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PLANTÃO DE POLÍCIA

Pistoleiros atacam acampados e matam líder na Ponta do Abunã

Desde o último dia 30 de março, informações sobre um massacre na região de Ponta do Abunã começaram a circular nas redes sociais e..

Por Pastoral da Terra
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Publicado: 20/04/2019 às 12h24min | Atualizado 20/04/2019 às 16h17min

Líder do Seringal São Domingos é velado pela família

Desde o último dia 30 de março, informações sobre um massacre na região de Ponta do Abunã começaram a circular nas redes sociais e aplicativos de troca de mensagens. de acordo com a Pastoral da Terra, pelo menos quatro pessoas foram assassinadas, o que também é denunciado por algumas famílias de posseiros. Moradores da área também relatam o desaparecimento de várias pessoas. Todavia, até o momento, há confirmada, pela equipe da Comissão Pastoral da Terra no Acre (CPT-AC), a morte de uma liderança do Seringal São Domingos.

O crime ocorreu no Seringal São Domingos, no município de Lábrea, no Amazonas. A área, de difícil acesso, fica próxima à tríplice fronteira dos estados do Acre, Amazonas e Rondônia, e está situada na região conhecida como Ponta do Abunã. O corpo de uma das lideranças da comunidade, Nemis Machado de Oliveira, de 50 anos, foi resgatado da área pela própria família. Ele foi velado e enterrado no dia 1º de abril, no município de Acrelândia (AC), distante cerca de 140 quilômetros do Seringal.

 

O acampamento

Desde o ano de 2016, 140 famílias ocupam o território conhecido como Seringal São Domingos, que, segundo os moradores, pertence à União. A maioria dos ocupantes da área são originários de Acrelândia. A região possui um longo histórico de conflitos agrários que envolve fazendeiros, grileiros e madeireiros.

No sábado, pistoleiros armados invadiram o Seringal, atiraram contra as pessoas, queimaram casas, inclusive a de Nemis. O trabalhador teve parte do corpo queimado. A casa de um vizinho dele também foi incendiada.

Por conta das ameaças de morte recentes e do longo histórico de conflitos que assola a localidade, as famílias, segundo equipe da CPT no Acre, temem denunciar esse crime, inclusive a existência de mais pessoas mortas. O medo tem silenciado diversas outras situações conflituosas na região ou nessa mesma comunidade, como ataques anteriores de jagunços.

Entretanto, no caso do último sábado, os posseiros denunciam a ausência do Estado no local do crime, o que aumenta, assim, a insegurança de quem permanece no Seringal São Domingos após o ataque dos pistoleiros. Há também vários relatos de pessoas desaparecidas que se abrigaram em matas para fugirem dos pistoleiros.

Com objetivo de expulsar as famílias da área ocupada, pistoleiros teriam, inclusive, fotografado os posseiros e os ameaçado: “se vocês não saírem daqui nós vamos voltar”, afirmaram algumas pessoas. “O homem está morto lá dentro, olha. Nós não reagiu (sic), e os cara botaram a arma em cima de nós. Deus estava do nosso lado, mas as armas eram grandes e feias, tá. Nós saímos voados de lá. Eu estou em casa com vida, e agora vou agradecer a Deus pela sorte que me deu”, relatou um posseiro, que não se identificou, logo após o crime.

 

Massacres

Se forem confirmadas as quatro mortes no Seringal São Domingos, este será o 50° massacre no campo brasileiro registrado pela CPT, e o terceiro massacre em apenas 10 dias. Neste ano, no dia 22 de março, três assentados foram assassinados no Assentamento Salvador Allende, no município de Baião, no Pará. Dois dias depois, a cerca de 14 quilômetros do assentamento, um casal de caseiros e um tratorista foram mortos numa fazenda. Todos as seis mortes teriam ocorrido a mando do grileiro Fernando Ferreira Rosa Filho, conhecido como Fernandinho.

Entre os anos de 1985 e 2019, a CPT registrou 49 massacres no campo com 230 vítimas.

 

Região conflituosa

A Ponta do Abunã é uma região circundada por grandes empreendimentos, como a Usina Hidrelétrica de Jirau, e por inúmeras riquezas naturais, tais como a Floresta Nacional do Iquiri, a Reserva Extrativista Ituxí, o Parque Nacional Mapinguari, a Floresta Nacional do Bom Futuro, o Parque Estadual de Guajará-Mirim, além de contar com as águas do Rio Madeira e também está próxima à fronteira com a Bolívia.



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