Porto Velho/RO, 19 Março 2024 22:55:17
Diário da Amazônia

O silêncio contra o abuso e a exploração sexual precisa ser quebrado

Mudanças de comportamento são indícios de que alguma coisa está errada e precisa ser investigada.

A- A+

Publicado: 07/09/2019 às 07h35min | Atualizado 07/09/2019 às 14h06min

Os números assustam porque em torno de 300 milhões de crianças no mundo vivem em situação de violência e 15 milhões de adolescentes com idade entre 15 e 19 anos já foram vítimas de abuso, conforme dados do relatório “Uma situação habitual: Violência na vida de crianças e adolescentes”, elaborado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) em 2017. Esses números fizeram com que a questão da violência contra a criança, incluindo a sexual, constasse da nova Agenda Global de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 2030, elaborado pela ONU. Os indicadores sobre a violência sexual mostram que (lamentavelmente) as crianças estão no epicentro dessa tormenta.

O estudo “Violência contra crianças e adolescentes: Percepções públicas no Brasil”, da ONG cristã Visão Mundial, em parceria com a empresa de pesquisa Ipsos, apontou o Brasil como o país mais violento contra crianças e adolescentes, em comparação com outras 13 nações da América Latina. Abuso físico e psicológico e violência sexual fazem parte de uma lista trágica que corrompe a infância nessa região do mundo. Uma situação caótica que remonta a uma reflexão sobre o comportamento humano, numa realidade cruel que demonstra a índole animalesca de algumas pessoas, que perderam a sua condição humana, em termos de caráter. São pessoas completamente perdidas.

É com o objetivo de alertar sobre essa situação protagonizada por seres humanos medíocres que, anualmente, a Igreja Adventista do Sétimo Dia realiza o Quebrando o Silêncio, um projeto educativo e de prevenção contra o abuso e a violência doméstica que abrange oito países da América do Sul, (Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Equador, Paraguai, Peru e Uruguai) desde o ano de 2002. A campanha se desenvolve durante todo o ano, mas uma das suas principais ações ocorre sempre no quarto sábado do mês de agosto. Este é o “Dia de ênfase contra o abuso e a violência”, quando são realizadas passeatas, fóruns, escola de pais, eventos de educação contra a violência e manifestações na América do Sul.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, a violência responde por aproximadamente 7% de todas as mortes de mulheres entre 15 e 44 anos no mundo. Em alguns países, até 69% das mulheres relatam terem sido agredidas fisicamente e até 47% declaram que sua primeira relação sexual foi forçada. Por isso, o projeto tem como objetivo prevenir e combater a violência contra crianças, mulheres e idosos, além de orientar as vítimas na busca de ajuda dos órgãos competentes. A violência doméstica é nutrida pela ignorância. Assim, para combater esse mal é preciso trazê-lo a público, examiná-lo e dar a solução necessária. Os cidadãos em geral devem se tornar parte dessa solução e o primeiro passo é a prevenção, procurando alcançar todas as faixas etárias.

No artigo anterior enfatizamos a questão da depressão como um dos fatores que têm levado ao suicídio, mas é importante alertar que a violência sexual também se constitui num agravante para essa situação. Casos de estupros e de aliciamento sexual em crianças e adolescentes afrontam a condição humana e seus autores deixam de ser considerados como tal, descendo a um nível pior que dos animais selvagens. O projeto da Igreja Adventista do Sétimo Dia evidencia a necessidade de quebrar o silêncio, ou seja, que esse tipo de violência precisa e deve ser denunciado. É justamente no silêncio que os riscos de suicídios estão concentrados porque, para as vítimas, o medo de represálias as impede de denunciar.

Mudanças de comportamento são indícios de que alguma coisa está errada e precisam ser investigadas. Dizer que os pais devem estar atentas quanto a essas mudanças de comportamento de seus filhos é um tanto complicado, tendo em vista que existem casos de violência sexual contra crianças e adolescentes onde os autores são os próprios pais, que teriam a responsabilidade de dar-lhes proteção. Mas o silêncio precisa ser quebrado para que os abusadores sejam denunciados e presos. É preciso dar um basta nessa situação para que crianças e adolescentes possam viver com tranquilidade. E aí, vamos quebrar esse silêncio sepulcro?



Deixe o seu comentário