Somos o que lembramos ser

Carrego comigo a frase que dá título a este artigo desde que comecei a me aprofundar nos estudos sobre fotografia. Isso começou mais ou menos quando entrei na universidade de Comunicação e Jornalismo, nos idos 2008.

De lá para cá tirei mais de 400 mil fotos, fiz milhares de reportagens e muito trabalho com marketing, assessoria, campanhas políticas, comunicação institucional, empresarial, entre tantas outras áreas relacionadas. Nessa trajetória algumas imagens marcaram minha vida profissional e me fizeram refletir sobre a função social da fotografia, algo que prezo bastante.

Pensando nisso, relembro esta foto que fiz em 2015, numa das edições do projeto social que organizo, o Retrato Solidário. À direita, a mãe, com mais de 90 anos, e à esquerda, a filha, com quase 80 anos. Esta é a primeira foto das duas juntas, por incrível que pareça.

Extremamente simples e reservadas, as duas entraram timidamente no estúdio fotográfico que montamos na escola pública do bairro remoto. Meio deslocadas e escondendo as mãos, elas me informaram que queriam uma foto juntas.

A princípio sérias, as fotos iniciais viraram imagens de duas estátuas nervosas. Pedi à mãe, então, que mostrasse a todos como fazia com a filha quando ela fazia algo que não devia. Feliz, ela puxou a orelha da filha, que foi pega de surpresa. Pedi para ele segurar mais e aí saiu esse sorriso verdadeiro e lindo, que supera quase todos os sorrisos em fotos que já fiz até agora.

Na época a atividade fazia parte do curso de fotografia que estava ministrando no Senac. Eu e os alunos imprimimos a foto e entregamos para elas (esse é o objetivo do projeto). Perguntei se elas já tinham alguma foto juntas. Foi quando me contaram que nunca haviam sido fotografadas lado a lado, pois nunca tiveram máquina fotográfica, sempre morando no campo e com pouca renda.

Fiquei pensativo e até hoje penso no impacto que a fotografia tem nas pessoas. O que para o fotógrafo pode parecer banal, talvez signifique um registro único em quase um século na história de uma família.

Foi fantástico.

Nas próximas semanas vou relembrar os cliques que mais me deixaram marcas por aqui e espero contar com a participação de vocês enviando sugestões de artigos, perguntas ou recomendações para que eu inclua nos próximos artigos.