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Diário da Amazônia

Senado relembra 1ª eleição direta no Brasil

Há 120 anos, completados em 1º de março deste ano, o Brasil elegia seu primeiro presidente da República pelo voto direto: Prudente de..

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Publicado: 05/10/2014 às 14h03min | Atualizado 29/04/2015 às 08h16min

Prudente de Moraes enfrentou turbulências antes da posse

Prudente de Moraes enfrentou turbulências antes da posse

Há 120 anos, completados em 1º de março deste ano, o Brasil elegia seu primeiro presidente da República pelo voto direto: Prudente de Moraes, com 83% dos votos. Na época, o escritor Machado de Assis mostrou em crônica que a abstenção na primeira eleição foi elevada.
Os detalhes desse importante momento da história política do Brasil e as curiosidades, reveladas em documentos guardados no Arquivo Senado foram abordados em reportagens produzidas pela Agência Senado, Rádio Senado, Jornal do Senado e está disponível no Portal de Notícias do Senado.
Na rádio, a reportagem especial, de Ricardo Westin, conta que a primeira eleição para presidente teve candidatos demais e eleitores de menos. Em 1894, mais de 200 pessoas foram votadas. A maioria delas, porém, recebeu um único voto. Na época, o eleitorado era minúsculo. As mulheres, os analfabetos e os mendigos não tinham o direito de votar.
A reportagem também relembra os quatro anos de governo de Prudente de Moraes, marcados por sabotagens do antecessor, conspirações do vice e até por um atentado do qual escapou ileso.
A votação de 1894 também é tema de um vídeo da Agência Senado sobre a reportagem que o Jornal do Senado publica nesta segunda-feira na seção Arquivo S.

O cientista político Jairo Nicolau, as historiadoras Dulce Pandolfi e Renata Gava, o ex-ministro do TSE Walter Costa Porto e o jornalista J. Natale Netto mostram o contexto histórico de 1894.

A reportagem de Ricardo Westin revela que “as elites dispunham de dois instrumentos para vencer. O primeiro eram as fraudes. Entre as artimanhas, estavam depositar cédulas extras nas urnas e adulterar as atas com as apurações. O segundo era o Congresso, que organizava as eleições federais”.
As turbulências começaram antes mesmo da posse de Prudente de Moraes. Vindo de Piracicaba (SP), ele não encontrou recepção nenhuma ao desembarcar do trem no Rio. Foi o primeiro sinal de que o presidente Floriano Peixoto não estava feliz por entregar o poder. As hostilidades continuaram. Floriano não quis recebê-lo para tratar da transição, alegando falta de horário na agenda. No dia da posse, não enviou carruagem oficial ao hotel onde o sucessor se hospedava. Prudente teve de alugar uma carroça às pressas para chegar ao Palácio Conde dos Arcos, o Senado. Após o juramento, o novo presidente rumou para o Itamaraty, o palácio presidencial, mas achou o prédio às moscas — aberto, sujo e sem funcionários. Floriano não estava, pois se negara a transmitir o cargo.
“Foi pirraça”, resumiu o jornalista J. Natale Netto, autor de Floriano, o Marechal Implacável (Novo Século). (Agência Senado)

CHEGADA DOS CIVIS AO PODER FOI VISTA COM MAUS OLHOS 

O marechal Floriano não viu com bons olhos a chegada dos civis ao poder. Afinal, foram os militares que em 1889 proclamaram a República. Prudente tinha um currículo respeitável. Havia sido governador de São Paulo e, como senador, presidido a Assembleia Nacional Constituinte. Na primeira eleição presidencial, indireta, em 1891, ficara em segundo lugar — os parlamentares deram vitória ao marechal Deodoro da Fonseca, que meses depois renunciaria e seria sucedido por Floriano, seu vice. Em 1894, o Sul se ensanguentava na Revolução Federalista. Em 1896, explodia a Guerra de Canudos, na Bahia. No primeiro conflito, Prudente costurou o acordo de paz. No segundo, massacrou os revoltosos.

“Prudente não conseguiu grandes feitos econômicos ou sociais. Sua proeza foi pacificar o País. Com ele, encerrou-se a transição da Monarquia para a República e o novo regime se consolidou de vez”, disse a historiadora Renata Gava, diretora do Museu Prudente de Moraes, de Piracicaba.
O presidente tinha um inimigo insuspeito. Era Manoel Victorino, seu próprio vice. Em 1896, Prudente se afastou por causa de uma cirurgia nos rins. Victorino assumiu o poder e foi tomado pela ideia de não devolver o cargo. Trocou ministros e transferiu a Presidência do Itamaraty para o Catete. Ciente da trama, Prudente, que se tratava em Teresópolis (RJ), decidiu voltar de surpresa e Victorino, sem tempo para reagir, não teve opção senão entregar a cadeira presidencial.

Em 1897, Prudente enfrentou a última turbulência. Durante uma cerimônia, um soldado encostou uma pistola em seu peito. O presidente foi rápido e, com a cartola, conseguiu afastar a arma. O soldado, então, sacou uma espada e matou o ministro da Guerra. Prudente saiu ileso. Victorino foi processado como mandante do atentado. Ante a falta de provas, o vice acabou sendo inocentado. (AS)



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