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Diário da Amazônia

Luis Clodoaldo Conta a história da benzedeira Dona Cotinha

Luís Clodoaldo Cavalcante Filho nasceu no dia 6 de janeiro de 1956 em Porto Velho. Filho da famosa rezadeira, benzedeira e parteira..

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Publicado: 25/01/2015 às 04h00min | Atualizado 28/04/2015 às 18h07min

Luís Clodoaldo Cavalcante Filho nasceu no dia 6 de janeiro de 1956 em Porto Velho. Filho da famosa rezadeira, benzedeira e parteira conhecida como Dona Cotinha. “Nossa família, ao chegar a Porto Velho, foi morar no que mais tarde se tornou no bairro Areal. As terras onde hoje estão o Centro do Menor e a Igreja de Nossa Senhora de Fátima pertenciam à minha mãe”. Segundo Clodoaldo, não tinha hora para Dona Cotinha atender às pessoas, às vezes na madrugada batiam na porta, era uma pessoa com dor de cabeça pedindo um remédio ou reza, ou então alguém com uma espinha de peixe atravessada na garganta.

Dona Cotinha faleceu em 1998 porém, ainda hoje é lembrada com saudades por muitas pessoas de Porto Velho e até de outros Estados. Em vista disso, o bloco carnavalesco “Canto da Coruja”, vai desfilar no dia 13 de fevereiro homenageando a rezadeira do Areal com o tema “Saudades da Dona Cotinha”, uma marchinha cuja letra é de autoria do Luís Clodoaldo e a música do Silvio Santos. Vamos à história da Dona Cotinha narrada pelo seu filho Professor Luís Clodoaldo.

Zk – Vamos contar a história da sua mãe, a Rezadeira conhecida como Dona Cotinha! Quem era Dona Cotinha?
Clodoaldo – Dona Cotinha era uma benzedeira que morava no bairro Areal, que rezava para várias “mazelas” como quebranto, espinhela caída, dor de cabeça, dor de dente, enfim para tudo quanto era dor, além de ser muito procurada por atletas de todas as modalidades esportivas, para “pegar’ desmentiduras, luxação, carne trilhada etc.

Zk – É verdade que ela era dona de uma grande área de terra no bairro Areal?
Clodoaldo – Aquela parte da igreja Nossa Senhora de Fátima inclusive o Centro do Menor, entrando pelas terras do Sivuca, era toda da nossa família, isso quer dizer, rua D. João Batista Costa, Raimundo Cantuária e Esron Menezes. Além disso, ela tinha terreno em outros locais como ali perto da São Lucas e na Prudente de Moraes quase todo o bairro do Areal era nosso.

Scanned DocumentZk – E como foi que a família de vocês conseguiu tanta terra assim?
Clodoaldo – Acontece que nossa família foi das primeiras a habitar o que depois se tornou o bairro Areal, foi pioneira na ocupação daquela área da cidade, era como se fosse uma colônia onde se cultivava várias espécies de lavoura e se criava galinha, porco, carneiro essas coisas. Pra você ter ideia de como nossa família foi pioneira, minha avó materna dona Ana que também foi casada com seringalista, foi proprietária de uma grande área de terra que começava na Sete de Setembro e ia até onde hoje é o Colégio Interação. Uma tia também foi dona de uma área que começava na Sete, em frente ao Hotel Nunes e terminava na rua Paulo Leal no bairro da Favela.

Zk – Você sabe contar como foi que a Dona Cotinha descobriu que tinha o dom de curar as pessoas através de reza, benzedura?
Clodoaldo – Segundo ela nos contava, que quando veio de Novo Aripuanã era evangélica e com o passar do tempo começou a receber uma entidade (espírito) e aderiu à religião católica, pois como Crente não poderia admitir sua mediunidade. Nesse tempo ela morava onde hoje é o Centro do Menor.

Zk – Ela rezava pra que?
Clodoaldo – Rezava e benzia tudo. Não há doença que não se cure para as benzedeiras. Espinhela caída, quebranto, cobreiro, carne trilhada, mau olhado, espinha na garganta, doenças nervosas, encosto. Para a mamãe, todos esses males tinham soluções. E ainda pegava menino como parteira. Você há de admitir que a cura através de rezas, banhos, chás e efusões ainda são bastante cultivadas pela sociedade atual.

Zk – Com certeza a casa de vocês vivia cheia de gente?
Clodoaldo – Desde a madrugada começa a chegar gente, era para rezar num menino com quebranto e muitas outras rezas. Pra você fazer ideia, quando o 5º BEC chegou aqui ela atendeu o comandante lá em casa, deputados, senadores e governadores além de prefeitos, todos procuravam a mamãe por algum motivo que dependesse de uma reza. Dom João Batista Costa era compadre dela o Dr. Renato Medeiros líder dos ‘Pele Curta’ também vivia lá em casa.

Zk – Dom João Batista não era contra esse negócio de rezadeira?
Clodoaldo – Era não, nem ele nem o diretor do Colégio Dom Bosco, padre Oscar.

Zk – Quantos filhos ela teve e quantos se transformaram em rezadores?
Clodoaldo – Dezessete filhos, vivos somos oito e mais um filho de criação. Só a Georgete herdou o dom de rezar nas pessoas, ela atende na Joaquim Nabuco com a rua Amazonas, no bairro Santa Bárbara.

Zk – Você sabe de algum caso que a medicina científica não solucionou e a dona Cotinha curou.
Clodoaldo – Tem o caso da dona Mariana da Livraria Pedagógica, que passou quase um mês com uma dor de cabeça infernal, foi com tudo que era médico e nenhum acertou o remédio que a curasse, então ela foi com a Dona Cotinha e com poucas sessões de reza, ficou curada.

Zk – Como ela conseguia as ervas medicinal?
Clodoaldo – Como ela tinha muita terra, ela mesma cultivava as plantas medicinais, quando não, mandava buscar no Candeias, e os beradeiros traziam pra ela. Tinha um galpão no quintal de casa que era depósito dessas ervas.

Zk – E a história do professor Clodoaldo?
Clodoaldo – Estudei no colégio Dom Bosco e depois que conclui o ginásio abri na Sete de Setembro a Oficina Honda, com o meu irmão que era mecânico no 5º BEC. Eu apenas administrava quem comandava a oficina era meu irmão.

Zk – O professor surge quando?
Clodoaldo – Fui fazer cursinho em Brasília no colégio Objetivo. No primeiro vestibular que fiz passei para Educação Física. Até o ano passado fui professor na escola Franklin Roosevelt. Antes trabalhei no colégio do 5º BEC que mudou de nome três vezes. Começou como Marechal Malet, Vilagran Cabrita e hoje é Carlos Aloísio Weber. O Franklin Roosevelt é o colégio mais antigo de Porto Velho e fica no Morro do Triângulo. Também trabalhei no Getúlio Vargas, Castelo Branco, Padre Chiquinho.

Zk – E como carnavalesco?:
Clodoaldo – Fui presidente do Bloco Unidos do Areal que depois virou escola de samba. Quando a escola parou, criamos em parceria com o Cezinha, Bosco e outros foliões do Areal o Bloco “Canto da Coruja” do qual sou o atual presidente. Também militei e gosto da brincadeira de Boi-Bumbá, sou do Corre Campo.

Zk – Voltando para a Dona Cotinha, tem algum logradouro público com o nome dela. Aliás, como é o nome dela de batismo?
Clodoaldo – Ainda não tem nenhuma rua, prédio, escola com o nome dela, mas, segundo os bastidores da política alguns vereadores estão entrando com Projeto para homenageá-la com seu nome em algum logradouro municipal. O nome dela no registro de nascimento é: CRÁUTIDA DE SOUZA. É melhor dizer apenas Dona Cotinha.

Zk – E no carnaval do bloco Canto da Coruja, o que vai acontecer?
Clodoaldo – Vai acontecer que vamos homenagear a Dona Cotinha. Ela é o tema do nosso bloco em 2015. Vamos desfilar no dia 13 de fevereiro, cantando a marchinha que tem a letra de Luis Clodoaldo e a melodia de Silvio Santos que fala da Dona Cotinha. Hai, hai, é chá é chá/De ervas e plantas medicinais/Lá da matinha/Mas que saudade da Dona Cotinha/Ela fazia o bem sem olhar a quem/E o bloco da Coruja/Tem vários estilos musicias/Porém seu carro-chefe é a marchinha/Isso tudo em homenagem a mão de Fada/Da Dona Cotinha/Lá do além. Ela ainda faz o bem/Sem olhar a quem/Pois, vem que tem marchinha…



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