servidores que ultrapassem o teto constitucional, suspensa o pagamento da dívida pública e regulamente a tributação de grandes fortunas, como meio de gerar caixa para bancar salários, criar benefícios a autônomos e trabalhadores informais e socorrer empresas.

Os representantes dos sindicatos dizem nunca ter sido chamados a conversar.

O governo Bolsonaro promete novas medidas de apoio à economia. Na terça-feira, o presidente criticou medidas de isolamento.

FONTE: Folha de São Paulo



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