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Diário da Amazônia

Famílias ameaçadas por ação de despejo

Dono que havia cedido a área faleceu e os filhos  querem o terreno de volta Nove famílias que vivem no ramal São Sebastião, na..

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Publicado: 20/10/2014 às 15h24min | Atualizado 28/04/2015 às 20h18min

Dono que havia cedido a área faleceu e os filhos  querem o terreno de volta

Famílias da Comunidade Boa Fé vivem na iminência de serem expulsas da terra

Famílias da Comunidade Boa Fé vivem na iminência de serem expulsas da terra

Nove famílias que vivem no ramal São Sebastião, na comunidade Boa Fé, situada à margem esquerda do rio Madeira, estão apavorados com a possibilidade de serem retirados de suas casas. Segundo os moradores, a área foi cedida há 28 anos pelo proprietário da terra. Acontece que em 2008, o dono do local faleceu e os seus filhos passaram a reivindicar a área alegando expansão da atividade agropecuária.

Desde 2010 os herdeiros da terra começaram a cobrar o direito sobre a terra. Este ano em decorrência da cheia histórica do rio Madeira, as famílias foram para abrigos, pois toda a área ficou alagada. Ao retornarem para suas casas receberam uma intimação de reintegração de posse.

De acordo com a Lei nº 6969/81, todo aquele que, não sendo proprietário rural nem urbano, possuir como sua, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área rural contínua, não excedente de 25 hectares, e a houver tornado a área produtiva, tem direito de requerer na Justiça o domínio do lote.
No entanto, a SPU (Superintendência do Patrimônio da União), afirma que a área pertence a União, e que a preferência é das famílias que ali residem.
O problema agora são os prazos, relatou dona Maria da Conceição Nunes, aposentada e moradora da área requerida. Ela conta que a SPU encaminhou um documento de anulação do processo de reintegração de posse, à AGU (Advocacia-Geral da União), mas que até o momento, eles não recorreram da sentença, o que preocupa dona Maria.

“Nós vivemos aqui há 28 anos, meus filhos cresceram aqui, o mais novo nasceu nesse lugar, eu tenho 24 netos, 9 filhos e todos casados, somos num total de 43 pessoas nesta terra. Não temos pra onde ir”, declarou.

Sentença justicial

O processo foi julgado no Fórum Cível pela juíza Ursula Gonçalves, que mesmo com o documento da SPU que afirma que a área é da União e não de propriedade particular, deu parecer favorável aos “proprietários”.

Agricultura familiar

A família viveu durante todos esses anos da agricultura familiar, metade era pra sustento da família e outra parte pra venda. No local, antes da cheia do Madeira, era cultivado macaxeira, para a produção de farinha, biribá, açaí, manga dentre outros. “Chegávamos a tirar 50 litros de açaí por semana. Depois da enchente perdemos tudo, eu sou aposentada e ganho pouco, meus filhos estão recebendo auxílio aluguel que usamos pra comprar mantimentos. Meus filhos plantaram macaxeira após a cheia, só que nada vingou, foi preciso eles conseguirem emprego na cidade pra poder viver, uns trabalham com vendas, outros na usina, e assim vamos vivendo”, frisou.

Mais prejuízos

Além do problema com o cultivo da produção, uma das casas ficou soterrada, outra foi destruída pela força das águas. A estrada ficou comprometida, com vários atoleiros, com isso, os ônibus escolares não entram mais no ramal. “As crianças vão e voltam da escola a pé, a escola fica muito longe, o caminho é perigoso, tem a BR-319, e tudo isso nos deixa preocupados, até porque não é sempre que podemos ir levar e buscá-los na escola”, relata.
Contudo, a única coisa que dona Maria da Conceição e seus familiares querem é o direito de permanecerem em suas casas, plantar, colher, criar seus netos, no local onde passou praticamente toda a sua vida.

“Terça-feira (21) acaba o nosso prazo, é quando precisaremos sair, pois eles virão com polícia, tratores e tudo pra derrubar nossas casas e tomar posse da terra. Se não houver nenhuma ação por parte da AGU até o meio-dia da segunda-feira (20) seremos expulsos. E o que vai ser da nossa família?”, desabafou.



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