Primeiro Porto!
Em 1877, portanto, há 147 anos, o Imperador do Brasil Dom Pedro II, cedeu ao espanhol, Manoel Antônio Parada Carbacho para explorar látex, madeira nobre, caça e pesca uma área de dois milhões de hectares, no vale do rio Ji-Paraná, atual distrito de Calama expandindo-se até Guajará-Mirim alcançando a região central do que é hoje o estado de Rondônia podendo também tirar proveito dos seringais Boa Esperança e Campinas nas confluências do rio Madeira.
O espanhol apresentou um projeto arrojado para uma região, até então, inóspita e desconhecida. Construiu galpões e residências importando material da Filadélfia, Estados e materiais para levantar armazéns onde seriam depositadas as pelas de borracha e caixotes apropriados para exportação de carne de peixes secas ao sol e salgadas, adquirindo no exterior mercadorias para o abastecimento nos seringais.
De um momento para outro, surgiu no meio da selva, à margem direita de quem desce o rio Madeira em direção a Manaus, um povoado com um porto movimentado, sua população se consolidando com gente chegando diariamente em pequenas canoa e embarcações, em busca de dias melhores e promessas e de trabalho duro nos seringais.
As galeotas, navios e chatas tocadas à lenha, lotadas de trabalhadores braçais contratados em Belém do Pará, oriundos do Nordeste, a maioria chegava sem documentos com uma mão na frente e outra atrás, vinham para enfrentar o temido “Cesão” (Malária), que matava sem dó e nem piedade. Os “Arigós” que contraiam a doença durante a viagem de 25 dias, ao falecer delirando com febre e suando frio, sem qualquer assistência, tinham os corpos jogados nas águas barrentas do rio Madeira, ou no caudaloso Amazonas.
A vasta área explorada pelo espanhol tinha como ligação principal os rios Ji-Paraná, Machado, Marmelos e Maici, onde no inicio da exploração cada peão recolhia diariamente entre 50 e 60 quilos de borracha. Outros tantos se dedicavam a caça, pesca a salga dos peixes e couros que eram exportados para Europa e Estados Unidos, sem deixar um centavo para os cofres da Nação.
No inicio do século XX, com a desvalorização da borracha no mercado internacional, acarretando uma crise econômica na região Amazônica, além das disputas fratricidas com as tribos indígenas na área Calama foi levada a estagnação total. Desta história, bonita e interessante ainda restam um velho galpão, abrigando almas penadas, que de quando em vez nas noites de lua cheia soltam gemidos de pavor, provocando arrepios nos pescadores e visitantes.
Há sim! O porto de Calama que ao longo dos anos foi sendo engolido pela erosão recebeu este batismo em homenagem a Palmeira Calamea, por sua vegetação abundante as margens do rio Madeira e de outros em toda área.