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Diário da Amazônia

PT cria cargo para manter Haddad em evidência

Candidato derrotado à Presidência vai monitorar ações do governo e elaborar propostas para a oposição

Por Estadão conteúdo
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Publicado: 11/02/2019 às 10h06min

O PT criou um cargo para manter o candidato derrotado do partido à Presidência, Fernando Haddad, em evidência. O ex-prefeito de São Paulo será o coordenador dos Núcleos de Acompanhamento de Políticas Públicas (NAPPs), criados pelo partido para monitorar as ações do governo Jair Bolsonaro e, ao mesmo tempo, elaborar propostas para oferecer à oposição ao longo dos próximos quatro anos em várias áreas como economia, políticas sociais, saúde, educação e segurança.

O PT completa 39 anos de fundação hoje com a crescente percepção de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu líder máximo, está definitivamente fora das disputas eleitorais depois da segunda condenação por corrupção na Lava Jato, e da necessidade de criar uma alternativa a ele nas urnas.

Por isso, o partido se esforça para manter o protagonismo de Haddad, hoje o nome mais visível da legenda, como opção eleitoral. A coordenação dos recém-criados NAPPs foi a forma encontrada pela direção para dar protagonismo ao ex-prefeito, diante da dificuldade de criar palanques e capitalizar os 47 milhões de votos recebidos por ele na eleição presidencial de 2018.

O ex-prefeito de São Paulo e candidato derrotado do PT à Presidência, Fernando Haddad

Segundo dirigentes que participaram da reunião da Executiva Nacional do partido, neste final de semana, em São Paulo, a importância de Haddad hoje para o PT foi resumida em uma frase de Alberto Cantalice, um dos vice-presidentes da sigla, durante o encontro:

“Haddad é hoje a maior liderança do PT, solta”, disse Cantalice à direção do partido.

No ano passado, aliados de Haddad articularam seu nome para substituir Gleisi Hoffmann na presidência da sigla. A articulação foi barrada por Lula.

Para petistas, adversários estão explorando segunda condenação de Lula

Petistas avaliam também que os adversários do partido na esquerda já estão explorando a segunda condenação de Lula para ganhar protagonismo no campo da oposição. Para dirigentes do PT, a fala de Ciro Gomes na Bienal da UNE em Salvador, na semana passada, não foi apenas um arroubo do pedetista, mas um gesto calculado com o objetivo de reforçar a mensagem de que Lula é carta fora do baralho das urnas e transformar a frase “Lula tá preso, babaca” numa espécie de bordão anti-petista.

Durante a reunião da Executiva, vários dirigentes disseram que a segunda condenação do ex-presidente e outras ações do Judiciário, como a proibição de que ele fosse ao enterro de seu irmão, Vavá, seriam formas de excluir o petista do debate político. E que o PT está praticamente de mãos atadas.

Embora o PT tenha decidido dar prioridade à campanha “Lula Livre”, a avaliação corrente no partido é a de que o ex-presidente só será solto quando a direita deixar o poder.

Além disso, o partido enfrenta divergências internas que ameaçam sua unidade na oposição ao governo Bolsonaro. Uma delas é dentro da própria bancada. Petistas calculam que pelo menos 10 deputados do partido votaram a favor de Rodrigo Maia (DEM-RJ) na eleição para a Presidência da Câmara em troca de cargos em comissões, apesar de o PT ter apoiado Marcelo Freixo (PSOL-RJ).

A bancada e os governadores também têm posições diferentes em alguns temas como a reforma da Previdência. Enquanto os parlamentares rejeitam a reforma na esperança de capitalizar politicamente a rejeição popular à proposta, governadores estão preocupados com as finanças estaduais. O governador do Piauí, Wellington Dias, gerou constrangimentos ao colocar o assunto na reunião da Executiva.

Sem acordo
Por fim, existem as históricas divisões e disputas por espaço entre as correntes internas do PT. A reunião do final de semana, que deveria definir um calendário para a eleição da próxima direção, terminou sem acordo.

Haddad e Gleisi travaram uma discussão sobre a viagem da presidente do partido para a posse de Nicolás Maduro, na Venezuela, e as divergências entre os dois, antes mantidas entre quatro paredes, vieram a público, mesmo que ambos tenham trocado afagos durante a festa de aniversário do partido, sábado, na quadra do Sindicato dos Bancários, em São Paulo.

Para superar as divergências, ganhar o protagonismo na oposição a Bolsonaro e se manter como opção de esquerda para ocupar o poder central, o PT decidiu criar os NAPPs e criar um cargo para dar visibilidade a Haddad.

A ideia é que o candidato derrotado à Presidência viaje o Brasil discutindo alternativas para as ações de Bolsonaro. A base vai ser o programa de governo da campanha, coordenado pelo próprio Haddad. As primeiras viagens serão ao Ceará e Piauí. Nos dias 20 e 21 de março, o ex-prefeito vai coordenar um seminário com parlamentares, governadores e demais lideranças do PT, PSB, PC do B e PSOL, em Brasília, para debater e criar propostas alternativas aos planos apresentados pelo governo Bolsonaro para reforma da Previdência e segurança pública.

A ideia é fazer com que a esquerda se aproprie de temas como combate à violência e aos privilégios, hoje nas mãos do governo e seus aliados.



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