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Diário da Amazônia

Universidade Suruí pronta para iniciar aulas em 2020

A metodologia envolve aulas teóricas e práticas no ambiente natural de aprendizagem

Por Redação Diário da Amazônia
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Publicado: 23/10/2019 às 08h35min | Atualizado 25/10/2019 às 11h39min

A etnia Surui (Paiter) deve inaugurar uma universidade livre a partir do primeiro trimestre de 2020. A instituição terá diversos cursos de formação com ênfase na cultura indígena, mas será aberta para qualquer pessoa interessada. O projeto está em andamento a cerca de quatro anos e encontra-se na fase final de elaboração de ementas. Entres os cursos a serem oferecidos, filosofia, arquitetura, direito, áreas de saúde com destaque para práticas da medicina tradicional.

A unidade funcionará na Terra Indígena 7 de Setembro (setor rural do município de Cacoal) e terá um núcleo na cidade de Cacoal. O cacique Almir Narayamoga Surui (Doutor Honoris Causa pela Unir – Universidade Federal de Rondônia) disse que o projeto é uma parceria com a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), e que numa fase mais avançada contará também com parcerias com universidades dos Estados Unidos da América, Inglaterra e Suíça. O projeto tem como base uma universidade indígena da Noruega que operaciona com sucesso nesse formato.

A iniciativa é desenvolvida pela Associação Matareilá que entre as funções operacionaliza também como centro de formação, onde são realizadas diversas capacitações para os indígenas.

Metodologia

As disciplinas serão modulares e ocorrerão no ambiente onde possa melhor transmitir a teoria com a prática. As aulas serão negociadas com o professor da disciplina de forma que possa ser escolhido juntamente com os indígenas (que conhecem o lugar) e demais estudantes, o ambiente onde ocorrerão as aulas. “O método é dinâmico é pode ser adaptado de forma que as aulas ocorram facilitando o ensino teórico com a vivência prática”, explicou.

Fases do projeto

O projeto é amplo e será implantado em fases. Num primeiro momento os estudos serão sobre a cultura Paiter, envolvendo aspectos da linguística, religião e outras práticas. Num segundo momento, a universidade oferecerá disciplinas com eixos transculturais, porém a ênfase do ensino e aprendizagem será sempre voltado para a cultura Paiter. Mais adiante, os estudos serão direcionados para o campo das especializações, inclusive mestrados e doutorados. E num quarto momento, a universidade estará aplicando métricas que possam auditar a qualidade do ensino oferecido e os resultados práticos.

Qualidade

Segundo o cacique Almir Suruí não basta oferecer os módulos e ter os certificados ou diplomas. A instituição terá como princípio fornecer conhecimentos que possam ser executados no sentido de promover o desenvolvimento sustentável. “Devemos gerar riquezas de conhecimentos tradicionais aplicados na prática pela nossa comunidade, e que possam somar com estudos teóricos, unindo saberes para criar modelos de desenvolvimento que garantam os ciclos futuros”, explicou o cacique Almir.

Os primeiros módulos já devem iniciar a partir de março e abril do próximo ano, podendo se inscrever, os indigenas ou qualquer pessoa que tenha interesse na temática e no tipo de conhecimentos a serem oferecidos.

Universidade livre

Também chamada de universidade aberta, a universidade livre é um tipo de instituição cuja característica é a liberdade para transferir conhecimentos sem quaisquer registros ou permissões governamentais. Os currículos são elaborados de forma a compor um projeto de ensino e aprendizagem com finalidades específicas.

Outras experiências

A universidade livre surge em meio a vasta experiência da etnia com projetos sociais e ambientais de sucesso. A etnia Suruí é avançada em tecnologia social que é a habilidade de criar produto, método, processo ou técnica para solucionar algum tipo de problema social, atendendo quesitos de simplicidade, baixo custo, fácil aplicabilidade e impacto social comprovado.

Um exemplo é a produção de café orgânico que vem obtendo grandes resultados na qualidade e produtividade. Os indígenas fazem o cultivo em áreas degradas, aliando a recuperação de áreas com produção agrícola. Também são pioneiros em recuperação de áreas com reflorestamento, monitoramento de área via satélite, entre outras iniciativas sustentáveis que garantem o desenvolvimento econômico sem afetar o meio ambiente.



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