É necessário ser apaixonado por novelas, ou não ter muitas opções de canais, para acompanhar religiosamente um folhetim de 170, 180 capítulos.
Essa cansativa duração das produções tradicionais da Globo, RecordTV e SBT se tornou incompatível com o ritmo de vida da maioria das pessoas.
A ampla e diversificada oferta de atrações nos canais pagos e a ficção on demand dos serviços de streaming – como a Netflix, o Now e a Amazon Prime – também desestimulam a intenção de acompanhar por meses uma única trama.
No mesmo período de exibição de uma novela de canal aberto, o telespectador consegue assistir a duas dezenas de séries curtas. Até mais do que isso se ele for do tipo que faz maratonas para consumir os episódios o mais rápido possível.
Há outra desvantagem contra o novelão clássico: a ficção curta da concorrência ganha em inventividade dramatúrgica e relevância. Está em sintonia com as demandas da vida contemporânea.
No campo ideológico, enquanto as novelas ainda lutam contra tabus e o conservadorismo de parte do público, as séries não sofrem censura (ou autocensura).
Algumas delas tornaram-se um retrato às vezes explícito, às vezes metafórico, do melhor e, principalmente, do pior da sociedade.
A novela não vai acabar, obviamente. O gênero faz parte do DNA do brasileiro. Mas perdeu força. Já não desperta aquela sensação desesperadora de quando se perdia um capítulo.
A crise econômica tem ajudado as emissoras de sinal aberto e, consequentemente, a audiência dos folhetins.
Segundo a Anatel, 2 milhões de brasileiros cancelaram a assinatura de TV paga desde o início de 2015 – para a maioria desses telespectadores, restou a boa e velha novela.
Cientes dessa realidade, os canais e seus autores precisam investir em argumentos mais surpreendentes a fim de capturar o interesse do telespectador e prendê-lo ao ferrugento hábito de ver novela todo santo dia, no mesmo horário, por meses e meses.