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Diário da Amazônia

Na fronteira com a Bolívia, falta de saneamento assusta moradores

Conhecido empresário da região afirma que sua cidade seria muito vulnerável caso a pandemia de covid-19 chegasse lá; ainda não há casos

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Publicado: 25/03/2020 às 16h50min

Durante o ciclo da borracha, entre 1879 e 1912, a cidade de Guajará-Mirim era um dos pontos estratégicos para a economia brasileira. Lá foi instaurada a estação ferroviária para a estrada de ferro Madeira-Mamoré.

Com uma vasta vegetação nativa e influenciada pela cultura indígena, a cidade hoje vive uma rígida quarentena, seguindo decreto do governador do Estado de Rondônia, o Coronel Marcos Rocha, para evitar o contágio pelo novo coronavírus.

Em condições normais, a cidade seria uma das que mais correriam risco de serem afetadas pela doença, já que faz fronteira com a Bolívia. Em uma travessia de apenas cinco minutos pelo Rio Mamoré, se pode chegar ao outro lado.

Mas toda essa movimentação está travada neste momento, conforme afirma o empresário Romeu de Miranda, que possui uma loja de colchões, no modelo de franquia.

A situação desta cidade, que não possui saneamento básico, é um retrato da vulnerabilidade que assola a grande maioria dos municípios brasileiros neste momento. A população mais consciente está incomodada com tais condições, segundo Miranda.

O simples ato de lavar a mão, com água limpa e sabão, está comprometido. Miranda afirma também que há escassez de álcool em gel.

Ele vê com preocupação o panorama na cidade. Até agora, o Estado de Rondônia tem cinco casos de covid-19, sendo um deles por transmissão local. Em Guajará-Mirim, ainda não foram registrados casos.

“Se for para parar, tem de travar tudo. Aqui há duas entradas e saídas. Pelo rio, para o Exterior, e pelas estradas, que ligam outras cidades e Estados. Não adianta fechar só para fora, se continuarem entrando pessoas de outras cidades e que podem trazer o vírus. Tudo está parado, a cidade já passa por dificuldades e está fazendo um sacrifício enorme”, avalia.

Para piorar, ele afirma que não há leitos disponíveis caso a pandemia chegue.

“A administração aqui é precária. No fim de 2019, minha filha machucou a testa na escola, a levei para o posto de atentimento. Eles não tinham um esparadrapo. Me ‘orientaram’ a ir a uma farmácia, comprar e fazer eu mesmo o curativo. Se vier o coronavírus, não há um leito sequer. Os casos aqui são levados para a capital, Porto Velho, a 340 km”, ressalta.

O R7 tentou entrar em contato com a Secretaria da Saúde e com a Prefeitura locais mas ninguém atendeu às chamadas.

A região é um ponto turístico atrativo, muito em função de sua vegetação nativa. Mas, assim como o comércio, o turismo também está sofrendo perdas, segundo ele.

Para piorar, menos de 4% da população tem acesso a saneamento básico. Neste sentido, em vez de proteger, o isolamento tem trazido risco a alguns moradores, segundo Miranda.

“A maioria das pessoas depende das fossas. Muitas casas são pequenas, apertadas e, com condições de higiene inadequadas, o risco é maior. Para muitas crianças, por exemplo, seria melhor irem para a escola, onde poderiam usar água tratada e teriam acesso a mais medicamentos e cuidados”, ressalta.

Tendo investido na cidade, agora abrindo também uma franquia de óculos de sol, relógios e acessórios, ele se vê numa encruzilhada, em que pretende resistir até quando for possível.

“Numa das minhas lojas, tenho três colaboradores. Estou abrindo outra, em outro ramo, com mais três. Na primeira, propus férias e eles não gostaram. Concordo, pois não é o melhor momento, assim como para mim, como empresário, tenho de pensar em números. Seria melhor do que demitir. Mas decidi não dar férias e vou segurar até quando der. Vou resistir enquanto for possível. Não quero prejudicar ninguém, mas não posso deixar de ver o meu lado”, observa.

Fonte: R7



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