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Diário da Amazônia

Protestos em Hong Kong contra lei de extradição deixam feridos

Polícia lançou bombas de gás lacrimogêneo para afastar manifestantes de prédios do governo nesta quarta (12).

Por G1
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Publicado: 12/06/2019 às 08h37min

Milhares de manifestantes bloquearam nesta quarta-feira (12) as duas principais avenidas do centro de Hong Kong, em mais um protesto contra a lei que autoriza que pessoas sejam extraditadas para a China continental para serem julgadas.

A polícia lançou bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha para dispersar os manifestantes. Segundo a imprensa local, até o final da tarde, 22 pessoas feridas tinham sido levadas aos hospitais da cidade.

Os opositores ao texto, que incluem juízes de Hong Kong e advogados vindos da China continental que trabalham na cidade, alegam que não é possível acreditar que o sistema judicial de Pequim atenda a critérios básicos de justiça.

Policiais e manifestantes entraram em confronto nesta quarta-feira (12) em Hong Kong. (Foto: Anthony Wallace/AFP)

Donos de mais de 100 empresas se mobilizaram nas redes sociais, sob a hashtag que pode ser traduzida como “#greve1206”, para anunciar que suas lojas fechariam portas nesta quarta-feira (12) para permitir que seus funcionários fossem aos protestos — iniciativa que não é comum em Hong Kong.

Além disso, mais de 1,6 mil funcionários de companhias aéreas pediram, em um abaixo-assinado, a seu sindicato que entre em greve. Um sindicato de motoristas de ônibus convidou seus membros a dirigirem lentamente nesta quarta, para mostrar apoio aos manifestantes.

Professores, enfermeiros e assistentes sociais também expressaram disposição em interromper o trabalho.

Apesar dos protestos, a votação do projeto no Parlamento, que deveria ocorrer nesta quarta (12), pode acontecer no dia 20 de junho, anunciou Andrew Leung, presidente do Legislativo, segundo o jornal americano “The New York Times”.

O que diz a lei?

Manifestantes enfrentam o gás lacrimogêneo lançado por policiais em Hong Kong (Foto: Tyrone Siu/Reuters)

O texto, que começou a ser discutido em fevereiro, traria mudanças que tornariam mais simples as extradições de suspeitos de crimes para a China, incluindo Taiwan e Macau. Segundo o governo de Hong Kong, a aprovação da medida fecharia uma “brecha” que tem permitido que a cidade se torne um refúgio para criminosos da China continental.

Segundo o projeto, o governo de Hong Kong só aprovaria pedidos de extradição depois de audiências judiciais, incluindo possíveis recursos. A norma, entretanto, retira do Conselho Legislativo da cidade a supervisão sobre os acordos de extradição.

Hoje, Hong Kong tem tratados de extradição com 20 países, diz a Reuters.

Manifestantes usam máscaras e óculos no centro de Hong Kong nesta quarta-feira (12).(Foto: Philip Fong/AFP Photo)

Além dos protestos internos, há, ainda, a pressão política e diplomática estrangeira sobre questões relacionadas aos direitos humanos. Representantes da União Europeia e o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, reuniram-se com a chefe executiva de Hong Kong, Carrie Lam, para protestar contra a lei.

Alguns políticos da oposição dizem que a questão agora representa um ponto de virada para o status de livre da cidade.

Por que o governo quer passar o projeto agora?

Policiais e manifestantes entraram em confronto nesta quarta-feira (12) em Hong Kong.(Foto: Anthony Wallace/AFP)

As autoridades da cidade justificaram a necessidade de mudanças rápidas com o assassinato, no ano passado, de uma mulher de Hong Kong que passava férias em Taiwan. A polícia afirma que o namorado dela confessou o crime depois de voltar à cidade; ele agora está preso por acusações de lavagem de dinheiro.

As autoridades de Taiwan, entretanto, se opuseram ao projeto de extradição — que, segundo elas, pode deixar cidadãos taiwaneses em Hong Kong expostos. O governo também prometeu se recusar a receber o suspeito de homicídio se o projeto de lei for aprovado.

Policiais e manifestantes entraram em confronto nesta quarta-feira (12) em Hong Kong. (Foto: Anthony Wallace/AFP)

Hong Kong mantém um sistema legal separado e independente — como parte das liberdades garantidas em 1997, quando a cidade deixou de ser comandando pelos britânicos e voltou ao controle da China. Esse sistema deve durar pelo menos até 2047.

A necessidade de um acordo de extradição com a China continental foi reconhecida por representantes do governo e especialistas antes dessa transferência de poder — quando o modelo de “um país, dois sistemas” começou a valer.

Policial dispara gás lacrimogêneo contra manifestantes em Hong Kong. (Foto: Athit Perawongmetha/Reuters)

Desde então, entretanto, pouco progresso foi feito com as autoridades chinesas do continente, onde o Partido Comunista ainda controla os tribunais. Além disso, Hong Kong tem sido palco de intensa agitação política na última década, devido à preocupação com a crescente interferência de Pequim em seus assuntos internos.

No final de 2014, o centro de Hong Kong foi bloqueado durante várias semanas pelo “Movimento dos Guarda-chuvas”, uma mobilização para exigir que a eleição do chefe do Executivo acontecesse por sufrágio universal. Pequim não deixou passar.

Quarto dia de protestos

Manifestantes ocupam ruas perto do Conselho Legislativo e sede do governo em Hong Kong nesta quarta-feira (12). (Foto: Philip Fong / AFP Photo)

As manifestações contra a lei começaram no domingo (9), quando a ex-colônia britânica foi palco do maior protesto ocorrido desde sua transferência para a China. De acordo com os organizadores, mais de um milhão de pessoas foram às ruas pedir ao governo de Hong Kong que desista do projeto de lei.

A escala do protesto não intimidou, porém, a chefe do Executivo local, Carrie Lam. Ela reiterou que o Conselho Legislativo (LegCo) — o “Parlamento” de Hong Kong — analisaria, como previsto, este texto em segunda e terceira leitura, e a segurança foi reforçada em torno do prédio.

 



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