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RONDÔNIA

77% das mulheres passam por agressões semanais, aponta disk denúncia

77% das mulheres passam por agressões semanais, aponta o disk denúncia – 180. Com o fim da campanha mundial “16 Dias de Ativismo..

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Publicado: 11/12/2014 às 04h19min | Atualizado 28/04/2015 às 07h32min

77% das mulheres passam por agressões semanais, aponta o disk denúncia – 180.

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Número de delegacias especializadas no atendimento à mulher não atende a demanda, 7 para 52 municípios Jota Gomes/Diário da Amazônia

Com o fim da campanha mundial “16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher”, dados coletados na Deam – RO (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher de Rondônia), mostram a realidade das mulheres da capital rondoniense. De janeiro ao dia 4 de dezembro deste ano, 878 mulheres recorrem a medida protetiva prevista na Lei 11.340/06 – conhecida como Lei Maria da Penha. Em 2011, 805 mulheres recorrem a lei, em 2012 foram 611, em 2013,792. Ainda segundo os dados da Deam, até o dia 4 deste mês, 1.217 inquéritos policiais foram instaurados contra 1.053 de 2013.

Ele sempre me diz: “Se você for dar parte eu vou te matar, porque você não tem pra onde ir, essa casa é minha e eu vou fazer besteira contigo!”, daí nunca vim, mas dessa vez eu procurei porque preciso de ajuda, mas não sei o que será de mim quando sair daqui”, relata a dona de casa, Ana Cristina Lopes, casada há quatro anos. Ela que tem uma filha 10 anos de um outro relacionamento, e outra de 5 meses com o atual esposo, além de estar grávida de quatro meses,diz que tem sido agredida constantemente pelo companheiro, mas que não buscou ajuda por não ter pra onde ir.

A auxiliar administrativa, Julia Zamboni, também viveu momentos de horror. “Quando me casei, larguei meu trabalho para ser secretária do meu marido. Em 2004, depois de dez anos de casada, descobri que ele tinha um caso com uma garota de 16 anos. Pedi a separação. Ele não aceitou e começamos a ter brigas cada vez mais sérias, até o dia em que ele me derrubou com um tapa. Como foi a primeira vez, fiquei calada. Mas aí começou uma fase de violência física constante, e depois de muito apanhar resolvi registrar queixa na Delegacia da Mulher. O mais triste foi quando minha filha, de outro casamento, revelou que meu marido a molestava. Consegui na Justiça a separação de corpos e em seguida ele levou todos os móveis da casa. Depois de tudo, eu fui a única que ficou presa. Tenho medo de sair de casa e de que aconteça algo comigo e com minha filha. O mais chocante é que ele é um arquiteto e urbanista, com pós-graduação, que não fumava, não bebia, não se drogava. Era um marido exemplar” , relatou.

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Vítima da violência não tem um perfil padrão, diz delegada Roni Carvalho/Diário da Amazônia

Agressões físicas e psicológicas dentro de casa

De acordo com a psicóloga Betânia Assis e diretora do Creas Mulher (Centro de Referência Especializado no Atendimento à Mulher Vítima de Violência Doméstica), ninguém precisa esperar ser espancada para procurar a delegacia. “A ajuda pode começar a partir daquela briga em que a agressão, mesmo verbal passa dos limites, podendo ser enquadrada como violência psicológica. É a partir desse ponto que se deve buscar ajuda psicológica e social, seja por meio de Ong’s, seja através do Creas Mulher ou até mesmo no Juizado Especial de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher”, expõe Betânia.

Serviço de acompanhamento

Em Porto Velho, as mulheres vítimas de violência contam com o serviço de acompanhamento a mulher vítima de violência, através do Creas Mulher (Centro de Referência Especializado no Atendimento à Mulher Vítima de Violência Doméstica). Que segundo a diretora e psicóloga Betânia Assis, tem o objetivo de acolher cada mulher. De acordo com Betânia, a Casa Abrigo é o local que recebe a mulher vítima de agressão, em todo o Estado existe apenas duas casas-abrigo, uma em Vilhena e outra na Capital. O lugar recebe a mulher vítima da violência e os filhos que também ficam abrigados recebendo ambos cuidados jurídicos, físicos e psicológicos, bem como recebem cursos de qualificação profissional.

Sob cuidados do município

Segundo Betânia Assis, as mulheres que vão para a casas-abrigo, geralmente são encaminhadas através do disk 180, que a denúncia já vem direto do Ministério Público, através de determinação da Delegacia da Mulher. “Aqui realizamos uma triagem com a vítima, tomamos ciência da situação e dai encaminhamos essas mulheres até a casas-abrigo, lá elas ficam sob cuidados do município, o local é seguro, ninguém tem o endereço, tudo para manter a integridade física da mulher. Localizamos os familiares das mesmas e ai sim após entrar em contato e explicarmos a situação e resolver o problema, elas saem da casas-abrigo e voltam ao seio familiar”, explicou a diretora do Creas Mulher.c2- violencia copyLei Maria da Penha

Mesmo depois da criação da Lei Maria da Penha aprovada por unanimidade pelo Congresso Nacional e assinada em 7 de agosto de 2006, muitos homens ainda acreditam que seus atos de violência possam passar impunes. Mas essa realidade mudou, e hoje com a divulgação do que é a Lei Maria da Penha muitas mulheres tem deixado o medo de lado e passaram a procurar seus direitos através de denúncias em delegacias especializadas em atendimento à mulher e através também do disk 180, é o que relatou a delegada titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, Márcia Cristina Gazoni.

A vítima da violência não tem um perfil padrão, isso independe de cor, credo, situação financeira, hoje em dia todas as mulheres seja ela rica ou pobre, dona de casa ou empresária, correm os mesmos riscos, o de serem agredidas por seus parceiros ou ex-parceiros, o que realmente faz a diferença é a forma com que cada uma lida com a situação, algumas denunciam outras preferem manter o ato em segredo, por medo de represálias ou mesmo por vergonha, mas na maioria por não conhecer a Lei e achar que ao sair da delegacia tudo será com antes”, relatou a delegada.

Poucas delegacias especializadas

Um outro ponto levantado por Betânia, é o fato do estado de Rondônia possuir apenas 7 delegacias especializadas no atendimento à mulher, enquanto possuímos 52 municípios, um número ineficiente para a demanda, segundo ela. Betânia diz que, apesar de não deixar marcas físicas evidentes, a violência psicológica é também uma grave violação dos direitos humanos das mulheres, que produz reflexos diretos na sua saúde mental e física. 



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