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Diário da Amazônia

Isolado, PSL desperta desconfiança nos deputados

Líder do partido nega isolamento, mas admite possibilidade da legenda ficar sem cargo relevante mesmo tendo a maior bancada da Casa

Por Terra
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Publicado: 22/03/2019 às 12h04min

Após lançar a candidatura de Janaina Paschoal (PSL) para presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) em processo eleitoral que terminou com muitas mágoas, o PSL encara a possibilidade de ficar sem nenhum cargo relevante na Casa. Deputados relataram ao Terra desconforto com a postura do partido.

O líder do PSL na Alesp, Gil Diniz.

A bancada da sigla tem 15 deputados, é a maior do Legislativo paulista. Além de perder a eleição para a presidência da Casa para Cauê Macris (PSDB), o PSL não conseguiu nenhum dos oito cargos eletivos na direção da Alesp. O único não pesselista que votou em Janaina foi Arthur do Val (DEM), o “Mamãe Falei”.

A reportagem perguntou ao líder do partido na Alesp, Gil Diniz, se ele considera que o grupo está isolado. “Acho que não”, respondeu. Segundo ele, há diálogo com todos os líderes de bancada.

De acordo com o deputado, porém, seu grupo não negociará cargos. “Espero que elejam para a presidência das comissões quem tem conhecimento técnico”, disse. Também pede que o tamanho da bancada seja levada em conta, uma questão de proporcionalidade. “Se for por acordo político…”.

Janaina Paschoal deverá ser lançada como candidata a presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJ), a mais importante da Casa. Diniz também citou a existência de quadros da polícia na bancada do partido que poderiam ser protagonistas em discussões sobre segurança pública.

O líder do PSL conversou com o Terra caminhando pela Assembleia após a sessão da última quarta-feira (20). Havia no caminho uma solenidade voltada a policiais militares. Diniz cumprimentou três oficiais.

A deputada Janaína Paschoal no plenário da Assembléia Legislativa de São Paulo

A proporcionalidade reivindicada por Diniz é prevista no Regimento Interno da Alesp na composição das comissões. Na CCJ, por exemplo, o PSL tem duas vagas garantidas – o grupo será integrado por 13 deputados.

Para presidir o colegiado, porém, é preciso se candidatar e ganhar a eleição. A desconfiança de outros deputados por fatos ligados à disputa pela presidência da Alesp pode atrapalhar.

Quem apanha não esquece

Logo após ter os 70 votos que confirmaram sua permanência à frente da Alesp, Cauê Macris sinalizou que tentaria pacificar o plenário. Não deixou, porém, de classificar a campanha como “suja” e “baixa”.

Ainda no ano passado, Janaina Paschoal se lançou como candidata ao cargo. Os demais deputados foram alvo de ataques de militantes virtuais do PSL, que pressionavam para que os políticos apoiassem Janaina.

Telefones de deputados foram divulgados. Eles eram colocados em grupos de Whatsapp, nos quais os políticos eram bombardeados por mensagens intimidatórias.

“Quem fugir da raia ou sair do grupo será execrado da política paulista/brasileira. Duvidam?”, dizia uma das mensagens às quais o Terra teve acesso. “Informamos que todos os fujões serão devidamente identificados e repassaremos em todas as redes sociais sua atitude covarde e pobre de espírito”, escreveu outro militante.

Nos corredores da Alesp, a divulgação dos telefones é atribuída a um deputado do PSL – mas ninguém tem provas.

Na sessão da votação, no último dia 15, o partido tentou barrar a candidatura de Cauê Macris sob o argumento de que a reeleição do presidente da Casa é proibida. Houve gritaria e tumulto no plenário.

No saguão da Assembleia, simpatizantes do partido faziam bastante barulho. Em frente ao prédio, havia até um pequeno trio elétrico em apoio a Janaina – a mobilização era espontânea, de acordo com manifestantes.

Macris cumpriu seu primeiro mandato de dois anos à frente da Alesp no final da legislatura passada. Há um entendimento consolidado no Legislativo que não considera reeleição quando o primeiro mandato como presidente é em uma legislatura e o segundo em outra.

Perguntado se a postura do partido no processo de escolha do presidente da Casa pode ter deixado uma impressão ruim nos demais deputados, Gil Diniz diz: “Com impressão ruim, fomos nós que ficamos”. Ele critica o amplo acordo que garantiu a eleição de Macris.

“Nunca vi uma eleição tão tumultuada e nem tão decidida”, diz Campos Machado (PTB), deputado estadual dos mais experientes de São Paulo. “Eles [PSL] querem ser protagonistas de uma peça teatral que não vai terminar em bom termo”, afirma.

Campos Machado, deputado e articulador da campanha de Cauê Macris

Um dos principais articuladores da continuidade do presidente da Alesp no poder, Machado disse que agiu para conter uma tentativa de alguns deputados do PSL de tirar o PT da aliança construída em torno da candidatura de Macris.

Como Janaina Paschoal se lançou ao principal cargo do Legislativo desde o primeiro momento, o PSL ficou fora das primeiras articulações em torno de Macris. Na altura em que essa história surgiu, os acordos já estavam fechados.

“Quando eu fiquei sabendo desse zum zum zum, liguei para o deputado Ênio Tatto (PT) [para reafirmar o compromisso acordado]”, diz Campos Machado. Tatto foi eleito primeiro-secretário, e o PT deu seus 10 votos a Macris. Cogitar uma quebra de acordo “é um absurdo”, segundo Machado.

Uma deputada que pediu para não ser identificada manifestou estranheza com a posição do PSL em relação ao governo estadual e sua base. Segundo ela, o partido tem afinidades programáticas importantes com o governador João Doria (PSDB). Não faria sentido não apoiar.

No mesmo dia em que Macris confirmou sua permanência no cargo, a então líder do PT, Beth Sahão, fez uma previsão conflituosa para os trabalhos da Assembleia. “Se essa situação que vimos hoje se repetir, todo mundo vai querer tomar uma posição”.

Ela lembra que PT e PSDB costumam ter bancadas grandes na Assembleia e defenderem ideias opostas. De acordo com Sahão, havia muitos atritos, mas os grupos se respeitavam.

Governo acena
Recém-reconduzido à liderança do governo na Alesp, Carlão Pignatari (PSDB) classifica a bancada pesselista como “aguerrida”. Ele diz que tem concordância com quase todas as pautas do PSL, e mostra simpatia por seus integrantes. Segundo Pignatari, é provável que a maior bancada passe a ter uma relação mais pacífica com os demais deputados. “Isso se acomoda”, afirma.

O bom resultado do PSL nas eleições de 2018, entretanto, foi em grande parte graças à campanha em que condenou a chamada “velha política”. Isso pode impedir que os integrantes do partido componham com forças tradicionais. “Como eu vou explicar para o meu eleitor se votar no PT ou no PSDB?”, questiona Gil Diniz.



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