Porto Velho/RO, 22 Março 2024 22:50:13
RONDÔNIA

Profissionais da saúde protestam por melhores condições de trabalho e denunciam descaso

Eles estão na primeira linha de frente contra a guerra à pandemia do COVID -19. São enfermeiros(as), médicos(as), técnicos de..

Por Redação Diário da Amazônia
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Publicado: 11/05/2020 às 11h56min | Atualizado 11/05/2020 às 12h00min

Eles estão na primeira linha de frente contra a guerra à pandemia do COVID -19. São enfermeiros(as), médicos(as), técnicos de enfermagem, demais funcionários dessas instituições, que se apresentam como possíveis vítimas de contaminação pelo coronavírus. Hoje na manhã desta segunda-feira (11), trabalhadoras e trabalhadores da saúde denunciam a falta de Equipamentos de Proteção Individuais (EPI) e o descaso do governo de Rondônia com a saúde, que começou antes da pandemia do novo coronavírus.

Para representar as mortes de servidores causadas pela doença cruzes foram colocadas na nos canteiros e dezenas de cartazes denunciaram a omissão do governo com a categoria.

Uma carta aberta foi lida no movimento, e destacou que os servidores estão sendo durante acusados de serem os protagonistas da crise, “o que não é verdade, lembrando que 38,5% dos infectados são servidores. Os números são aterrorizantes. Lutamos desarmados, agindo como se amadores fossemos”.

As denúncias dos profissionais de saúde contra o governo de Rondonia acontece desde o inicio da pandemia no estado. De acordo com os manifestantes, no início da crise, os servidores pediam máscaras N-95, mas era oferecido apenas as cirúrgicas, “que seriam suficientes”, assim como testes, com a alegação de que não haveria para todos. Eles ainda garantem que não participaram das chamadas Coronafests e os servidores infectados contraíram Coronavírus em seus locais de trabalho. “Faltou zelo com o profissional da saúde. Adoecemos aos montes usando EPIs, que segundo eles, seriam suficientes para nos proteger”.

Pronto Socorro João Paulo II

O Movimento Classista em Defesa da Saúde do Povo (MOCLASPO), do Estado de Rondônia afirma que a situação dos profissionais está complicada,  e acusa a “direção médica do Hospital e Pronto Socorro João Paulo II de transformarem o hospital no “covidário” de Rondônia”.

Com 495 servidores da saúde infectados em Rondonia de acordo com o painel covid19 Rondonia, o movimento, diz que é possível que o João Paulo II tenha se tornado o principal local de transmissão e de disseminação da doença causada pelo vírus do COVID-19 em Porto Velho.

Segundo o movimento, mesmo quando o primeiro enfermeiro confirmado com o Covid-19, apresentou sintomas da doença, a direção médica do HPSJPII (Hospital e Pronto Socorro João  Paulo II), não garantiu que os trabalhadores fossem avaliados periodicamente em relação à saúde ocupacional, além do desenvolvimento de planos de comunicação de emergência, incluindo espaços e canais de comunicação para responder às preocupações dos trabalhadores.

“Mais importante ainda, a direção médica do hospital deveria adotar ferramentas de monitoramento da ocorrência de transmissão interna do COVID-19 em pacientes e trabalhadores, adotando medidas apropriadas para controle e mitigação da transmissão”.

Por isso, os trabalhadores dos serviços de saúde que apresentam Síndrome Gripal ou Síndrome Respiratória Aguda Grave ou com contatos próximos nestas condições deverão ser afastados imediatamente do trabalho.

É sabido que, dado as experiências da pandemia na China, Itália e mais recentemente nos Estados Unidos, que além de se constituírem como uma população extremante susceptível ao contágio e a doença, os trabalhadores dos serviços de saúde são essenciais no enfrentamento da COVID-19 no Brasil. Na Itália, mais de 12 mil profissionais da saúde contraíram o vírus e mais de 100 foram a óbito.

Diante da altíssima taxa de contágio, em especial nos profissionais de saúde, esperava-se uma postura de pró-atividade da direção médica do JPII e do Governo de Rondonia, em especial vigilância e monitoramento de todos os pacientes e profissionais que tiveram contato os iinfectados, para que se eventualmente desenvolvem-se sintomas, pudessem ser isolados e submetidos a testes para detecção viral. Mas nada disso aconteceu. Negligência, omissão e descaso com o servidor da saúde. Essa foi a tônica adotada pela Direção Médica do JPII.

Segundo os trabalhadores, a indiferença a vida caminha a passos largos e o Hospital torna-se o principal local de disseminação do vírus em Rondônia. Vale lembrar que no fim do mês de março o ex-Coordenador Médico da Urgência e Emergência do Pronto Socorro João Paulo II, o médico Vinícius Ortigosa Nogueira foi transferido, a mudança segundo o profissional teria ocorrido em retaliação as críticas feitas ao governo na condução das medidas tomadas na Saúde do Estado durante a pandemia.

Atentos ao sofrimento e ao suplício que os profissionais de saúde têm sofrido, os profissionais de enfermagem do hospital buscaram na direção médica do JPII um refúgio para um evidente problema: o contágio progressivo e o adoecimento constante dos seus pares. Mas segundo os profissionais, não foram atendidos.

Conversas Internas

A redação teve acesso a conversas internas de grupo de WhatsApp de profissionais da saúde do JPII, que apontam para a gravidade dos fatos e materializam o descaso com o qual os servidores daquele hospital têm sofrido.

No dia 16.04.2020, a Gerente de Enfermagem do Enfermagem do JPII, Cristiane Chiarelli, externa suas preocupações com a saúde física e mental dos servidores do hospital, uma vez que inúmeros servidores começaram a apresentar sintomas e necessitavam de atendimento prioritário.

Em mensagem enviada a um grupo privativo de WhatsApp denominado Comitê de Crise COVID-19, solicita encarecidamente o apoio da Direção Médica (Dr. Amaury – Diretor Geral; Dr. Diego Almeida – Diretor Técnico; Dr. Nelson – Gerente Médico) para atendimento dos servidores do HEPSJPII.

A resposta do Diretor Técnico, Dr. Diego Almeida, médico cirurgião, foi enfática na recusa: “Não podemos fazer atendimento no JP”.

Com isso, criou-se um cenário de abandono e desresponsabilização frente a frágil situação dos trabalhadores de saúde do HPSJPII. Enfim, os servidores estavam jogados a sua própria sorte.

Da omissão a responsabilização: deflagra-se o contágio do vírus e os servidores tombam no front de batalha

Diante da gravidade dos fatos, inúmeros outros servidores buscaram, em vão, solucionar o descaso e o abandono ao qual os servidores do JPII.

Tivemos acesso a um áudio, supostamente enviado pela Coordenadora da Unidade de Terapia Intensiva do JPII, Dra. Thattiane Borba, que manifestara contrariedade e objeção frente as atitudes irresponsáveis  e omissas adotadas pela Direção Médica do hospital.

Em áudio enviado ao Diretor Técnico do Hospital (Dr. Diego Almeida), a médica intensivista adverte:

“Esse número de servidores infectados dentro do João Paulo, irá nos trazer inúmeras consequências. A gente vai chegar em uma situação de disseminação do vírus dentro do hospital que pode acarretar o fechamento do Pronto Socorro”. E continua em tom de severidade:

“E se esse vírus acabar contaminando a UTI, a gente vai ter muitos óbitos lá dentro (dentro da UTI) e os servidores dali de dentro também vão ficar doentes”. Cobra ainda, providências emergenciais, com a velocidade que a pandemia exige:

“Então eu acho que Amaury, você e o Nelson que estão a frente da Direção, precisam discutir seriamente com Fernando o que vai ser feito daqui para frente”.

Suas palavras foram proféticas frente ao perigo que a situação atual, de disseminação do vírus dentro de uma unidade hospitalar do Estado. Mas infelizmente, a Direção Médica do JPII fez “ouvido de mercador” para o alerta da médica. Suas recomendações foram como “palavras ao vento”.

E mais cedo do que se esperava, a história cobrou seu preço.

Mais de 49o trabalhadores, incluindo médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem foram afastados das suas atividades laborais, reduzindo ainda mais o número de profissionais capacitados e aptos para cuidar da nossa população durante luta contra a pandemia pelo COVID-19.



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