Porto Velho/RO, 19 Março 2024 00:34:02
Diário da Amazônia

O piloto comandante do PDS no tempo do Teixeirão

Dezival Ribeiro dos Reis.

Por Sílvio Santos Diário da Amazônia
A- A+

Publicado: 22/01/2017 às 05h35min

O comandante Dezival Ribeiro dos Reis hoje fazendeiro, pode ser considerado pioneiro de Rondônia, pois, de piloto do Ministério dos Transportes e de empresa mineradora de cassiterita, conseguiu se eleger presidente do Partido Democrático Social – PDS disputando com o candidato do poderoso governador Jorge Teixeira de Oliveira. “Ganhei do candidato dele por um voto”. Teve a coragem de dizer em audiência com o então presidente João Batista de Figueiredo que o candidato dele à Presidência da República, Mário Andreazza não teria mais do que três votos entre os delegados do partido em Rondônia. Teve a coragem em dizer ao amigo Jorge Teixeira que solicitou que ele levasse um presente a uma jovem que se dizia grávida dele (Teixeirão). Que não levaria o presente porque o filho “Não é seu governador”. Dezival apesar de ser o manda chuva do PDS, jamais assumiu cargo de secretário de estado e nem foi candidato a deputado ou outro cargo qualquer. “Para não dizer que nunca assumi um cargo comissionado no governo, fui presidente da Cagero no governo de Osvaldo Piana”.

O homem que se quisesse, seria um dos maiores latifundiários de Rondônia, tem apenas uma fazenda de 450 hectares. Quinta-feira passada à tarde, eu e o fotógrafo J. Gomes gravamos a entrevista que segue:.

Zk – Quem é o Dezival?
Dezival – Sou goiano, porém quando vim pra cá, estava morando em Brasília. Era comandante (piloto) funcionário federal do Ministério dos Transportes, aliás, o comandante mais novo que tinha na frota. Pedi licença sem remuneração por um ano e vim pra cá pra Rondônia. Aqui comprei um avião em sociedade com um colega piloto que também era do Ministério. Esse colega veio na frente e começou a voar e naquela ganância de ganhar dinheiro, esqueceu de abastecer o avião, caiu e morreu.

Zk – Depois desse desastre?
Dezival – Não esmoreci, comprei outro avião em sociedade com outro piloto do mesmo Ministério e comecei a vida de novo. Estava com 28 para 29 anos de idade quando aqui cheguei no dia 8 de fevereiro de 1968. Nasci no dia 9 de maio de 1938.

Zk – Fale sobre sua vida de piloto de aeronave em Rondônia?
Dezival – Comecei a voar aqui para a Cia Estanífera do Brasil que tinha as subsidiárias CIVA e Mibrasa, transportando cassiterita, veja bem, eu nunca gostei de ser aventureiro, de ficar atrás de garimpeiro pra levar e trazer do garimpo. Gostava de voar mais barato e em consequência disso, fiz negócio com a CIVA e com a Mibrasa, os diretores eram o Dr. Napolitano e o Dr. Cássio entre outros e fui me entrosando com os empresários daqui. Enquanto os colegas pilotos disputavam os garimpeiros eu voava com a diretoria das empresas e transportava cassiterita obedecendo às normas da aviação, ou seja, não excedia o peso.

Zk – Qual o nome do garimpo?
Dezival – Naquele tempo só existiam dois municípios, Porto Velho e Guajará-Mirim, o resto era Distrito ou Vila, hoje são 52 municípios e eu ajudei a fundar quase todos eles. Respondendo a sua pergunta. Voava para os garimpos SPI, Marechal Rondon, Ariquemes, Massangana. Meu reduto mesmo era onde hoje é Campo Novo. Naquele tempo ninguém era dono de nada aqui, não tinha proprietário de terra, não tinha fazenda. O maior fazendeiro daqui ficava na Vila de Rondônia, era o Zé Milton Rios que tinha umas 800 cabeças de gado. Hoje Rondônia tem quase 20 milhões de cabeça. Conheço um fazendeiro que sozinho, tem mais de 120 mil cabeças de gado, é o Garão Maia cuja fazenda fica em Chupinguaia.

Zk – Lembro que o senhor foi presidente do PDS. Como aconteceu isso?
Dezival – Comecei a trabalhar e ganhar dinheiro… Quando cheguei aqui o governador era o Cel. Assunção Cardoso. Depois passou Ghaiva, João Carlos Henrique duas vezes, Cel. Guedes até chegar o Cel. Jorge Teixeira. Na gestão do Coronel Guedes entrei para a política, o partido era a ARENA e ele me pediu para ajudar a eleger o Isaac Newton deputado federal que não era nada na vida, a não ser o gerentezinho de um banco lá em Guajará-Mirim.

Zk – É verdade que ele resolveu fazer o Isaac deputado em virtude de uma briga com o Odacir?
Dezival – Houve uma desavença… Era tudo do mesmo partido. Acontece que o Odacir fez uma “panela” e botou só gente fraca, colocou o professor Teixeira e então o Cel. Guedes disse, vou lançar o Isaac e acabou que o Isaac ganhou a eleição, aí fui tomando gosto pela política, sempre ia a Brasília e procurava me inteirar dos acontecimentos político, os bastidores. Quando o Teixeira assumiu o governo do Território de Rondônia me chamou e me convidou para criar o PDS. Lembro como se fosse hoje. O Rochilmer Rocha já trabalhava com ele e foi quem me disse que o governador queria falar comigo. Quando cheguei o Teixeirão foi dizendo: Tô com a ficha do PDS pra você assinar. Minha ficha foi a número seis.

Zk – E como foi que o senhor se elegeu presidente do PDS?
Dezival – Fui secretário geral por um tempo. A história da minha eleição para à presidência do partido foi considerada “zebra”; o jornal Alto Madeira publicou uma charge onde minha cabeça era colada no corpo de uma zebra. Ganhei a eleição pela diferença de um voto do candidato do Teixeirão. Acontece que os senadores Galvão Modesto, Odacir Soares e os deputados Chiquilito, Rita Furtado e Dr. Rachid se desentenderam com o Teixeira e eu fiquei do lado deles. O candidato do governador Teixeira foi o senador Claudionor Roriz. Eu só ganhei porque o Teixeirão não foi votar. Ele declarou à época: “Se fosse candidato único eu ia votar…” e nem o Cel., Arnaldo Martins que era deputado federal. Quando terminou a eleição fui ao palácio, afinal de contas eu era muito amigo do Cel. Teixeira e fui muito bem recebido. Ele apenas fez uma recomendação: “Só não quero que você traga aqui o Maurício Calixto e nem o Mário irmão dele. Os demais tudo bem”.

Zk – E depois dessa eleição, como ficou seu relacionamento com o governador Teixeira?
Dezival – Ficamos mais amigos e eu sempre dava ideia pra ele: Governador, por que o senhor não convida nossa bancada federal para um jantar em sua residência com o objetivo de se discutir a melhor política para o Estado e ele não aceitava. O problema é que ele não queria dividir o poder com ninguém, era só ele e mais ninguém. Nessa mesma balada sugeri que ele chamasse o Bianco, que era o presidente da Assembleia, e os deputados do partido para uma conversa em sua residência e ele ficou irredutível. O clima foi ficando ruim entre eles, comigo não, até que chegou o ponto do presidente da república João Batista de Figueiredo ficar sabendo e me procurou. Repara bem: Tô chegando à sede do PDS na rua José Bonifácio e a secretária disse: Presidente tem uma ligação de Brasília pro senhor, atendi e era a Dra. Mercedes da Casa Civil da presidência e ela foi dizendo: “O ministro Leitão de Abreu me deu a incumbência de avisá-lo que o presidente Figueiredo quer falar com o senhor”, e passou o telefone para Leitão que me disse que o presidente queria falar comigo sobre o que estava acontecendo entre os senadores, deputados federais e estaduais contra o governador Jorge Teixeira.

Zk – E o encontro com o presidente João Figueiredo?
Dezival – Assim que terminei de falar com o ministro liguei pro meu padrinho senador Odacir Soares que recomendou que embarcasse imediatamente para Brasília, a audiência com o presidente ficou marcada para quarta-feira e eu saí daqui pra lá na segunda-feira. Nunca havia entrado no palácio da Alvorada, nunca havia falado com um presidente da República. Depois de passar pelos protocolos de praxe me vi frente a frente com o presidente da Repúblico e mais, em seu gabinete, uma honra. Antes disso o major Dourado, da Casa Militar me orientou: “Quando o senhor entrar vai dar de cara com muitos jornalistas, fotógrafos de todos os lados, não se preocupe, siga em frente, não responda nada. A fala com o presidente não pode passar de 18 minutos, certo”.

Zk – Qual o assunto da conversa?
Dezival – Na época estava em discussão à eleição para a presidência da republica e o PDS tinha dois candidatos, Mário Andreazza que era o candidato oficial e o Paulo Maluf. Ele quis saber sobre o relacionamento do Coronel Teixeira com os nossos delegados eleitores e eu expliquei que o Teixeira apesar de ser uma pessoa muito boa não é benquisto pela classe política em virtude de não querer ouvi-la. O presidente ponderou: “O Teixeira é assim mesmo” e me contou alguns causos do Teixeira militar, até que entrou no assunto principal, perguntando o que eu achava da eleição do Mário Andreazza e eu respondi: em Rondônia ele não ganha, não terá mais do que três votos. “Não é possível, não é isso que o Teixeira fala! Por que você acha que o Maluf tem esse prestígio em Rondônia?”. Porque o Doutor Paulo Maluf, liga, passa telegrama pras mulheres dos delgados, tá sempre em contato pedindo voto. Resultado: na convenção Mário Andreazza só conseguiu três votos o do governador Jorge Teixeira, Marize Castiel e o do João Wilson. Depois recebi uma correspondência do presidente Figueiredo dizendo que nunca tinha visto um homem leal e sério como eu.

Zk – Vamos começar a encerrar nossa conversa. O senhor disse e é verdade, que ajudou a criar quase todos os municípios de Rondônia. Em virtude disso conseguiu muita terra?

Dezival – Só tenho uma fazenda e assim mesmo é considerada pequena. A respeito da sua pergunta. Certa vez chego a Cacoal e o Catarino Cardoso me apresenta um mapa e diz: Comandante, o senhor pode escolher até cinco lotes, eles chamavam Data, só vai pagar a taxa de expediente e nada mais e me mostrou uma área muito grande, não aceitei dizendo: Isso aqui não vai passar disso. Nesse terreno que ele queria me dar, hoje é a Fundação Bradesco e Cacoal é um dos municípios mais ricos do nosso Estado. Assim foi com o Coutinho em Vilhena, com Vicente Homem Sobrinho em Pimenta Bueno e em Ji-Paraná. Não tenho um palmo de terra a não ser esse terreno que consegui no tempo do Capitão Silvio do Incra, que é a fazenda Santa Maria de 450 hectares com umas 150 cabeças de gado.

Zk – Casado?
Dezival – Há 22 anos com a rondoniense nascida e criada aqui que é a Tânia.



Deixe o seu comentário