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Diário da Amazônia

Por que as mudanças sempre encontram grande resistência?

Especialistas em comportamento humano argumentam que hábitos e temores normalmente travam as mudanças

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Publicado: 09/02/2020 às 09h46min | Atualizado 10/02/2020 às 11h40min

Você conhece alguém que repete sempre os mesmos padrões de pensamento ou de conduta? Provavelmente sim e, talvez até você mesmo seja uma pessoa assim. Mas, por que isso acontece? Para a neuropsicologia, especialidade que une as áreas da psicologia e da neurologia que estuda cérebro e fatores como comportamento e pensamento, a resistência às mudanças está relacionada a duas habilidades cognitivas: memória implícita e funções executivas. “Um hábito é um tipo de memória muito consolidada sobre a qual nós temos menos consciência sobre, ou seja, executamos algo a partir de nosso ‘piloto automático'”, explica Rochele Paz Fonseca, psicóloga, especialista em neuropsicologia. Segundo ela, quando agimos mecanicamente, não ocorrem as funções executivas (memória para duas ou mais tarefas ao mesmo tempo memória de trabalho, controle inibitório e flexibilidade cognitiva).

Wimer Bottura, psiquiatra e professor de Psicologia Médica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, a resistência às mudanças vem de crenças criadas ainda na infância. Segundo ele, essas crenças têm a função de proteger do sofrimento, de alguma dor. Para o médico, essas racionalizações que as pessoas criam, são autoenganos e qualquer outra pessoa não acreditaria. “O que faz mudar de verdade é o sofrimento, a emoção sobre o sofrimento e a noção da consequência, de que determinado comportamento é destrutivo. Como esse indivíduo encontra mecanismos de autoconvencimento, ele não muda porque não enxerga a necessidade de mudar, não teve a noção da consequência do comportamento, e encontrou um bom mecanismo para convencer a si mesmo”, menciona.

Mudar faz parte da vida. Conforme vamos envelhecendo, adquirindo novas experiências e vivências, nossa mente expande e a mudança é natural. O psiquiatra Wimer Bottura diz que indivíduos com o emocional e o intelecto desenvolvidos ou com mais maturidade possuem vários olhares e enfoques para uma mesma situação. É comum quando repetimos padrões, encontrarmos desculpas ou justificativas para continuarmos esse padrão, por exemplo, culpar os outros pelos próprios erros ou justificar-se baseado em suas crenças que, muitas vezes, não fazem o menor sentido. Quando você não procura uma justificativa ou questiona as que você sempre acredita, permite ver outros lados da situação e mudar o padrão.

Como estar receptivo a mudanças? Encarar as emoções é uma recomendação. Isto porque geralmente na infância criamos crenças ou adquirimos as crenças dos adultos para nos defender do sofrimento e, com isso, bloqueamos emoções que nos permitem o aprendizado e desenvolvimento intelectual. Sentir as emoções nos permitem rever ideias, atitudes e facilita a mudança de padrões e a aceitação de ideias dos outros. Outra orientação é mudar a perspectiva e não se fechar à ideia do outro, buscando olhar do mesmo ângulo e ponto de vista da pessoa que está transmitindo a ideia. Pode ser que este outro olhar mostre argumentos que você não tinha pensado antes.

Outra forma de fazer isso é quebrando a rotina: quando nos permitimos pequenas mudanças no nosso dia a dia, acabamos mudando um pensamento, de que a rotina tem de ser fixa. Isso acaba interferindo em outros pensamentos e ideias, nos deixando mais flexíveis. Uma dica da neuropsicóloga é que desde criança os pais estabeleçam uma organização com rotina aos filhos, pois é importante para terem modelo e referência de fora para dentro, mas também com flexibilizem, mudando às vezes, um pouco da rotina com novidades, abrindo pequenas exceções a algumas regras.

Comportamentos e atitudes repetitivas são hábitos que criamos e sempre precedem de um gatilho. É como a pessoa que bebe sempre um café antes de acender um cigarro, sair para a rua depois do almoço para dar uma volta e comprar um doce, ou ainda, tomar uma taça de vinho depois de chegar do trabalho, tirar os sapatos e se sentar no sofá. Identificar os gatilhos de ações ou padrões de pensamentos que agimos é fator imprescindível para mudar algo que não agrada: você pode ir gradativamente mudar ideias, pensamentos ou os hábitos antigos, aos poucos e cada vez mais seguidamente: por exemplo, ir reduzindo uso de celular antes de dormir aos poucos até não usar mais.

Fonte: Diego Garcia/UOL

 



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