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ESPORTE

Ex-jogadoras da Seleção Brasileira soltam o verbo em entrevista

Rosana e Francielle falaram do atual momento da seleção feminina, da diferença de tratamento dentro da CBF e detonam o técnico Vadão.

Por Redação
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Publicado: 31/07/2019 às 10h31min

Uma bomba para o futebol feminino brasileiro e um choque de realidade sobre o atual momento em que vive a Seleção Brasileira de Futebol Feminino, que acabou sendo eliminada antes do esperado na Copa do Mundo disputada na França. Assim pode ser definida a entrevista exclusiva feita pela Betway com as ex-jogadoras Rosana e Francielle, medalhistas olímpicas. Elas contam um pouquinho da história, falam de todo o sofrimento vivido dentro da modalidade, criticam o ex-técnico Vadão pela postura da equipe em campo, falam da demissão “precipitada da técnica Emily Lima, que segundo elas realizava um bom trabalho.

Sobre as ex-colegas de seleção, elogiam o trabalho de cada uma delas na construção do futebol feminino brasileiro, mas criticam a atenção da mídia para a jogadora Marta, afirmando que muitas jogam e treinam até mais do que ela e não recebem o reconhecimento merecido, a exemplo de Cristiane e Formiga, que acabaram sendo reconhecidas pela mídia já no fim da carreira, depois de passarem quase 20 anos na seleção.

Realizadas na profissão que escolheram desde pequenas, quando jogavam nos campinhos de terra junto com os meninos, a contragosto até dos seus próprios pais que não tinham a cultura de ver meninas jogando futebol, “um esporte de meninos”, elas se dizem um pouco frustradas no que diz respeito a reconhecimento, por tudo o que ajudaram a fazer, promovendo o futebol feminino em campo e fora dele. Aposentadas, elas não largaram o esporte por completo e afirmam que o futebol feminino, apesar das conquistas, ainda tem muito a crescer e precisa ser mais reconhecido, melhor valorizado. Fazem uma comparação com o apoio recebido pelos homens no futebol brasileiro e dizem que ainda acreditam no dia em que a diferença de tratamento não será tão grande para homens e mulheres, dentro de fora dos gramados.

Betway

Uma das maiores batalhadoras pelo futebol feminino brasileiro, jogadora com vários títulos e feitos importantes, que disputou quatro Olimpíadas, conquistando duas medalhas de prata, Rosana acha que merecia maior valorização. Ela esteve em quatro Copas do Mundo e três Pan-Americanos, considera o seu sucesso no futebol, vivendo a sua maior alegria no Pan do Rio de Janeiro, em 2007, diz que o mundo é machista, mas que o Brasil é um país onde a cultura machista prevalece.

“Pra mim, o Brasil ainda é um país machista. Pelo que eu fiz por nosso país, acho que merecia um reconhecimento muito maior. O Futebol feminino merece um reconhecimento maior”.

Mas nem tudo na seleção foi decepção, muito pelo contrário. O crescimento da modalidade serve de alento para todo o empenho  e dedicação e o exemplo que marcou a carreira da atleta foi a conquista do ouro no Pan do Rio. “A satisfação vem quando você vê milhares de pessoas assistindo um jogo das meninas. No Pan do Rio, apesar de ser na nossa casa,  até a gente pensava que os estádios não estariam cheios. Aí você entra no Maracanã lotado, com 70 mil pessoas apoiando o futebol feminino. Foi muito marcante. Até hoje me arrepio. Foi um momento em que achei que o futebol feminino ia evoluir a passos largos, mas não aconteceu. Foi apenas aquele momento, mas não deram sequência e tudo aquilo quase se perdeu”, disse Rosana, que se aposentou na temporada passada, aos 36 anos, quando jogava pelo Santos.

Francielle Manoel Alberto, ou simplesmente Francielle, a meio-campo que jogava com amor à camisa, com facilidade e muita habilidade, deu seus dribles na entrevista, mas quando perguntada pela Betway, site de apostas online, chutou de primeira, deu caneladas e marcou um golaço falando da seleção.

Aposentada aos 29 anos, ainda no auge da carreira, pois esperava jogar até mais tempo, disse que interrompeu a carreira por uma pressão psicológica, por se cobrar e ser cobrada muito. “Essa pressão de no futebol feminino sempre ter de procurar mais, mais e mais, e nem sempre ter o resultado esperado. Cansei, achei que já tinha dado a minha contribuição e pensei que poderia continuar fazendo a minha parte fora do campo”, disse.
Prata nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008 ela não gosta muito de falar da CBF, a quem atribui pouca atenção ao futebol feminino. De acordo com ela, a Confederação Brasileira de Futebol nunca gostou muito da ideia de investir na seleção brasileira feminina, ao contrário do que faz com a masculina.

“….risos… CBF… risos. Esperamos sempre mais da CBF, em  todos os sentidos, mas sempre nos decepcionamos. Eles sempre podem dar mais pelo futebol feminino, mas não fazem. A prioridade sempre foi futebol masculino e isso vai continuar sendo assim, até que todos comecem a se posicionar com mais força, com mais união e principalmente, com foco”, disse.

A demissão da técnica de Emily Lima em 2017 foi um ponto negativo da Seleção Brasileira apontado por Rosana e Francielle, definido até como um retrocesso. De acordo com elas a demissão foi precoce e precipitada, pois estava sendo iniciado um trabalho que daria muitos frutos para o futebol feminino. “Esse trabalho foi interrompido de forma inesperada e tudo o que vinha sendo pensado e desenvolvido foi por água abaixo. Nada contra o Vadão, que sempre foi um paizão, mas não era hora para mudar, e o resultado foi visto na Copa do Mundo da França, quando o Brasil foi eliminado nas oitavas de final, tendo condições de disputar o título. As ideias do Vadão são ultrapassadas. É a comissão técnica que mais teve tempo pra fazer o trabalho, e que menos fez.”

A demissão de Emily Lima fez as duas jogadoras anunciarem a aposentadoria da seleção. E pouco tempo depois, ambas deixaram os gramados. Para Rosana, ainda falta mais união e força das jogadoras. Elas fizeram parte do protesto de 24 jogadoras contra a demissão da técnica, que foi completamente ignorado pela CBF, que bancou Vadão no cargo.

Sobre a camisa canarinho com as 5 estrelas do Penta Mundial conquistado pelos homens no decorrer dos tempos, as duas  atletas que passaram a maior parte da vida profissional defendendo as cores do Brasil veem com um certo desconforto.

“Não tem nada a ver. Os cinco títulos são deles, não nas meninas. O futebol feminino brasileiro tem a sua história e a independência começa por aí. Um dia as meninas vão ter a sua própria estrela na camisa por méritos delas. Não acho acho legal e nem confortável ostentar uma conquista que não nos diz respeito”, disse Rosana.

Francielli foi mais longe ao falar das estrelas do Penta. “Eles fizeram por merecer. É um orgulho para nós brasileiros esses cinco títulos, mas é uma conquista do masculino. As meninas mostraram a sua força nas Olimpíadas, no Pan Americano e até nos mundiais disputados. Um dia vamos ter a nossa estrela de campeãs mundiais e será a nossa estrela, na nossa camisa”, concluiu.



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