Porto Velho/RO, 21 Março 2024 20:39:52
Diário da Amazônia

Os 100 dias de Bolsonaro: polêmicas e o desafio com a Previdência

Analistas ouvidos pelo R7 dizem que presidente perdeu tempo com questões menores, mas tem capital político para fazer bom governo

Por r7
A- A+

Publicado: 10/04/2019 às 09h35min | Atualizado 10/04/2019 às 09h40min

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) completa, nesta quarta-feira (10), 100 dias de governo com capital político para aprovar as reformas e colocar em prática medidas para o crescimento da economia, mesmo com o envovimento em polêmicas e trapalhadas na administração.

A opinião é de especialistas nas áreas de comunicação, política e economia, ouvidos pelo R7, que também afirmam a necessidade de uma série de avaliações para a correção de rumo.

Bolsonaro vai reunir ministros para divulgar ações dos 100 dias de governo

Para analistas, o presidente desperdiçou a chamada fase de lua de mel com a sociedade ao agir nas redes sociais como se ainda estivesse em campanha, se envolver em questões ideológicas consideradas sem importância para a maioria da população e permitir a ingerência dos filhos no governo.

Doutor em Comunicação e Semiótica, o professor da Universidade Mackenzie Celso Figueiredo Neto diz que Jair Bolsonaro teve um sucesso espetacular nas eleições, ao seguir por fora do sistema tradicional de comunicação do ponto de vista da propaganda e do relacionamento com a imprensa, que agora, como presidente, a estratégia precisa ser outra.

— Talvez o presidente tenha entendido que as rede sociais seriam suficientes para gerir a comunicação federal e falar diretamente com o público, mas isso é a essência do erro. Bolsonaro tem cerca de 4 milhões de seguidores no Twitter, o que não representa nem 5% da população. Ele está trabalhando com uma amostra enviesada. Os 4 milhões de seguidores são fãs, apoiadores, mas não são a realidade do país.

Celso Figueiredo Neto também avalia que Jair Bolsonaro precisa rever a relação com a mídia tradicional, como o rádio, jornais e TV, para que a comunicação do governo, inclusive a necessidade de aprovação das reformas, alcance toda a população.

Relação com o Congresso é desafio para Bolsonaro

Relação com Congresso e militares

O cientista político da UnB (Universidade de Brasília) David Fleischer considera que, entre as trapalhadas na nomeação de alguns ministros, o grande acerto do presidente Jair Bolsonaro neste início do governo foi a escolha dos ministros militares.

— É paradoxal falar isso, mas o que é positivo são os generais. São todos preparados, inteligentes e moderados, com bom senso. O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, estava pronto para dizer em uma reunião em Bogotá, na Colômbia, que o Brasil apoiaria ação militar na Venezuela. O vice-presidente, general Hamilton Mourão, impediu o desastre ao descartar essa possibilidade. O professor diz que Paulo Guedes (Economia) e Sérgio Moro (Justiça) são os ministros que mais se destacaram até agora.

David Fleischer considera que o presidente não foi bem nas viagens internacionais pelas declarações dadas nos Estados Unidos, Chile e Israel.

Para o pesquisador, Bolsonaro marcou bem a semana dos 100 dias de governo com a demissão do ministro Ricardo Velez (Educação). Ele diz que o presidente não pode dar passo em falso com a equipe ministerial e acredita que em breve o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, investigado por envolvimento num esquema de laranjas durante a campanha eleitoral, deixará o governo.

Com a experiência de quem acompanha a política no Brasil desde a década de 1970, David Fleischer afirma que a reforma da Previdência é a chave para o sucesso do governo de Jair Bolsonaro.

— O Brasil receberá uma enxurrada de investimentos depois que a reforma da Previdência for aprovada. O presidente Jair Bolsonaro já concluiu que o diálogo com o Congresso é imprescindível, ele precisa mostrar liderança. O governo ainda não tem coalização no Congresso e vai precisar de pelo menos 10 partidos para aprovar a reforma da Previdência.

Quem também destaca a necessidade de articulação com o Congresso é o cientista político da PUC do Rio de Janeiro Ricardo Ismael. Ele diz que a reforma da Previdência e o pacote anticrime são propostas fundamentais para o país, mas cabe agora ao governo se movimentar em busca de uma base de apoio.

— Para aprovar a reforma da Previdência o governo vai precisar de 3/5 do Congresso, na Câmara são 308 votos dos 513 deputados. É preciso encontrar uma maneira de conversar com os partidos, fazer política sem o toma lá dá cá, forma que inclusive foi condenada pela população.

Ricardo Ismael também diz que, após o caso de Ricardo Vélez, o presidente não pode mais cometer erros na escolha dos ministros.

— Bolsonaro tem o direito de escolher pessoas de sua confiança e que reflitam seu pensamento, mas é preciso que sejam pessoas capazes. A permanência do ministro o Turismo também pode colocar em risco o discurso de campanha do presidente de combate à corrupção eleitoral.

Paulo Guedes: planos ambiciosos para a economia

Crescimento econômico

Além da relação com o Congresso, importante para a aprovação de medidas que o governo considera fundamentais para a economia, o governo do presidente Jair Bolsonaro é pressionado pelos altos índices de desemprego, a falta de renda da população, o baixo desempenho do comércio e a falta de atividade em vários setores da indústria.

Exaltado pelo presidente Jair Bolsonaro desde a campanha eleitoral, o ministro da Economia, Paulo Guedes, ganhou o apelido de “Posto Ipiranga” por ter as soluções para a retomada do crescimento econômico.

Economista pela Universidade de Chicago, referência no pensamento liberal e com uma carreira de sucesso na iniciativa privada, Guedes afirma ter a fórmula ideal para o Brasil ter pela frente 10 anos de crescimento, mas há entraves.

No plano de Guedes, a reforma da Previdência ideal será a que possibilite uma economia de R$ 1 trilhão nos próximos anos. Também será preciso acelerar as privatizações, dar (em lei) independência ao Banco Central, zerar o déficit fiscal e reduzir impostos. Com tudo isso, garante o “Posto Ipiranga”, o Brasil volta a crescer. O problema é que essas medidas levam tempo, não são na base da “canetada”.

Relação com o Congresso será fundamental para Previdência passar

Por isso, o diretor da Faculdade de Economia da PUC de São Paulo, Antonio Correa de Lacerda, diz que o governo precisa colocar em prática um plano imediato para tirar o país da estagnação.

— Paulo Guedes tem uma visão liberal de que tudo se resolverá via mercado, mas a gente sabe que se não houver medidas do governo para fazer frente a isso a economia não reagirá. Até agora é samba de uma nota só que é a reforma da Previdência.

Antonio Correa de Lacerda, que tem uma visão diferente de Guedes sobre economia, dá sua sugestão.

— O governo tem que apresentar um plano de política industrial integrada às questões ligadas à produção e ao emprego. É preciso investimento público, melhorar as condições de financiamento, as taxas de juros para o tomador final são enormes, só assim vamos destravar a economia.

Nesta quinta-feira (11), o presidente Jair Bolsonaro vai reunir a equipe ministerial para fazer um balanço dos 100 dias de governo. Cada um vai falar da sua área. No total, são 35 objetivos estabelecidos pelo presidente quando assumiu o cargo. A expectativa é de que seja anunciado o 13º salário para os beneficiários do Bolsa Família.

No domingo passado, o presidente disse que nos 100 dias não “há tanta notícia ruim” quando a imprensa tem publicado. Ele não será avaliado por metas cumpridas ou não nos primeiros meses de governo, tem ainda quase quatro anos pela frente.

O que Bolsonaro precisa é de capacidade de diálogo com o Congresso, saber trabalhar as ações de governo e deixar de lado questões que passam longe da necessidade de um país que precisa reduzir a desigualdade e retomar o crescimento econômico.



Deixe o seu comentário