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SAÚDE

Primeira vítima do RJ era doméstica e pegou coronavírus da patroa

A idade avançada e os problemas de saúde de uma empregada doméstica de 63 anos não a impediam de percorrer semanalmente 120 km de sua..

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Publicado: 20/03/2020 às 11h47min

A idade avançada e os problemas de saúde de uma empregada doméstica de 63 anos não a impediam de percorrer semanalmente 120 km de sua casa humilde em Miguel Pereira, no sul fluminense, até o apartamento onde trabalhava no Alto Leblon, bairro da zona sul do Rio que tem o metro quadrado mais valorizado do país.

Ali ela trabalhou como empregada doméstica por mais de dez anos até a última segunda-feira (16), quando apresentou os primeiros sintomas do coronavírus e morreu no dia seguinte. A patroa voltara de viagem recentemente da Itália, país que já registra o maior número de mortes pela doença, e aguardava o resultado do exame quando a empregada chegou ao trabalho no domingo (15).

A família da primeira vítima fatal do coronavírus no Rio pediu que seu nome não fosse divulgado para evitar retaliações contra parentes que moravam com ela e estão em quarentena. Ela ficaria até hoje no apartamento do Alto Leblon, como fazia toda semana. Em razão da distância entre sua casa e o trabalho, morava no emprego uma parte da semana. Mas, já na segunda, começou a passar mal.

A patroa telefonou para familiares pedindo que alguém fosse buscá-la. Um taxista a levou de volta a Miguel Pereira e ela foi internada no mesmo dia. A falta de ar evoluiu rapidamente, mas a entubação não foi suficiente e ela morreu na terça (17).

Pouco antes da morte, do outro lado do estado vinha a confirmação: o teste da patroa deu positivo para o coronavírus. A família crê que o isolamento da empregadora poderia ter evitado a morte. A reportagem do UOL não localizou a patroa da vítima e não obteve informações sobre seu estado de saúde.

“Estamos muito atordoados, mas precisamos conscientizar as pessoas da gravidade [da doença]. Quem voltou de viagem da Europa e apresentou os sintomas não deve ter contato com outras pessoas. O isolamento podia ter evitado essa morte”, diz a cunhada da idosa, a dona de casa Ana Maria Gonçalves.

“Foi muito rápido. Como ela passou em casa antes de dar entrada no hospital, todos que moravam na mesma casa que ela estão de quarentena. E hoje à tarde fizeram o teste para o coronavírus”, acrescentou.

Na mesma casa onde a vítima morava, vivem outras sete pessoas. Todos estão isolados. E assustados.

“Ela era muito trabalhadora. Pegava três conduções para chegar ao trabalho. Para voltar, era a mesma coisa: dois ônibus e um trem. Ela saía de casa no domingo e só voltava na quinta”, contou a cunhada.

Mais velha de nove irmãos, ela trabalhava como doméstica desde jovem, inicialmente com a missão de sustentar seu irmão mais novo após a morte dos pais. Depois, a responsabilidade aumentou com um filho e dois sobrinhos.

“Ela não era aposentada, porque ainda não tinha tempo de contribuição para isso. Então, mesmo com obesidade, diabetes, hipertensão e infecção urinária, ela continuou trabalhando. Ela precisava do dinheiro”, destacou, emocionado João Gonçalves, 62, irmão da vítima.

FONTE: Uol



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