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VARIEDADES

No cinema, Jaspion é brasileiro e será visto nas ruas da Liberdade

Longa ainda não tem data de estreia definida; Diretor quer que atores do seriado original façam participações na versão brasileira

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Publicado: 04/06/2020 às 15h07min

Em 2018 aconteceu um dos anúncios mais surreais da história do cinema nacional, o de que Jaspion, o famoso herói dos seriados japoneses, teria um filme brasileiro. É ou não é para ficar de queixo caído e cabelo em pé? A resposta é sim se você assistiu ao seriado exibido originalmente no Brasil no final dos anos 80 e início dos 90. Foi um megassucesso e o personagem é hoje um clássico.

No cinema, Jaspion é brasileiro e será visto nas ruas da Liberdade

Acontece que desde 2018 os fãs ouviram poucas novidades sobre a produção, então lá se foi este colunista averiguar como estão os trabalhos. Bem, o roteiro ainda passa por tratamentos, mas já existe uma história com começo, meio e fim, segundo o diretor e roteirista Rodrigo Bernardo. Ele também contou algumas coisas interessantes. Uma delas é que Jaspion, nesse filme, será um brasileiro (não necessariamente com traços orientais), vive em São Paulo e temos enormes chances de vê-lo andando (e talvez lutando contra aliens?), por exemplo, pelo bairro da Liberdade, região de SP que abriga grande parte da colônia japonesa no Brasil. É ou não é para cair da cadeira?

“A gente continua [a história] de onde a série parou, a partir do último capítulo. O que aconteceu depois disso? E aí a gente traz tudo para 2020. O filme do Jaspion se passa no Brasil, em são Paulo. Tem uma chance grande de o Jaspion ser visto na Liberdade, sim. Vamos mostrar como ele estaria hoje em SP, o que aconteceu para ele vir parar aqui”.

Como a aventura vai acontecer no Brasil, o ator que interpretará o herói será algum conterrâneo nosso e, veja só, não precisará ser nem parecido com Hikaru Kurosaki, que interpretou o herói na TV. Segundo Bernardo “não é obrigatório o ator ter traços orientais. Ele vai ser brasileiro e falará português. Pode ou não [ter traços orientais], mas será um Jaspion brasileiro”. Nessa fase da produção ainda não há atores escalados para o elenco e o diretor ainda não tem em mente quem vai viver o Jaspion nacional. “Essa é uma escolha importantíssima e o meu método é não pensar no ator. Quando eu tiver uma história, penso no ator”. Para Rodrigo, o personagem poderá ser interpretado por alguém conhecido ou não.

Por falar em ator, muita gente deve esperar que Hikaru Kurosaki faça uma aparição no longa, o que seria uma homenagem e tanto. É, mas isso tem chances próximas do zero de acontecer. “Queremos muito que tenha participações do elenco original da série. Mas o ator original se isolou, está levando uma vida de pescador. Mas entramos já em contato com o ator que fazia o Boomerman [Hiroshi Watari]. Temos a internção de colocar o elenco original no filme”, revelou Bernardo. Nelson Sato, diretor da Sato Company, produtora do longa, também confirmou a história sobre a presença de Kurosaki: “Isso foi pensado, tentamos fazer contato com ele e até pedi para o Toei [empresa que detém os direitos de Jaspion] ir atrás dele, mas ele não quer”.

DIRETOR-FÃ
Rodrigo Bernardo parece mesmo ser o cara certo para dirigir o filme do Jaspion brasileiro. Hoje com 37 anos, ele conta que é fã do personagem desde que era criança. “Na época [em que o seriado passava na TV Manchete] eu fiz meus pais me levarem ao circo do Jaspion. Era horroroso, tinha um cara vestido de lycra imitando ele. E eu chegava sempre direto da escola e ia assistir Jaspion, Changeman, Jiraiya”.

Na nossa conversa, o diretor/roteirista falou com muita empolgação sobre assumir o projeto e também de ter a chance de trabalhar em algo tão diferente como um filme brasileiro do Jaspion. “Quando apareceu o projeto, tive de propor uma história, um argumento de como seria a história depois de 30 anos. Comecei a escrever para poder mandar para a Toei, no Japão. Eu estava no processo criativo, pensando na estrutura e aí quando escrevo ‘Daileon’ precisei levantar para tomar uma água”, diz Bernardo em meio a risos.

Rodrigo Bernardo lançou em 2018 seu primeiro longa, Talvez Uma História de Amor, comédia romântica protagonizada por Matheus Solano e Bianca Comparato. Quer dizer, Jaspion é um tipo de filme que o diretor nunca fez mas seu lado nerd e fã do personagem devem compensar isso. “É um filme de super-herói diferente. Fora o lado da produção, tem um lado de fã muito grande. O principal é que a gente está fazendo tudo com muito cuidado. Meu lado fã quer ver o filme pronto anteontem, mas estamos tendo cuidado para fazer o melhor filme e a melhor história que o projeto merece”. O diretor contou que espera ter o longa pronto para estreia no final de 2021 ou início de 2022. “Essa é uma data possível, mas o lançamento passa pela distribuidora, tem questões de data e isso é fora do nosso controle. O ideal é que esteja pronto para o final de 2021. Mas isso também depende do cenário sanitário e econômico e, no momento, isso muda todo dia. Queremos estar no set de filmagem no meio do ano que vem. Esse é um prazo realista”.

EM BUSCA DE GRANA

Nesse momento em que Rodrigo Bernardo dá tratamentos ao roteiro do filme, Nelson Sato, diretor da Sato Company, pensa em como conseguir todo o dinheiro para a produção. Jaspion terá de contar com muitos efeitos especiais para funcionar e isso, como se sabe, não é algo exatamente barato. “Temos [no Brasil] capacidade para fazer um bom filme, o problema é captar [recursos]. Depois que estivermos com o roteiro finalizado, teremos de conseguir o dinheiro. A ideia é não contar com o governo e fazer tudo de maneira privada”.

Sato comprou os direitos das séries em 2015 e em 2018 haveria a celebração dos 120 anos da imigração japonesa no Brasil. Então, Sato teve a ideia: “em 2017 comecei a pensar em como homenagear essa data e achei que poderia fazer uma coisa Brasil-Japão”. Mas houve uma demora na liberação dos direitos e o plano de lançar em 2018 foi por água abaixo.

Nesse meio do caminho, Sato diz que chegou até a ser procurado por empresas americanas interessadas em fazer uma produção conjunta de Jaspion. O que seria bem-vindo considerando o nível de efeitos especiais que o longa necessita, mas o empresário brasileiro achou melhor seguir sozinho. “Os americanos queriam fazer tudo em inglês, o que iria tomar tempo, teria de ter um outro nível de qualidade para um lançamento mundial. Aí pensei que estava saindo da minha linha, que era fazer tudo no Brasil, com produção brasileira e atores brasileiros. E defini nesse ano que não queria fazer uma produção internacional. Vou fazer só no Brasil mesmo”. Assim, Sato conta também que logo mais irá ao mercado buscar investidores e publicidade com merchans “que vamos colocar dentro do filme”.

Há quem acredite que um projeto tão diferente — e quase surreal — como esse filme brasileiro do Jaspion possa nunca sair do papel. Mas Sato discorda. “Não vejo isso [o não lançamento do longa], mas vai ter demora. Todo projeto de efeito especial leva tempo. E o roteiro tem que estar afinado com o pessoal de efeito especial”.

Bom, e já que é para fazer um filme do Jaspion, o diretor Rodrigo Bernardo tem seus parâmetros de excelência em mente. Ele busca inspiração para sua versão do herói japonês em grandes produções do cinema: “Claro que Star Wars é o Santo Graal. Também gosto muito do primeiro Homem de Ferro”.

Se Jaspion seguir por esse caminho — Star Wars e Homem de Ferro — poderemos ter um novo clássico brasileiro. Ou seria japonês? Melhor mesmo é chamar de nipo-brasileiro.

FONTE: R7



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