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Diário da Amazônia

Raízes do conservadorismo brasileiro

O resultado dos seus cinco anos de pesquisa resultaram no livro “Raízes do conservadorismo brasileiro”, lançado neste mês de junho.

Por Assessoria
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Publicado: 27/06/2017 às 06h30min

Como o Brasil acordou na segunda-feira, 14 de maio de 1888, um dia depois de promulgada o fim da escravidão no país? Como os jornais noticiaram a abolição? Partindo dessas questões, o jornalista e historiador Juremir Machado mergulhou nos arquivos da época e resgatou não só a reação da imprensa, mas também os discursos dos políticos, empresários e jornalistas antes e depois da lei que libertou os escravos, mas não previu nenhuma política de acolhimento nem de inclusão dos negros na sociedade. O resultado dos seus cinco anos de pesquisa resultaram no livro “Raízes do conservadorismo brasileiro”, lançado neste mês de junho pela Civilização Brasileira.

O livro mostra como os discursos e estratégias dos atores sociais da época são semelhantes ao conservadorismo da sociedade brasileira desde então. “O que mais me chamou atenção nesse universo de políticos, fazendeiros, barões do café, jornalistas e outros é o quanto as suas visões de mundo se refletem no agronegócio de hoje, no cinismo dos políticos atuais, na hipocrisia de certos jornais e na insensibilidade com a dor alheia. A retórica conservadora é praticamente a mesma, sempre baseada na chantagem e na disseminação do medo”, afirma Juremir, em entrevista para o blog da editora.

A repressão da polícia ao movimento abolicionista, a justificativa estapafúrdia de que a abolição acabaria com a economia do País, os pedidos infundados de indenização por proprietários rurais e a disseminação de preconceitos contra os negros não foram suficientes para barrar o movimento abolicionista. O autor destaca o papel da imprensa independente e também o papel dos próprios escravos, que costuma ser relegado, na luta pela sua liberdade.

“A abolição foi uma conquista dos negros e dos seus aliados que se deu em três frentes: a rua, o parlamento e a imprensa. Por uma vez na vida, tivemos, em paralelo com a imprensa conservadora, uma profusão de jornais abolicionistas que conseguiram disseminar os valores da abolição numa sociedade de maioria analfabeta. Foi uma façanha. Não houve concessão da Coroa nem abolição por exclusiva pressão inglesa ou por imposição pura da dinâmica capitalista. A luta dos homens e das mulheres foi decisiva para desmontar um discurso de naturalização da escravidão”, ressalta.

O livro traz à tona o papel de abolicionistas menos conhecidos e elogia intelectuais abolicionistas famosos como José do Patrocínio, Joaquim Nabuco e Rui Barbosa. Ao transcrever os discursos dos políticos, mostra como o romancista José de Alencar, que votou contra a Lei do Ventre Livre, era um “conservador renhido, escravocrata convicto, sempre pronto a sofismar em nome da sua crença”.



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