Em meio à crise com o ex-ministro Gustavo Bebianno, o presidente Jair Bolsonaro decretou: troca de mensagens e áudios por aplicativo não é conversa. “Usar do WhatsApp para dizer que falou três vezes comigo, aí é demais da tua parte”, fundamentou o presidente, após o seu então auxiliar ter dito à imprensa que conversou três vezes com Bolsonaro. Na hora, a pergunta caiu na boca do povão: mensagens enviadas no WhatsApp não são consideradas uma conversa? Nas ruas, a resposta foi unânime.
— É claro que é conversa. Essa teoria não faz sentido. Hoje todo mundo só fala por WhatsApp— opina o técnico em mecânica Maxwell Nascimento, de 42 anos.
A consultora de vendas Alexandra Nogueira, de 42, costuma até fechar contratos de trabalho por mensagens:
— Que mundinho é esse em que o presidente vive? O WhatsApp é vida! Se eu te mostrar o celular, você verá a quantidade de pedidos — brinca Alexandra, destacando outro uso do aplicativo: — Quando vou discutir a relação e meu marido não me escuta, brigo com ele pelo Zap.
Alexandra Nogueira costuma até fechar contratos de trabalho por mensagens Alexandra Nogueira costuma até fechar contratos de trabalho por mensagens Foto: Guilherme Pinto / Agência O Globo
A autônoma Caroline Farias, de 27 anos, aproveitou o embalo para dar “dicas valiosas” a Bolsonaro:
— WhatsApp é conversa, sim, mas o presidente deve aprender comigo, que vou lá e apago todos os nudes e fotos enviadas logo depois que as pessoas visualizam. Assim não tem como usarem isso contra mim, e não preciso ficar inventando teorias.
A chegada das redes sociais mudou o modelo de comunicação, inclusive institucional, resume o cientista político e professor da ESPM e da Uerj Fábio Vasconcellos:
— Pelo fato de o WhatsApp ser tão dinâmico, parece que a gestão pública adotou a ferramenta para a tomada de decisões. Cria-se, assim, um flanco muito aberto para possíveis novas crises envolvendo o aplicativo.
Para o jornaleiro André Breves, de 39 anos, a questão é maior do que apenas discutir a validade do uso do aplicativo para bater papo.
— O presidente é político, né? Qualquer político quer defender o seu. E para muitos deles, falta algo muito mais importante do que o registro de uma mensagem no WhatsApp: o cumprimento da palavra e a verdade — ensina André.
Vale como prova jurídica
O vendedor Felipe Portela, de 28, se considera uma prova viva de que a teoria de Bolsonaro é furada. Uma troca de mensagens no WhatsApp já rendeu até processo a ele:
— Minha ex-mulher está me processando porque a xinguei pelo aplicativo. Ela foi lá, printou a conversa e está usando como prova — diz Felipe, que foi casado por dez meses.
O caso de Felipe é mais comum do que se imagina. O advogado e especialista em Relações Internacionais Cássio Faeddo atesta: diálogos no WhatsApp, em áudio ou texto, têm validade jurídica e podem ser utilizados como prova. Segundo ele, a orientação é procurar um tabelião e registrar uma ata para constatar todos os fatos.
— Para usar as conversas de WhatApp ou de outra ferramenta digital como provas, deve-se procurar um tabelião e pedir uma ata notarial, para que as informações contidas no aplicativo sejam transcritas fielmente antes de serem levadas ao juiz.
Faeddo destaca que o caso entre Bolsonaro e Bebianno, que tiveram as mensagens de áudio divulgadas na imprensa, não deixa dúvidas de que houve um diálogo:
— Se for do interesse do ex-ministro, ele pode lavrar essa ata e dar prosseguimento a partir dela, com um processo no campo criminal ou por ter se sentido ofendido.