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Estudo aponta causas da enchente

“Não podemos ser efeito colateral de progresso”! Esta afirmação é do coordenador da Comissão de Ensino, Ciência e Tecnologia do..

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Publicado: 05/07/2014 às 19h10min | Atualizado 22/04/2015 às 23h49min

CHEI“Não podemos ser efeito colateral de progresso”! Esta afirmação é do coordenador da Comissão de Ensino, Ciência e Tecnologia do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Rondônia (Crea-RO), o engenheiro civil e de segurança do trabalho, Jorge Luiz, ao apresentar o relatório final de investigação técnica sobre a cheia histórica, deste ano, que atingiu aproximadamente 3 mil pessoas, entre as populações urbana, rural e ribeirinha de Porto Velho.

O encontro, que foi promovido pela Comissão dos Atingidos pelas Cheias do rio Madeira, Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e o Sindicato dos Engenheiros de Rondônia (Senge-RO), aconteceu nesta terça-feira, pela manhã, no auditório do Sindicato dos Servidores Públicos Federais (Sindisef-RO) e reuniu mais de 150 pessoas, além da imprensa local, autoridades políticas e militantes das entidades que representam as famílias afetadas pela enchente.

O relatório, intitulado “A verdade sobre as enchentes do rio Madeira”, é o resultado final de oito meses de trabalho; contém aproximadamente 240 páginas de pesquisas, estudos e análises técnicas sobre as causas da cheia histórica. Jorge Luiz – que também coordenou toda a pesquisa – disse durante a palestra que é possível apontar os reais motivos que provocaram a enchente do rio Madeira. Elencou uma série de problemas de ordem técnica, definindo as mesmas como “inconsistências” que aconteceram desde o início do processo de negociação que culminou com a construção da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio: “faltaram estudos técnicos básicos; não houve diálogo e acompanhamento entre os governos Federal, Estadual e Municipal para compreenderem a dimensão dos riscos e benefícios do projeto. Muitos erros de ordem administrativa foram cometidos desde 2002”, enfatizou.

Proposta: compensar e construir

Ao analisar as questões de compensação, ou seja, como o governo deve ressarcir a população, o engenheiro lembra que “é preciso ter, além de uma indenização por danos materiais, deve-se ter a indenização social. Nada mais justo que haja uma compensação às famílias que foram prejudicadas diretamente. Segundo a Defesa Civil, são aproximadamente 3 mil famílias atingidas. No documento, estamos propondo diversas medidas. Entre elas, que seja liberado do pagamento da luz quem consome até 250 quilowatts por mês. Para as empresas prejudicadas, 1.250 quilowatts por mês, e em Porto Velho a jusante (águas abaixo), 10% da conta de luz para toda a população de Porto Velho”.

No documento, outra medida proposta é a reconstrução de toda infraestrutura do município de Porto Velho, compreendendo estradas – mobilidade urbana -, redes de água e esgoto, entre outros problemas que precisam ser priorizados pelas ações públicas e dos órgãos competentes.
O presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Rondônia (Crea), Nélio Alencar, falou sobre a importância do “Relatório da Verdade” e destacou “o lado científico e prático que teve a investigação. Considera ainda, que “para nós é muito bom ter e vender energia, mas é preciso planejar todas as etapas de um projeto desse nível. Houve falta de planejamento, por exemplo, para mudar o curso do rio. Esse encontro se faz necessário porque é preciso discutir e denunciar as perdas da população porto-velhense. O Crea não é um órgão apenas fiscalizador, mas um órgão que sai em defesa da sociedade”, garante.

Direitos, reivindicações e indenizações 

Durante a reunião no Sindsef houve pronunciamento dos representantes das entidades que apoiam as famílias desabrigadas. Océlio Muniz, representante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), disse que “o povo deve permanecer em luta para manter os direitos conquistados, porque compreendo que ‘atingido’ é todo aquele que teve a vida e o cotidiano desestruturado”. Muniz confirma que o MAB “responsabiliza os governantes, as empresas e a Hidrelétrica por todas as perdas; e reivindica indenizações para as famílias; além disso, devem fornecer cesta de alimentos; oferecer alojamentos dignos e o perdão das dívidas dos pescadores e agricultores”, conclui.

Na saída do encontro no auditório do Sindsef, Neudimar Lira Costa – morador do bairro Triângulo há 41 anos – procurou a equipe de reportagem do Diário da Amazônia para fazer uma declaração: “queremos nossas casas; queremos ser indenizados, porque não temos condições de reconstruir o que perdemos; mas não queremos ir para o Orgulho do Madeira. Temos uma história construída ali no Triângulo e nosso desejo é continuarmos próximo daquele local”. Costa é vendedor autônomo, tem três filhos e atualmente está morando em casa de amigos. Ele informou mais uma vez sobre as dificuldades que os moradores do bairro Triângulo vêm enfrentando diariamente, desde que foram atingidos pela enchente. Ele concluiu dizendo que tem esperança de “recomeçar a vida em um lugar melhor, mais digno para todos nós”.

Edilene Santiago – Foto: Jota Gomes/Diário da Amazônia



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